O que pensam os profissionais de Medicina sobre o Jejum Intermitente?

O jejum intermitente tem sido disseminado por alguns profissionais, mas faltam estudos a longo prazo. Quais os benefícios e males causados por essa dieta?

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Você já deve ter ouvido falar de jejum intermitente, não é mesmo? A nova dieta da vez é marcada por períodos de privação de alimentos, com reduzida ou nenhuma ingestão energética, intercalados por períodos de consumo normal. O assunto está tão polêmico que foi abordado na palestra inaugural do XVIII Congresso Brasileiro de Obesidade e Síndrome Metabólica da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade  e da Síndrome Metabólica (ABESO) por uma das principais referências no tema, o Dr. Eric Ravussin, Ph.D., pesquisador e professor da Louisiana State University, autor de mais de 500 artigos sobre obesidade e diabetes, editor do periódico Obesity.

O Dr. Eric apresentou bons resultados de um tipo específico de jejum intermitente, a eTRF, alimentação restrita ao início do dia. Nela, a quantidade de calorias que deveriam ser ingeridas ao longo do dia são concentradas em um período mais curto. Grande pesquisador da restrição calórica, ele comprova seu benefício no tocante ao aumento da eficiência energética, da longevidade, com redução do ritmo de envelhecimento e do dano oxidativo.

Para quem defende são muitos benefícios…

Estudos observacionais realizados em uma cidade japonesa, mostrou que uma amostra da população que comia menos alimentos que a população geral japonesa registrava menos taxas de morte por doença cardiovascular, cerebrovascular e neoplasias. A fisiopatologia por detrás dessa hipótese estaria no ritmo metabólico e dano oxidativo. Os benefícios de sacrificar 30% da ingesta calórica diária seria mais importante na juventude, com ganhos que podem chegar a 4 ou 5 anos a mais de vida. Porém, a restrição calórica já na terceira idade não promove tanto ganho. 

Saiba mais sobre o tema: Jejum intermitente X dieta hipocalórica

Dr. Eric realizou outro estudo piloto, publicado em 2018, para analisar os efeitos metabólicos da restrição alimentar. Oito homens pré-diabéticos fizeram as três refeições do dia em seis horas por cinco semanas (café da manhã entre 6:30 e 8 horas e “jantar” às 13 h). Observou-se melhora da sensibilidade à insulina, a responsividade das células B, a pressão arterial e redução do estresse oxidativo. Não há ensaios clínicos com grandes amostras para comprovar hipóteses, apenas estudos observacionais. Porém, Dr Eric está animado com os dados preliminares.

Temos uma grande defensora dessa dieta aqui no Brasil. A Dra. Bibiana Prada de Camargo, endocrinologista da Universidade Estadual Paulista (UNESP), em Botucatu. Ela afirma que os estudos ainda são preliminares para indicar aos pacientes, porém, ela está confiante nos efeitos observados de perda de peso, maior sensibilidade insulínica, diminuição da glicemia de jejum e melhora dos marcadores cardiometabólicos, como colesterol e triglicerídeos. 

Então, só há benefícios? 

O Dr. Eric adotou esse regime alimentar antes mesmo de qualquer comprovação de benefícios ou riscos. Inicialmente, em 2005, fazia jejum de 24 horas em dias alternados, porém o impacto na vida social foi muito grande. Ele resolveu ajustar sua dieta para dias comendo tudo que desejava e dias com restrições calóricas de 30%, 50% e 60%. Atualmente, ele não toma mais café da manhã. De acordo com ele, não haveria efeitos deletérios. 

Essa teoria do Dr Eric foi rapidamente questionada por inúmeros estudos, que tão prontamente começaram a condenar essa conduta de pular o café da manhã. Esse hábito foi relacionado ao aumento do risco de: 

  • Doença cerebrovascular;
  • Aumento dos níveis de colesterol;
  • Diabetes ou resistência insulínica; 
  • Obesidade; 
  • Déficit cognitivo em crianças; 
  • Hipertensão arterial.
  • Doença coronariana.

Em um editorial publicado no periódico Journal of the American College of  Cardiology, os Drs. Borja Ibáñez e Juan M. Fernández-Alvira apresentaram evidências convincentes da relação entre perfis cardiometabólicos deficientes e padrões irregulares de alimentação, principalmente, deixar de tomar o café da manhã. Estudo prospectivo de coorte de 6550 adultos de 40 a 75 anos de idade demonstrou relação entre os que não consumiam o desjejum matinal e taxa de mortalidade por doença cardiovascular (razão de risco de 1,87, IC 95% de 1,14 a 3,04). Os resultados sustentam os benefícios do café da manhã na saúde.

Afinal, posso fazer ou não o jejum intermitente? 

Apesar do alerta emitido pela Associação Brasileira de Nutrição (Asbran) quanto a inexistência de dados suficientes que advoguem sua prescrição, muitos nutricionistas tem orientado e defendido o jejum intermitente. 

Preocupada com a disseminação dessa prática sem qualquer estudo de longo prazo publicado, Dra. Alicia J. Kowaltowski, pesquisadora do tema no Instituto de Química da Universidade de São Paulo (IQ-USP), informa que resultados obtidos a partir de modelos animais apontam efeitos negativos a longo prazo, como destruição de células beta. 

Para ela, não é nem um pouco razoável adotar restrições específicas de tempo sem comer, quando já é comprovado o benefício a curto e longo prazo de alimentação consciente com moderação ao longo do dia. 

 

Referências: 

  • Tabakman R. Efeitos metabólicos do jejum https://portugues.medscape.com/verartigo/6503526#vp_3

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