Radiação: ortopedistas são mais comumente pais de meninas?

O número de procedimentos médicos dependentes de radiação vem aumentando, especialmente nos minimamente invasivos na ortopedia.

O número de procedimentos médicos dependentes de radiação vem aumentando ao longo dos anos, especialmente nos minimamente invasivos na ortopedia. Com isso, também houve crescimento da preocupação sobre o impacto da radiação em baixas doses causado a longo prazo na saúde dos cirurgiões e o aparecimento de doenças da tireoide, catarata e câncer.

Entretanto, muitas das vezes, há pouca motivação por parte dos médicos em usar o equipamento de proteção pelo fato do real efeito acabar sendo revelado apenas muitos anos depois. Assim, é importante o desenvolvimento de evidências científicas que mudem o comportamento desses profissionais para uma postura de maior cuidado quanto a essa exposição.

A exposição à radiação ocupacional foi anteriormente associada à redução na taxa de nascimento de filhos do sexo masculino (devido à maior sensibilidade à radiação dos espermatozoides que carregam o cromossomo Y) de radiologistas, ortopedistas e cardiologistas, porém nenhum desses estudos avaliou a exposição testicular. Foi publicado recentemente na revista Plos One um estudo caso-controle desenvolvido em 5 hospitais japoneses com o objetivo de avaliar a associação entre exposição testicular à radiação e maior taxa de nascimento de filhas entre os médicos.

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Ortopedistas são mais comumente pais de meninas

O estudo

A pesquisa foi realizada em fevereiro de 2017 e foram incluídos no estudo médicos com pelo menos um filho(a) abaixo de 10 anos na data da coleta. Os participantes (62 pais com 109 filhos) foram divididos em 3 grupos de acordo com o trabalho que realizavam 1 ano antes do nascimento das crianças:

  • GRUPO RT: fazem procedimentos com radiação e há grande possibilidade de exposição testicular (maioria ortopedistas – 27 participantes).
  • GRUPO RNT: fazem procedimentos com radiação e há baixa possibilidade de exposição particular (maioria neurocirurgiões e cardiologistas – 30 participantes).
  • GRUPO N: não usam radiação (52 participantes).

Não foram observadas diferenças na idade da paternidade entre os grupos.

No total, 49 crianças (45%) eram do sexo feminino, sendo 19 (70%) no grupo RT, 11 (37%) no grupo RNT e 19 (37%) no grupo N. Essa diferença se mostrou aumentada e significativa em favor do grupo RT (p= 0,009).

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Comparando com o padrão nacional de 0,486 (proporção de mulheres no Japão), o p valor foi de 0,02, 0,19 e 0,18 para os grupos RT, RNT e N, respectivamente. Além disso, o Odds Ratio ajustado do grupo RT com relação ao N chegou a 4,40 (IC 95%, 1,60 – 12,1).

Conclusão

O estudo demonstra uma possível associação entre maior exposição testicular à radiação e menor taxa de nascimento de filhos do sexo masculino. É interessante notar que o grupo mais exposto é composto pelos ortopedistas, pela maior necessidade da utilização de fluoroscopia intraoperatória.

Os resultados desta pesquisa são aparentemente inofensivos e soam como curiosidade, porém devemos lembrar que os efeitos da radiação vão muito além e estão associados a maior ocorrência de neoplasias. A utilização dos equipamentos de proteção é essencial na manutenção da nossa saúde a longo prazo.

Referências bibliográficas:

  • Hijikata Y, Nakahara M, Kusumegi A, Morii J, Okubo N, Hatano N, Takahashi Y. Association between occupational testicular radiation exposure and lower male sex ratio of offspring among orthopedic surgeons. PLoS One. 2021 Dec 31;16(12):e0262089. doi: 10.1371/journal.pone.0262089.

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