O uso de betabloqueadores em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica

A prática clínica e evidências baseadas em grandes estudos, mostram que betabloqueadores cardiosseletivos não aumentam as exacerbações do DPOC.

A estimulação de receptor beta-adrenérgico no pulmão e brônquios promove broncodilatação, sendo uma das bases fundamentais do tratamento de pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Seria esperado então, que o bloqueio desses receptores fosse prejudicial a doença, e que pacientes que compartilham a necessidade do betabloqueio, como no caso dos cardiopatas, perderiam uma droga importante no tratamento.

Entretanto, a prática clínica e evidências baseadas em grandes estudos, mostram que betabloqueadores cardiosseletivos, ou seja, que agem em sua maioria nos receptores beta-1 cardíacos, não aumentam as exacerbações do DPOC, tão pouco influenciam no nos resultados da terapia com beta 2 agonistas ou corticosteroides inalatórios no pulmão.

Diversos estudos demonstraram que o uso de betabloqueadores não só não aumentou a exacerbação da doença pulmonar, como também reduziu a mortalidade em pacientes cardiopatas. Além disso, não aumentou o tempo de hospitalização e tão pouco o tempo em ventilação mecânica.

Entretanto vale salientar que: esses efeitos foram vistos com betabloqueadores cardiosseletivos, que foram avaliados mesmo nas crises de broncoespasmo, sem prejuízo para a doença pulmonar.

medicamentos variados junto de betabloqueadores

Betabloqueadores na doença pulmonar obstrutiva crônica

Uma meta-análise de estudos randomizado envolvendo 400 pacientes com asma ou DPOC com prova bronco dilatadora positiva em uso de betabloqueadores cardiosseletivos mostrou evidência suficiente para corroborar os fatos descritos acima. Os resultados foram:

  • Redução do VEF1 em 8% com uma única dose, porém aumento de 5 a 9% da resposta ao bronco dilatador;
  • A terapia de longo prazo com betabloqueadores não aumentou os sintomas respiratórios, tão pouco a necessidade de uso de beta 2 agonistas;
  • O uso prolongado dos betabloqueadores não foi associado a redução significativa do VEF1 basal.

Alguns estudos observacionais e a segurança garantida do uso dos betabloqueadores fizeram os pesquisadores postularem que existiria um benefício dos betabloqueadores cardiosseletivos em pacientes com DPOC, sem cardiopatia, porém o primeiro estudo controlado com o metoprolol não obteve resultados satisfatórios.

Como fazer?

Primeiramente, pacientes com DPOC devem receber betabloqueadores cardiosseletivos, são opções: atenolol, esmolol, bisoprolol e metoprolol (é importante salientar que em doses elevadas esses medicamentos podem perder a cardiosseletividade). Deve-se iniciar os betabloqueadores em doses menores e aumentar progressivamente conforme tolerância.

Em pacientes com insuficiência cardíaca, que não utilizavam betabloqueadores previamente, a droga só deve ser introduzida após compensação do quadro clínico (paciente sem edema ou congestão). Nesses casos sugere-se utilizar o succinato de metoprolol ou o bisoprolol.

Obviamente esses pacientes também devem ser tratados com beta 2 de longa duração para a doença pulmonar.

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Conclusão

Ainda existe muito receio na prática clínica em relação ao uso de betabloqueadores em pacientes com DPOC, porém à luz das evidências não existe plausibilidade em justificar o não uso em pacientes que necessitam dessas drogas para doenças cardiovasculares, configurando assim má prática médica.

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