A oncologia evoluiu muitos nos últimos anos, ela trouxe, através da medicina de precisão, a esperança para diversas pessoas que antigamente eram fadadas a aceitar seu trágico prognóstico. Entretanto as medicações oncológicas estão longe de estarem livres de efeitos colaterais, e o coração parecer ser um alvo em especial dessa classe de medicamentos. Um estudo levantou todas as drogas que estavam relacionadas à indução de prolongamento do intervalo QT, torsade de pointes e arritmias ventriculares de acordo com o Dicionário Médico para Atividades Regulamentares que foram inseridos no banco de dados de farmacovigilância global da Organização Mundial da Saúde de novembro de 1967 a janeiro de 2019.
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Metodologia
Foi utilizado uma análise de desproporção entre as 663 moléculas anticâncer com as 20222 drogas do banco de dados (grupo controle) para avaliação a real proporção das alterações elétricas do coração. Foram realizadas comparações entre os rótulos dos produtos da Food and Drug Administration (FDA), CredibleMeds e VigiBase ao avaliar o risco de arritmias cardíacas de terapias anticâncer.
Foram reportados 42.462 eventos, com um impressionante aumento em tempos mais recentes (de 580 eventos entre 1967 e 1983 para 15.070 eventos de 2014 a 2018!). A proporção dos eventos pelas drogas anticâncer subiu de 0,9% (5/580) para 14% (2.115/15.070). Dentre os quimioterápicos, 40 foram relacionados ao prolongamento do intervalo QT e 27 também foram relacionas a morte súbita e arritmias ventriculares. Além disso 9 drogas foram associadas a arritmias ventriculares e morte súbita sem prolongarem o QT. Foram 2.301 eventos envolvendo essas drogas, sendo 13,8% fatais.
A drogas mais relacionadas aos eventos são os inibidores da tirosina quinase, seguidos dos agentes citotóxicos, hormonioterapia, imunoterapia, 20% dos eventos foram causados por drogas que não compunham essas classes. As drogas que mais estiveram, especificamente, relacionadas aos eventos foram o vandetanib para QT prolongado, trióxido de arsênico para torsade de pointes e amsacrine para arritmias ventriculares. Em 86% dos casos de QT longo, apenas droga oncológica pode ser culpada como medicamento, porém alguns pacientes possuíam condições clínicas que poderiam favorecer tal achado, como infecção, insuficiência e isquemia cardíaca.
Resultado
Por fim pode-se concluir que desde a inserção do VigiBase o número de eventos arrítmicos, fatais ou não, relacionados a medicamentos contra o câncer cresceu consideravelmente. Há discrepância entre os dados dos rótulos do FDA e do CredibleMeds em relação ao VigiBase, mostrando que esses medicamentos podem causar mais arritmia do que realmente é relatado. Esses dados são importantes para estratificar o risco de arritmias induzidas por essas drogas e auxiliar no tratamento anticâncer mais seguro.
Referências bibliográficas:
- Salem JE, Nguyen LS, Moslehi JJ, et al. Anticancer Drug-Induced Life-Threatening Ventricular Arrhythmias: A World Health Organization Pharmacovigilance Study. Eur Heart J. 2021;42:3915-3928. doi: 10.1093/eurheartj/ehab362