O uso de aspirina como profilaxia após próteses do joelho ou quadril é seguro?

Um estudo recente publicado no New England avalia o uso de aspirina como método de profilaxia em pacientes submetidos a próteses totais do quadril e joelho.

A profilaxia antitrombótica é essencial para viabilização de cirurgias de alta complexidade, como as artroplastias de substituição articular.

Os índices de eventos trombóticos sem a utilização de métodos de profilaxia são proibitivos. Além da utilização de medidas não farmacológicas, o uso de agentes anticoagulantes é recomendada, existindo mais de uma opção para este fim.

As medicações utilizadas não são isentas de complicações e o custo das mesmas pode exercer impacto financeiro importante para o paciente. A via de administração de algumas destas medicações também pode ser diferente e exigir treinamento específico para o paciente ou seu cuidador.

Recentemente o uso de medicações orais vem ganhando popularidade no pós-operatório de cirurgias ortopédicas. Um estudo recente publicado no New England avalia o uso de aspirina como método de profilaxia em pacientes submetidos a próteses totais do quadril e joelho. Esta seria uma estratégia simples e de baixo custo para uso rotineiro.

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medicamentos variados, incluindo aspirina para profilaxia após próteses totais

Estudo sobre profilaxia após próteses

Um estudo multicêntrico, randomizado, duplo cego foi conduzido em pacientes submetidos a artroplastia total de joelho (ATJ) e quadril (ATQ). Todos os pacientes receberam rivaroxabana 10 mg/dia nos primeiros 5 dias de pós operatório. Após este período um grupo de pacientes manteve o uso da medicação completando período de 14 dias para ATJ e 35 dias para ATQ, e o outro utilizou aspirina 81 mg/dia pelo mesmo período.

O estudo envolveu 15 centros médicos, teve como critérios de inclusão ATQ ou ATJ primária ou revisão unilateral eletiva. Foram excluídos pacientes com câncer metastático, fratura do quadril atual ou nos últimos 3 meses.

Foi considerado tromboembolismo venoso (TEV) sintomático: trombose venosa profunda em veia poplítea ou mais proximal (femoral, femoral comum, ilíacas e veia cava inferior) ou TEP confirmado até 90 dias após randomização. Foram também avaliados eventos hemorrágicos maiores ou sangramento clínico importante como desfechos primários.

Foi feito um cálculo amostral com aumento de 1% para compensar possíveis perdas durante o estudo. O estudo foi conduzido entre janeiro de 2013 e abril de 2016, contou com 1804 ATQ e 1620 ATJ. A Idade média dos participantes foi de 62,8 anos, sendo 47,8% homens. Das cirurgias avaliadas, 90% eram ATJ ou ATQ primárias, e o tempo internação médio foi de 3,5 dias.

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Resultados

Os pacientes foram acompanhados por 90 dias tendo sido avaliadas complicações hemorrágicas e tromboembólicas. Um total de 3424 pacientes foram avaliados. No grupo que utilizou aspirina a incidência de tromboembolismo venoso foi de 0,64% contra 0,70% no grupo que utilizou rivaroxabana (P <0,001 para não inferioridade e P = 0,84 para superioridade).

Complicações hemorrágicas maiores ocorreram em 0,47% dos pacientes no grupo da aspirina e 0,29% no grupo que utilizou rivaroxabana (P=0,42) e sangramento clínico importante ocorreu em 1,29% no grupo de aspirina contra 0,99% no grupo da rivaroxabana (P=0,43).

Conclusões

Os achados deste estudo foram semelhantes a de outros na literatura como o EPCAT I (Extended Prophylaxis Comparing Low-Molecular-Weight Heparin to Aspirin in Total Hip Arthroplasty I) e o EPCAT II.

Este trabalho entretanto apresenta algumas limitações. Como o recrutamento dos pacientes frequentemente ocorreu no pós-operatório, a população do estudo não consistiu de toda uma coorte inicial tratada de acordo com com um protocolo padronizado. Como a maioria dos eventos hemorrágicos ocorreram logo após a randomização, é difícil determinar se o sangramento estava predominantemente relacionado a rivaroxabana no pós-operatório inicial, ao medicamento de teste ou a uma combinação dos dois.

Afinal, posso usar a aspirina?

Apesar das limitações listadas este estudo mostrou que a aspirina, uma droga barata, genérica e amplamente disponível não obteve resultado inferior ao de outra droga frequentemente utilizada na prevenção de tromboembolismo venoso/pulmonar.

Referências bibliográficas:

  • Anderson DR, Dunbar MJ, Bohm ER, et al. Aspirin versus low-molecular-weight heparin for extended venous thromboembolism prophylaxis after total hip arthroplasty: a randomized trial. Ann Intern Med 2013; 158: 800-6.
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