Ondansetrona em dose única reduziu o vômito em crianças com diagnóstico de gastroenterite aguda

Estudo buscou determinar a eficácia da adição de ondansetrona oral para cuidados usuais da GEA com TRO para tratar vômitos em crianças.

A gastroenterite aguda (GEA) é frequente em crianças pequenas com idade igual ou inferior a cinco anos e, embora seja tipicamente autolimitada, a desidratação grave é uma complicação importante. Como forma de prevenir e tratar a desidratação em crianças, de um modo geral, as diretrizes internacionais recomendam o uso de terapia de reidratação oral (TRO). No entanto, apesar de a prescrição de TRO poder reduzir as internações hospitalares em até 45%, essa medida ainda é subutilizada na atenção primária: somente 4% de todas as crianças com GEA recebem TRO por meio de seu médico de família. Dados da literatura sugerem que subutilização existe porque até 70% dessas crianças apresentam vômito como o sintoma predominante. Na Holanda, as diretrizes pediátricas mencionam o vômito persistente como um preditor de falha da TRO em crianças desidratadas. Dessa forma, os médicos generalistas são menos propensos a prescrever TRO quando a criança apresenta predominantemente vômitos. Na atenção secundária, a ondansetrona mostrou-se eficaz na redução dos episódios eméticos.

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Para determinar a eficácia da adição de ondansetrona oral para cuidados usuais da GEA com TRO para tratar vômitos em crianças, os pesquisadores Bonvanie e equipe conduziram um ensaio clínico randomizado pragmático controlado em três centros de atenção primária no norte da Holanda (Groningen, Zwolle e Assen). O estudo “Oral ondansetron for paediatric gastroenteritis in primary care: a randomised controlled trial” foi publicado em outubro/2021 no British Journal of General Practice.

Ondansetrona em dose única reduziu o vômito em crianças com diagnóstico de gastroenterite aguda

Metodologia

Os pesquisadores incluíram crianças holandesas cuja faixa etária foi de 6 meses a 6 anos com GEA e vômitos persistentes, isto é, com quatro ou mais episódios eméticos nas 24 horas anteriores, e que foram atendidas em clínicas de atenção primária após o expediente para o tratamento padrão somente com TRO (grupo controle) ou tratamento padrão mais uma dose única de 0,1 mg/kg de ondansetrona por via oral (VO) (grupo intervenção). Os pais observaram os sintomas durante as quatro horas seguintes e diariamente a partir de então durante um período de sete dias.

O tratamento padrão com TRO incluiu instruções para comprar as solução de reidratação oral e como usá-la, conforme descrito na diretriz de diarreia aguda do Dutch College of General Practitioners: 10 mL/kg quando em risco de desidratação (ou seja, todas as crianças) e 15 mL/kg por quatro horas se um clínico geral avaliou o paciente como desidratado. Um assistente de pesquisa forneceu as instruções aos pais, discutiu os sintomas de alarme e os aconselhou a entrar em contato com o clínico geral se não houvesse melhora ou os sintomas piorassem.

As crianças alocadas para o grupo de intervenção receberam o tratamento padrão com TRO descrito acima mais uma única dose (baseada no peso) de xarope de ondansetrona oral (0,1 mg/kg), de acordo com o Dutch Pediatrics Formulary. Se a criança vomitasse dentro de 15 minutos após a administração, a mesmo dose seria repetida uma vez, mas uma terceira dose não seria administrada.

Resultados

Um total de 194 crianças foram randomizadas. Uma dose de ondansetrona VO diminuiu a proporção de crianças que continuaram a vomitar em quatro horas de 42,9% para 19,5%, com uma razão de chances de 0,37 (intervalo de confiança de 95% [IC] = 0,20 – 0,72, número necessário para tratar: 4). A ondansetrona também diminuiu o número de episódios de vômito em quatro horas (razão da taxa de incidência 0,51 [IC 95% = 0,29 – 0,88]) e melhorou a satisfação geral dos pais com o tratamento (p = 0,027).

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Apesar de menos vômitos com a utilização de ondansetrona, a ingestão oral média de TRO em quatro horas da randomização foi semelhante em ambos os grupos (10 mL), e nenhuma diferença foi observada nas taxas de encaminhamento ou hospitalização: o encaminhamento ocorreu para 19,4% de todas as crianças, e a maioria das crianças encaminhadas (74,0%) foi internada no hospital (dados não apresentados). De todas as crianças incluídas, 14,4% foram hospitalizadas. 

Por fim, o uso de ondansetrona não foi associado a efeitos adversos.

Conclusão

Neste estudo, o uso da ondansetrona foi considerado eficaz, seguro e avaliado positivamente pelos pais quando usado para interromper os vômitos em crianças de 6 meses a 6 anos que se apresentam na atenção primária com GEA e vomitando. Os pesquisadores defendem que a ondansetrona seja considerada como um tratamento complementar para uso por generalistas no tratamento de desidratação devido a GEA e vômitos frequentes na atenção primária. No entanto, a ondansetrona isoladamente não afetará substancialmente a ingestão de TRO ou reduzirá a alta taxa de encaminhamento para atendimento especializado. Dessa forma, pesquisas futuras devem ter como objetivo esclarecer os principais fatores que levam ao encaminhamento hospitalar de crianças com GEA e considerar maneiras de administrar a TRO de maneira mais eficaz na atenção primária ou em casa, como a administração direta pela Enfermagem, melhor instrução dos pais e o uso de alternativas para a TRO.

Referências bibliográficas:

  • Bonvanie IJ, Weghorst AA, Holtman GA, et al. Oral ondansetron for paediatric gastroenteritis in primary care: a randomised controlled trial. Br J Gen Pract. 2021;71(711):e728-e735. doi10.3399/BJGP.2021.0211

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