O uso de antibioticoterapia tópica é eficaz para o tratamento de conjuntivite bacteriana?

Seria a antibioticoterapia tópica a melhor conduta para esses casos na atenção primária? Essa é uma prática com bom suporte por evidências robustas?

As conjuntivites bacterianas estão entre as causas de diagnóstico diferencial da síndrome de olho vermelho, uma das queixas mais prevalentes nos cenários de atenção primária. Abordamos esse tema anteriormente no portal. Contudo, tradicionalmente para o tratamento dessa etiologia de olho vermelho, o tratamento mais empregado é a antibioticoterapia tópica, que supostamente é utilizada para reduzir recidivas, aumentar a velocidade de recuperação e prevenir complicações decorrentes de avanços da infecção por contiguidade.

Mesmo assim, embora essa conduta seja quase intuitiva, ela é a melhor conduta para esses casos na atenção primária? Essa é uma prática com bom suporte por evidências robustas?

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Conjuntivite bacteriana

Para responder a essa pergunta, pesquisadores do grupo The NNT investigaram na literatura os cinco maiores e mais consistentes ensaios clínicos randomizados placebo controlados para dimensionar a eficácia dessa intervenção. Nesses estudos duplo-cegos, 1.034 indivíduos apresentando em torno de 10 dias de início de sintomas receberam antibióticos tópicos ou placebo. Os revisores avaliaram cura tanto clínica quanto microbiológica, porém analisaram quantitativamente desfechos orientados pelos pacientes como desfecho primário (cura clínica).

A maioria dos casos teve resolução autolimitada (em cerca de 65% dos casos). Contudo os sinais clínicos de conjuntivite se resolveram mais rapidamente entre os indivíduos que fizeram uso do antimicrobiano. Os revisores avaliaram o grupo que apresentou remissão clinica considerando dois períodos: cura entre o 2º e 5º dia e cura entre o 6º e 10º dia após o início do tratamento.

A taxa de remissão foi maior nos primeiros 5 dias, com um número necessário para tratar de 6,8 (a cada 6,8 intervenções, 1 paciente se beneficia em relação ao desfecho primário), após esse período, ou seja, entre 6 e 10 dias, o benefício se reduz bastante com um NNT de 11,9.

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Limitações dos dados

O poder de generalização das conclusões deve considerar as limitações do estudo. Dentre os ensaios clínicos incluídos, apenas 2 consideraram amostras comunitárias como fonte de coleta de dados. Esse tipo de situação pode representar um viés para a conclusão dos resultados identificado como viés de referência. Isso significa que os achados positivos podem ocorrem porque os sujeitos incluídos na avaliação, por virem de cenários especializados, podem estar mais adoecidos, ou com maiores cargas e intensidade de sintomas do que a média populacional que apresenta esse agravo em saúde.

Outro ponto de vulnerabilidade entre os estudos incluídos é a não uniformidade de certos critérios como: critérios de determinação do diagnóstico, inclusão ou exclusão de pacientes, uso concomitante ou não de antibioticoterapia sistêmica. Contudo, na análise quantitativa, apenas os pacientes oriundos de protocolos de tratamento que considerassem apenas o tratamento tópico foram incluídos.

Veja mais: A ceratoconjuntivite pode ser a apresentação inicial do novo coronavírus?

Finalmente, entre os pacientes do grupo placebo 65% evoluíram com resolução espontânea até o 5º dia de tratamento de modo que nenhum evento adverso ou desfecho negativo foi identificado em nenhum dos grupos, seja intervenção ou placebo.

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Take-home message

  • 1 a cada 7 pacientes tratados foi beneficiado pelo uso de antibioticoterapia tópica no tratamento de conjuntivite bacteriana (com cura entre 2 a 5 dias);
  • Nenhum paciente apresentou prejuízo pelo uso dessa modalidade terapêutica.

Na prática cotidiana, as evidências embora não reforcem o uso dessa modalidade terapêutica para prevenção de complicações, mostram que ela é eficiente na velocidade de resolução dos sintomas para alguns pacientes. Além disso, não esteve associada a nenhum efeito adverso ou prejuízo para os pacientes que fizeram uso dessa modalidade terapêutica.

Portanto, considerando os riscos e benefícios é uma prática que tem um bom valor de recomendação para ser adotada. Contudo, estudos maiores ainda precisam ser realizados para avaliar os benefícios para o longo prazo após conjuntivites bacterianas.

Agora que você conhece as evidências e recomendações, para revisar as opções de antibioticoterapia tópica oftalmológica, seus custos e posologias você pode sempre consultar o Whitebook.

Referências bibliográficas:

  • Sheik A, Hurwitz B. Antibiotics versus placebo for acute bacterial conjunctivitis. Cochrane Database Syst Rev. 2006;(2):CD001211. PMID: 16625540.

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