O que sabemos sobre a função visual no paciente autista?

Este mês, no dia 18, foi comemorado o Dia do Orgulho Autista, por isso, vamos falar da parte oftalmológica, da função visual, desses pacientes.

O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é um transtorno do desenvolvimento neurológico, caracterizado por dificuldades de comunicação e interação social e pela presença de comportamentos e/ou interesses repetitivos ou restritos. Este mês, no dia 18, foi comemorado o Dia do Orgulho Autista, por isso, vamos falar da parte oftalmológica desses pacientes.

paciente autista com as mãos no rosto antes de consulta sobre função visual

Função visual no autista

Nos últimos anos foram publicados alguns estudos investigando as funções visuais superiores e aspectos da percepção visual em pacientes autistas. Isso pode ser importante para contribuir para a compreensão das questões perceptivas, pois elas influenciam diretamente nas principais características comportamentais que descrevem e definem o TEA.

Outros estudos relatam capacidade aprimorada em visualização de imagens, sendo menos suscetíveis a ilusões visuais e tendo melhor desempenho na tarefa de encontrar objetos ocultos dentro de padrões. A maioria dos estudos demonstrou comprometimento relativo no reconhecimento das emoções faciais, especialmente com o aumento da complexidade.

O consenso geral é que indivíduos com TEA veem o mundo de maneira diferente, possivelmente devido ao processamento global. Uma metanálise que avaliou 56 estudos que investigam o processamento local e global relatou que, em vez de um déficit geral na organização perceptiva, indivíduos com TEA precisam de mais tempo para realizar tarefas globais e preferem usar o processamento local enquanto indivíduos típicos não o usariam.

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Um revisão publicada em 2018 se concentrou no conhecimento atual de aspectos clinicamente relevantes da função visual no TEA. O primeiro ponto importante é que crianças com TEA parecem ter acuidade visual normal em todos os estudos avaliados. Em outros distúrbios do desenvolvimento neurológico, a baixa visão é um achado comum. Em relação a sensibilidade ao contraste, alguns estudos não encontraram diferença nos limiares enquanto outros sim.

No entanto, estudos eletrofisiológicos parecem mostrar uma concordância significativa ao relatar funções reduzidas. Eles relataram redução do contraste ao conteúdo de frequência espacial média no TEA em comparação com os controles. O grupo de pacientes autistas comparado com os controles pareados por idade também sugeriu que crianças com TEA tenham uma trajetória de desenvolvimento diferente para a maturação e o refinamento do desempenho em contraste.

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Os erros refrativos também foram avaliados e esses estudos indicam que os erros de refração são mais comuns no autista e, particularmente, há aumento dos casos de astigmatismo. Alguns estudos também descreveram padrões atípicos de movimento ocular demonstrados por indivíduos com TEA. Embora esses estudos forneçam alguma evidência de alterações de movimento ocular no autismo e seu potencial como biomarcador, existem inconsistências nos achados. Ainda não está claro se as intervenções e treinamento melhorariam esses déficits, ou se os circuitos cerebrais subjacentes determinam alterações persistentes de movimento ocular.

A visão binocular enriquece nossas informações visuais dando nos a profundidade, posição e tamanho relativo. Requer integração sensorial e motora, sendo necessário o alinhamento preciso dos olhos para garantir que uma imagem visual “única” seja percebida. Os músculos extraoculares produzem movimentos de vergência que controlam isso. No entanto, no desenvolvimento visual da infância, pode surgir estrabismo, o que interrompe o alinhamento paralelo dos olhos. Ocorre comumente em conjunto com as ametropias, a anisometropia e a ambliopia.

Nesse estudo, feito em uma população de um grupo de 124 crianças autistas, revelou que 9% tinham estrabismo manifesto, em comparação com 1,5% dos controles, quando avaliados com teste de cobertura de prisma por um pesquisador clínico experiente.

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Diversos estudos referem que os dados indicam que enquanto muitas crianças autistas experimentam visão binocular normal, existe um padrão de déficits visomotores sutis relacionados a estereocuidade, acomodação e ponto próximo de convergência. Esses achados, juntamente com respostas atípicas da pupila e movimentos dos olhos, significam que deve ser dada uma atenção cuidadosa a avaliação da função e da binocularidade.

Emberti-Galleto et al examinaram a espessura da camada de fibras retinianas da retina (RNFL) usando tomografia de coerência ocular (OCT) em um grupo de adultos com TEA e síndrome de Asperger (n=11) e encontraram uma redução no RNFL ao redor da cabeça do nervo óptico.

A eletrofisiologia também fornece informações valiosas sobre a função retiniana. Trabalhos recentes de Constable et al. demonstram achados precoces de ondas b de eletrorretinograma reduzido no TEA. Eles examinaram a função retiniana em 11 indivíduos com TEA em condições adaptadas à luz e à escuridão e compararam com controles. Eles encontraram amplitude reduzida da onda b sob condições adaptadas à luz. Outros estudos eletrofisiológicos visuais, juntamente com os avanços na imagem OCT, podem oferecer um meio para detectar alterações estruturais e sinápticas estruturais em distúrbios genéticos.

Conclusão

Esta revisão reuniu diferentes aspectos da pesquisa relacionados à visão no autismo e, embora existam muitas lacunas, sabemos que esse paciente exige exames oftalmológicos abrangentes para garantir que o erro de refração seja corrigido e as alterações oculomotoras sejam identificadas e gerenciados.

O diagnóstico do autismo é um caminho complexo, que atualmente permanece dependente da contribuição parental em relação aos comportamentos e da observação de uma equipe clínica. Quem sabe o sistema visual possa ser, no futuro, parte da experiência diagnóstica.

Este texto faz parte de nossa série de doenças interdisciplinares na oftalmologia! Veja também:

Referência bibliográfica:

  • Little, Julie-Anne. Vision in children with autism spectrum disorder: a critical review. Clinical and Experimental Optometry. 2018.

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