O suicídio: como podemos combatê-lo?

Vamos à algumas possíveis medidas de enfrentamento e intervenção que podem ser realizadas pela equipe de enfermagem na prevenção ao suicídio.

O sofrimento é algo que pode ser considerado insuportável e interminável para algumas pessoas. Essas consideram que não há mais beleza na vida, ou que o sofrimento provoca sentimentos que são negativos na maioria do tempo, fazendo com que as pessoas se sintam sem luz, sem vida, sem desejo ou objetivos, principalmente sem alegria. Essas condições levam pessoas a não suportarem sua existência e por isso, caminham em direção ao suicídio

Ao contrário do que se pensa, a decisão de dar fim à própria vida, não é algo fácil. Sendo um processo longo e quase sempre solitário. Muito embora, pessoas que cometem suicídio, muitas vezes, tentam saídas para o sofrimento. Muitas vezes, a busca de ajuda é negligenciada pela sociedade. Hoje, no Brasil, tornou-se um problema de saúde pública, sendo importante dizer que na maioria dos casos, há possibilidade de tratamento.

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O suicídio: como podemos combatê-lo?

Atuação da enfermagem no combate ao suicídio

Vamos tratar de compreender e lidar com maneiras de lidar com a dor e sofrimento para que não haja complicações que levem as pessoas a buscarem o suicídio. No entanto, temos que nos atentar cada vez mais, uma vez que já é sabido que o mundo sofreu graves mudanças nos últimos tempos com a pandemia causada pelo vírus Sars-Cov-2. A Covid-19 gerou vários impactos, dentre eles, o aumento do sofrimento psíquico causado pelo adoecimento, pela morte de entes queridos, sequelas causadas pela doença e outros problemas como o desemprego e desesperança. Dentre as consequências mais terríveis da pandemia temos o suicídio. Os problemas que mais aparecem atualmente ligados ao suicido de acordo com a literatura se ligam a depressão, o medo de contrair a doença e a dificuldade financeira¹. 

É fato que o suicídio esta presente na sociedade desde o começo dos tempos, no entanto, atualmente, há novos contornos relacionado a motivação para tal ato. Hoje, além das questões que podem provocar vulnerabilidade à saúde mental das pessoas, como já citado, há ainda outras questões do cotidiano que levam ao aumento dos indicadores como a mídia, o uso da internet e das redes sociais. A adequação a padrões pré-estabelecidos pela mídia, o excesso de informação que pode haver na internet sem o devido filtro e a lógica atual do cancelamento presente nas redes sociais possuem relação direta com a questão do aumento das vulnerabilidades². O assunto toma importância na medida que especialista aponta possibilidade de aumento dos casos de suicídio pós pandemia. Sendo assim, o que podemos fazer? 

 Fatores de risco de suicídio, assim como aqueles que se relacionam com doenças que podem gerar o ato, como a depressão. As estratégias devem ser pensadas em equipe e planejadas para o território. Alguns grupos de vulnerabilidades merecem atenção como adolescente, idosos, pessoas em sofrimento psíquico ou com histórico de mutilação e/ou suicídio. Segundo a Organização Panamericana de Saúde, 75 % da população mundial apresenta algum tipo de sofrimento psíquico, com 800 mil mortes por ano e as tentativas de suicídios são enormes comparadas às que a efetivam. O uso de pesticidas e tóxicos, asfixia, por enforcamento e uso de arma de fogo são as causas mais comuns. 

Vamos para algumas possíveis medidas de enfrentamento e intervenção que podem ser realizadas pela equipe de enfermagem

 Compreenda os três estágios ou características da mente suicida:

  • Ambivalência: Os sentimentos são confusos e o desejo de viver não é pretendido pela pessoa. Há dor no viver, mas a maioria das pessoas não querem morrer, o sofrimento, causado por um estado de infelicidade que o desejo fica mais aparente. Na medida que o sofrimento diminui por apoio emocional, o risco de suicídio diminui;
  • Impulsividade: É uma característica das pessoas em sofrimento, querer subitamente acabar com o estresse do sofrimento. Acabar com esse sofrimento pode conter atitudes de impulsividade que na maioria das vezes é transitório e dura alguns minutos ou horas. Nasce de eventos negativos do cotidiano, perdas, do adoecimento, da diminuição da compreensão existencial em felicidade. A identificação e intervenção realizada pelo profissional da saúde pode ajudar a diminuir risco de suicídio; 
  • Rigidez: Pessoas que pretendem cometer o suicídio possuem pensamentos e emoções estão confusas. As pessoas pensam no suicídio e não conseguem resolver os problemas que geram as vulnerabilidades e o abrupto sofrimento. O pensamento se torna rígido e drástico em relação ao ato de cometer o suicídio. 

É importante compreender que as pessoas que estão sofrendo e pensam em realizar o suicídio, se comunica informando pensamentos e intenções frente ao suicídio. Os sinais devem ser percebidos pelos profissionais. Lembramos que as pessoas costumam buscar o serviço de saúde ou serem levadas por familiares, mas muitas vezes o discurso é não compreendido ou negligenciado. Algumas falas são importantes para compreender o ideal suicida, são elas: “a vida não vale a pena”, “não consigo sair desse problema”, “Eu quero deixar de viver”, “Nada mais faz sentido”. Sentimentos podem ser avaliados pelos profissionais de saúde, são eles: 

Sentimentos 

Discurso

Sentimentos depressivos, tristeza e anedonia “Eu não tenho vontade de viver”, “prefiro estar morto do que passar por esse sofrimento”.
Solidão, fim de relacionamentos “Eu não posso fazer nada em relação aos acontecimentos”, “as pessoas não gostam de mim”, “Ninguém sentirá minha falta”.
Desamparo e desesperança “Eu não aguento mais”, “não vejo saídas”, “não vou conseguir seguir”, “Sou um peso no mundo ou pra pessoas”, “Eu sou um perdedor”.
Auto-desvalorização “As pessoas vão ser mais felizes sem mim”, “Eu sirvo para fazer pessoas felizes” “ “Eu não sou nada para ninguém”.

Busque um lugar adequado para realizar a consulta de enfermagem, garantindo um ambiente tranquilo e sem interferências externas; considere um tempo mais amplo para essa consulta, lembre-se dessa importância, a pessoa não pode pensar que o contanto ou atendimento é fardo; Utilize o acolhimento e a escuta ativa, esses são os maiores atos para diminuir o desespero das pessoas que pretendem realizar o suicídio; Promova palavras positivas e de esperança, a psicologia existencial pode ser uma saída de estudo para o profissionais da enfermagem, contribuindo para melhores intervenções. As abordagens devem ser realizadas de maneira tranquila, sem julgamento da pessoa.

Vamos compreender o que devemos fazer e o que não devemos fazer, a seguir:

O que devemos fazer durante a entrevista:

  • Ouvir a pessoa com atenção, suas queixas são muito importantes; 
  • Compreenda a pessoa com empatia. 
  • Se comunique de forma não verbal, sempre de maneira positiva com respeito. 
  • Respeite as falas e valores que a pessoa apresenta sem julgamento; 
  • Seja verdadeiro e autêntico mostrando saídas e possibilidade de cuidado; 
  • Seja solidário e demonstra preocupação, cuidado e afeto. 
  • Valorize os sentimentos da pessoa e mostre que ela é importante. 

O que não devemos fazer durante a entrevista:

  • Não interrompa a pessoa deixando ela falar livremente;
  • Não apresente emoção negativa ou fique chocado com as questões; 
  • Não apresente comportamento como se tivesse ocupado; 
  • Não trate a pessoa com inferioridade ou desprezo.
  • Não seja invasivo ou fale inicialmente de assuntos que geram sofrimento;
  • Cuidado com as perguntas, preservando a condição psíquica das pessoas.

Sinais importantes para identificação de risco de suicídio

  • Observe as relações interpessoais da pessoa  (amigos familiares, outras pessoas); 
  • Compreenda é o histórico de doença psíquica e física; 
  • Avalie o estado de ansiedade e depressão que são muito logados ao suicídio; 
  • Avalie a personalidade da pessoa e o humor; 
  • Avalie se há distúrbios do sono ou alimentares; 
  • Observe se houve na história da pessoa tentativas de suicídio 
  • Observe se há comportamentos negativos de culpa ou de desvalor; 
  • Avalie se houve perdas importantes como: morte de pessoas queridas, separação conjugal ou familiar, adoecimento, perda de emprego ou de condição física. 
  • Compreenda o História familiar de doença e morte;
  • Observe se no discurso da pessoa há necessidade súbita de organizar a vida pessoal,  organizar testamento ou documentos;
  • Avalie os sentimentos e observe o discurso; 
  • Cartas de despedida 
  • Atente-se para falas sobre a morte.

Lembre-se de compreender os sentimentos da pessoa é muito importante. Algo que podemos fazer é sempre mostrar que a pessoa não está sozinha, por isso, tenha empatia com essa pessoa. Seja sensível a suas questões. Lembre-se que você pode ser sua única saída naquele momento. Construa um projeto terapêutico singular para essa pessoa. Compreenda o plano que essa pessoa tem para sua vida, isso pode identificar o risco para suicídio. Caso essa pessoa não tenha esperança e um plano positivo de vida, lembre-se que isso é muito importante e você pode junto a pessoa construir um plano de vida que seja terapêutico para o momento, com ações em curto prazo e com valorização de sua existência.

Leia também: O caso Simone Biles: a importância do cuidado à saúde mental

Não se esqueça, nossos jovens estão sofrendo e morrendo, esse grupo merece atenção e ações preventivas devem ser pensadas. O maior dos sofrimentos pode desaparecer quando dividido e quando a pessoa consegue ter apoio. Nós profissionais de saúde devemos estar preparados para cuidar das pessoas e evitar a morte de pessoas em sofrimento. 

Valorizar a vida é um dever de todos nós! 

Referências bibliográficas:

  • Soares, R. J. de O. COVID-19 e Riscos Psicossociais: um alerta sobre o Suicídio. Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, 4(1), 2021, pp. 1859-1870 jan./feb. doi: 10.34119/bjhrv4n1-151.
  • Nicolosi R.H.de O.S. Contrera, M.S. As dores do humano na sociedade midiática – um olhar sobre as relações entre suicídio e mídia . Revista Brasileira de Histó ria da Mí dia, Sa ó Pauló, 2021, 10 (1), pp. 74-92.
  • SilvaL. de L. T., VecchiaB. P., RamosT. M., & CostaT. A. F. (2020). Profissionais de enfermagem de um serviço de urgência e emergência frente ao suicídio na adolescência. Revista Eletrônica Acervo Saúde12(10), e4042. https://doi.org/10.25248/reas.e4042.2020

 

 

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