O que o oftalmologista precisa saber sobre rosácea?

Abril é considerado o mês da rosácea, por isso é o primeiro assunto que abordaremos de condições que podem ser multidisciplinares na oftalmologia!

Abril é considerado o mês da rosácea, por isso é o primeiro assunto que abordaremos de condições que podem ser multidisciplinares na medicina, principalmente em oftalmologia!

A rosácea é uma desordem crônica que pode se apresentar com manifestações cutâneas e oculares variadas. É mais observada em indivíduos de pele bem clara (fototipos I e II). Indivíduos do norte europeu tem um risco maior. A estimativa de prevalência nesses é de 1 a 10%. Adultos acima dos 30 anos são mais afetados, assim como mulheres.

Em adolescentes a rosácea pode ocorrer e se confundir com a acne vulgaris. Em relação aos fatores de risco, existe a associação de obesidade, história de tabagismo e consumo de álcool aumentado.

médico segurando estetoscópio, mãos em foco, para tratar rosácea

Rosácea e manifestações oculares

O envolvimento da pele ocorre primariamente na região central da face com eritema centrofacial persistente, pápulas, pústulas, flushing, telangiectasia e alterações ditas fimatosas (como o rinofima, que é uma inflamação crônica dos tecidos do nariz, caracterizada por hipertrofia e hiperplasia progressivas das glândulas sebáceas e do tecido conjuntivo). As alterações fimatosas acontecem principalmente em homens.

O envolvimento ocular se manifesta com injeção conjuntival, irritação ocular e telangiectasias da margem palpebral. A patogênese não é bem entendida, mas fatores que contribuem são anormalidades na imunidade inata, reações inflamatórias a microrganismos cutâneos, dano ultravioleta e disfunção vascular.

Veja também: Quais as possíveis manifestações oculares relacionadas ao novo coronavírus?

A classificação de 2002 estabeleceu quatro subtipos diferentes de rosácea: eritematotelangiectásica, papulopustular, fimatosa e rosácea ocular. Os achados clínicos de acordo com os subtipos são:

  • Eritema centrofacial: eritema no nariz e bochechas, podendo envolver orelhas, lateral da face, pescoço, couro cabeludo e peito;
  • Alterações fimatosas: hipertrofia tecidual que se manifesta como espessamento da pele com contornos irregulares, que envolve principalmente o nariz (rinofima) mas pode ocorrer no mento (gnatofima), a testa (glabelofima) e as bochechas. Geralmente os pacientes que o desenvolvem tem hiperplasia sebácea e pele oleosa;
  • Pápulas e pústulas: principalmente localizadas na face central. Podem ser confundidas com acne vulgaris;
  • Flushing: pode vir junto com sudorese ou não. Pode ser associado com edema facial súbito e transitório. Pode haver sensação de queimação;
  • Telangiectasia: vasos sanguíneos cutâneos alargados e visíveis principalmente na face central e bochechas;
  • Rosácea ocular: o envolvimento ocular ocorre em mais de 50% dos pacientes com rosácea. Ela pode preceder (20%), ocorrer após os achados cutâneos (50%) ou de forma concomitante (30%). Manifestações que a sugerem fortemente são telangiectasias da margem, injeção conjuntival interpalpebral, infiltrados corneanos em forma de pá, esclerite e escleroceratite. Os pacientes também podem ter ardência, fotofobia e sensação de corpo estranho e podem desenvolver calázio, conjuntivite, crostas nas pálpebras e irregularidade da margem (associadas à blefarite/meibomite) e disfunção lacrimal evaporativa.

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Diagnóstico

O diagnóstico é clínico, baseado em fenótipos diagnósticos e critérios maiores e menores. Pelo menos um fenótipo diagnóstico ou dois critérios maiores são necessários para o diagnóstico.

Fenótipos diagnósticos:

  • Eritema centrofacial fixo que pode por vezes se intensificar;
  • Alterações fimatosas.

Fenótipos maiores:

  • Pápulas e pústulas;
  • Flushing;
  • Telangiectasia;
  • Manifestações oculares.

Fenótipos menores:

  • Queimação ou ardência;
  • Edema;
  • Aparência seca da pele.

Os fatores que exacerbam os sinais são o consumo de álcool, exposição a extremos de temperatura, exposição ao sol, bebidas quentes ( com exceção do café, que tem propriedades vasoconstrictoras e imunossupressoras que teoricamente inibiriam a rosácea), comidas apimentadas, exercício, irritação associada a produtos tópicos, aspectos psicológicos (raiva, vergonha,etc), drogas como ácido nicotínico e vasodilatadores e quebra da barreira da pele.

A rosácea pode estar associada a outras doenças como: doença celíaca, doença de Crohn, retocolite ulcerativa, síndrome do intestino irritável, dislipidemia, doença arterial coronariana, hipertensão, câncer de tireoide e carcinoma de células basais, glioma, doenças autoimunes como DM tipo 1, esclerose múltipla e artrite reumatoide.

Mais da autora: Efeitos oftalmológicos do uso de cloroquina e hidroxicloroquina

Take-home message

O oftalmologista deve estar sempre atento à pacientes com blefarite e alterações da margem palpebral que tenham alterações de pele que possam ser compatíveis com Rosácea. Esses pacientes devem ser encaminhados ao dermatologista para diagnóstico, acompanhamento e tratamento sistêmico da doença.

Referência bibliográfica:

  • Mark V Dahl. Rosacea: Pathogenesis, clinical features, and diagnosis. Uptodate.

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