O que você precisa saber sobre cirurgia em epilepsia? [Purple Day]

Pessoas com epilepsia focal resistente a medicamentos podem se beneficiar da remoção ou desconexão de uma região circunscrita do cérebro. Saiba mais

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Imagine que exista um procedimento que, após realizado, seja capaz de levar 50 a 80% dos pacientes a ficarem livres de crise por longos períodos? Mas será que esses resultados se aplicam a todos os pacientes? Quem pode se beneficiar? Um médico isoladamente pode indicar o procedimento?

As dúvidas acima são comuns até entre especialistas, fazendo com que o tratamento cirúrgico seja subutilizado ou pacientes encaminhados tardiamente.

As razão são muitas: equívocos e medos (por exemplo, visão ambígua sobre farmacorresistência, desconhecimento das opções cirúrgicas, pontos de vista negativos sobre as chances de estar livre de crise, medo de riscos e de alterações de personalidade relacionadas à cirurgia) ou ainda por poucos recursos ou pouca perícia.

Então, no artigo de hoje, vamos entender um pouco mais do tema

Quais são os benefícios da cirurgia?

Risco reduzido de lesão ou morte prematura, oportunidade de dirigir, maior independência e talvez melhores oportunidades laborais (dada a dificuldade e, às vezes, até incapacidade de trabalhar em pacientes com epilepsia refratária, uso de múltiplas medicações com seus efeitos colaterais e estigma/medo da crise em ambiente de trabalho), além da redução do número de medicamentos e os benefícios advindos por isso, pois a cirurgia parece ser custo-efetiva e melhor do que o melhor tratamento médico em termos de controle de crises e qualidade de vida.
Ora pois, assim sendo, vamos fazer em todos? Não, calma.

Como decidir se o paciente é candidato à cirurgia?

Pessoas com epilepsia focal resistente a medicamentos podem se beneficiar da remoção ou desconexão de uma região circunscrita do cérebro para obter controle total ou parcial das crises. Epilepsia resistente a FAE é definida como a falha de dois fármacos antiepilépticos escolhidos apropriadamente e tolerados, usados em monoterapia ou em combinação, em deixar o paciente persistentemente livre de crises.

Mas só isso não basta. Diante deste cenário, há que se analisar uma série de dados adicionais antes da cirurgia, o que é feito em centros especializados.

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A seleção dos candidatos requer a análise por equipe multidisciplinar de questões psiquiátricas e semiologia da crise aliado à interpretação de exames apropriados, para definir o mais precisamente possível a área epileptogênica, estimar os riscos de déficits pós-cirúrgicos e prever desfechos.

Estes exames incluem:

  1. Testes neuropsicológicos;
  2. EEG e Video-EEG;
  3. RM estrutural;
  4. RM funcional (fMRI), PET-CT fluor-fluorodesoxiglicose (¹⁸F-FDG), tractografia, magnetoencefalografia.

São importantes para localizar a área epileptogênica, lateralizar a linguagem ou área cortical eloquente, podem ajudar a lateralizar a função da memória na epilepsia do lobo temporal mesial, ou ainda diagnosticar CNEPs. A detecção de hipometabolismo temporal unilateral em um indivíduo com epilepsia focal foi mostrado como fator preditivo independentemente de um bom resultado cirúrgico.

A magnetoencefalografia foi relatada como sensível e específica na localização do foco epileptogênico em pessoas com epilepsia focal, incluindo aqueles com uma ressonância magnética normal, porém o custo limita seu uso. A disfunção é avaliada por gravações em vídeo-EEG, que ajudam a identificar a zona de ataque de crises através da análise de semiologia e padrões de EEG ictal.

A eficácia da cirurgia depende, portanto, da patologia subjacente, localização da zona epileptogência e seu delineamento preciso e do desempenho da intervenção neurocirúrgica.

E quais são os riscos?

Os riscos e complicações incluem aqueles inerentes às intervenções neurocirúrgicas (isto é, danos cerebrais não intencionais devido a hemorragia ou infecções) e riscos relacionados com a remoção específica do tecido cerebral (por exemplo, déficits de memória por causa da ressecção parcial do lobo temporal parcial). Razões para a recorrência de crises após a cirurgia são múltiplas e incluem falsa localização ou remoção incompleta de zona epileptogênica, ou a progressão da doença.

Uma segunda operação após reavaliação leva à melhora sustentada em alguns. Cirurgia paliativa com o objetivo principal de reduzir a gravidade ou freqüência de crises pode ser feita em alguns – calosotomia ou remoção do principal gerador de convulsões – reduzindo a frequência de crises incapacitantes com quedas recorrentes.

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Referências:

  • Thijs DR, Surges R, O’Brien TJ. Epilepsy in adults. The Lancet Neurology. VOLUME 393, ISSUE 10172, P689-701, FEBRUARY 16, 2019.

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