O que são os transtornos de personalidade?

A personalidade diz respeito aos fatores relativos à vivência interna (pensamentos e sentimentos) e à capacidade de adaptação de uma pessoa.

A personalidade diz respeito aos comportamentos e fatores relativos à vivência interna (pensamentos e sentimentos) e à capacidade de adaptação de uma pessoa. Diz respeito, portanto, ao afeto, à cognição e à forma como um indivíduo se relaciona com seus impulsos e com as outras pessoas. Eventualmente algumas características podem ser observadas já na infância, mas é na adolescência ou no início da fase adulta que costuma estar constituída, apresentando estabilidade ao longo da vida. Quando os traços de uma personalidade se desviam daquilo que é culturalmente esperado, são mal adaptativos, rígidos, inflexíveis e causam sofrimento ou prejuízo, podemos dizer que estamos diante de um transtorno de personalidade.

Leia também: Transtorno de personalidade borderline: como diagnosticar

Pessoa com transtornos de personalidade

Diagnóstico

Fazer o diagnóstico de um transtorno de personalidade pode ser algo bastante complexo, necessitando de uma avaliação a longo prazo. Isso se dá porque um transtorno de personalidade pode ser confundido com uma condição transitória, outros diagnósticos psiquiátricos ou podem ocorrer em resposta a algum evento. A dificuldade aumenta quando se percebe que alguns traços não são considerados como problemáticos pela própria pessoa. Outro grande desafio é entender o contexto sociocultural em que o indivíduo está inserido.

O profissional de saúde deve entender que este diagnóstico e seu manejo têm implicações muito maiores do que classificar seres humanos nas caixinhas dos transtornos mentais. Contudo, a literatura descreve que pessoas com perturbações da personalidade podem apresentar transtornos mentais com maior frequência, incapacidade em algumas áreas da vida e maior morbimortalidade. Elas tendem a apresentar um funcionamento ou comportamento cujas consequências são deletérias e ainda assim repeti-los, evidenciando uma dificuldade de adaptação e na capacidade de variar seu modo de agir e pensar. Como muitos pacientes não encaram algumas de suas questões como algo que possa ser discutido ou trabalhado, nunca procuram ajuda ou atendimento especializado. Isso também justifica por que este artigo pode ser útil para os profissionais de saúde na tarefa do encaminhamento.

A etiologia é supostamente diversa e multifatorial, abrangendo fatores genéticos, biológicos (como hormônios, alterações na neurotransmissão, dentre outros), sociais e psicodinâmicos. Contudo, há alguns tipos de transtornos que são mais estudados do que outros e que possuem uma melhor descrição de possíveis fatores desencadeantes. Como o objetivo deste artigo é dar uma noção geral sobre o tema, não vamos nos aprofundar neste assunto.

Classificação

Estes transtornos são divididos em 3 grupos (ou clusters): A (das personalidades consideradas “excêntricas” ou “esquisitas”), B (das personalidades “dramáticas”, “emotivas” e “erráticas”) e C (das personalidades “medrosas” ou “ansiosas”). Uma pessoa pode exibir traços de mais de um tipo de personalidade, sem necessariamente fechar os critérios diagnósticos para um ou mais tipos de personalidade. Há outros tipos também, como personalidade depressiva, passivo-agressiva, sádica, etc., mas vamos nos ater nos três grupos descritos no DSM, resumindo brevemente algumas das características de cada um.

Grupo A

Começando pelo grupo A observamos 3 tipos de personalidade. A paranoide possui como grande característica a suspeita e a desconfiança em relação às outras pessoas, sem que haja evidências que sustentem esse comportamento. A partir daí podem ter problemas para se relacionarem com outras pessoas. Na esquizoide os pacientes tendem a não possuir muito interesse em desenvolver relações com outras pessoas, além de não haver muita expressão emocional. Preferem ficar sozinhos e desenvolver atividades solitárias. Já na personalidade esquizotípica, os indivíduos também costumam apresentar problemas de relacionamento, mas outro componente que chama a atenção nestes casos é a excentricidade, que pode se manifestar na forma de pensamento mágico (como superstições, fenômenos paranormais, crenças fantasiosas, etc). Podem também apresentar alterações na percepção.

Grupo B

No grupo B há 4 tipos de personalidade. A personalidade antissocial também pode ser referida como “psicopatia”. É marcada pelo desrespeito e pouca consideração pelos direitos das outras pessoas, indiferença e falta de empatia. Essas pessoas podem também apresentar falsidade, mentiras e manipulação, o que torna sua avaliação mais desafiadora. De maneira especial este diagnóstico só é possível em pessoas com mais de 18 anos, apesar de os sintomas de um transtorno de conduta estarem presentes pelo menos desde os 15 anos (mas podem ser observados antes disso também). É possível que tenham que enfrentar as consequências de um comportamento irresponsável e problemas legais. Também podem não demonstrar remorso por suas atitudes ou mesmo minimizá-las. Não é incomum que assumam uma atitude arrogante, autoconfiante ou convencida, mas também charmosa e sedutora. Apesar do caráter crônico dos transtornos de personalidade, em algumas pessoas suas características podem se tornar menos evidentes com o passar do tempo.

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O segundo transtorno desse grupo também é um dos mais conhecidos e estudados na clínica psiquiátrica: o transtorno de personalidade borderline. Ele é marcado por uma instabilidade nos afetos, nas relações e na autoimagem, além de impulsividade importante. Geralmente são muito sensíveis ao ambiente e à rejeição (por medo do abandono) e podem alternar entre a idealização e a desvalorização de outras pessoas. A impulsividade pode estar associada à atitudes autodestrutivas, com destaque para a automutilação e ideação suicida, mas também uso abusivo de substâncias ou comportamento sexual de risco. Além disso, seu humor pode ser instável e irritável. Geralmente são muito sensíveis ao estresse, podendo chegar a manifestar alguns sintomas dissociativos, paranoides ou psicóticos quando pressionados. Outra característica marcante é a sensação de vazio que podem experimentar.

Na prática, podemos perceber que essas pessoas comumente se envolvem em situações de “autossabotagem”. Uma parcela desses pacientes pode deixar de preencher todos os critérios para o transtorno conforme envelhece, permanecendo alguns traços que não mais fecham o diagnóstico. A terceira do grupo é a personalidade histriônica, marcada pela busca por atenção, tendência a comportamentos dramáticos e grande emotividade. Tendem a ser sugestionáveis e podem ter atitudes sedutoras e manipuladoras. Finalmente, a personalidade narcisista. Pessoas com predomínio desse padrão de personalidade são marcados pela necessidade de se sentirem admirados, por seu senso de grandiosidade e por serem pouco empáticos. Além de se acharem de certa forma superiores ou mais importantes, esperam que os outros o/a reconheçam como tal, além de estarem envolvidos em fantasias de grandeza. São sensíveis ao sentimento de derrota ou às críticas.

Grupo C

Finalmente, no grupo C, encontramos 3 tipos de personalidade. A primeira é a evitativa, marcada pelo sentimento de inadequação, inibição social e grande sensibilidade às críticas e à rejeição. Justamente por terem tanto medo de não serem aceitos podem evitar certas situações ou pessoas, podendo assumir uma postura tímida e quieta. Podem apresentar baixa autoestima e problemas na socialização e na área profissional, apesar de desejarem companhia. A seguir vem a personalidade dependente, cujas principais características são o apego, a submissão, a necessidade de ser cuidado e o medo da separação. Essas pessoas podem se achar incapazes de funcionar sem ajuda e podem apresentar dificuldade para tomar decisões, sempre buscando conselhos e reasseguramento. Tendem a assumir uma postura passiva em relação a áreas importantes da vida e não costumam manifestar reações que discordem dos outros. Isso pode levá-los a estados ou situações profundamente desagradáveis, das quais podem ter dificuldade de sair, já que temem ficar sozinhas e não conseguirem se cuidar.

O último tipo é a personalidade obsessivo-compulsiva, marcada pela ordem, perfeccionismo, controle, baixa flexibilidade, pouca abertura e eficiência. São atentos aos detalhes e regras, podendo tornar-se repetitivos e críticos (inclusive em relação a si mesmos) e possuir tendência à acumulação. Por todas essas razões, é compreensível que tenham dificuldade em delegar tarefas, assumindo também características rígidas e teimosas, sendo pouco abertas às mudanças.

Os diagnósticos diferenciais variam conforme cada tipo de personalidade, mas geralmente dizem respeito a outros transtornos de personalidade, outras condições psiquiátricas (ex: transtorno depressivo, quadros ansiosos, transtorno obsessivo-compulsivo, transtorno do espectro autista, quadros psicóticos, uso de substâncias, etc) e alterações orgânicas, como quadros neurológicos.

Mensagem final

Cabe mais uma vez lembrar que aqui estão representadas apenas algumas características de tipos de personalidade relatadas na literatura, pois suas descrições são mais complexas do que aqui está resumido. Eventualmente todas as pessoas podem apresentar um ou outro traço aqui descrito, mas para realizar o diagnóstico, é necessário que um somatório de outras características esteja presente, de determinada maneira, ao longo de certo tempo e que causem algum impacto importante na vida dessas pessoas ou daqueles que o rodeiam. Portanto, o diagnóstico é clínico e exige bastante do profissional de saúde mental, uma vez que este tema gera debates e questionamentos entre os especialistas na área. Por isso é necessário cuidado e responsabilidade na repercussão e no impacto que uma suspeita diagnóstica como essa possui na vida das pessoas e seus familiares. Este breve resumo visa apenas ter um caráter informativo, que pode ser de auxílio para os profissionais da saúde que lidam diretamente com pessoas, estimulando-os a buscar por mais conhecimento e, quando necessário, encaminhar os pacientes para um especialista em saúde mental.

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Referências bibliográficas:

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