Os riscos e benefícios do uso da cannabis medicinal.

A Cannabis é de longe a droga ilícita mais consumida no mundo. A parte do submundo do tráfico de drogas e do cultivo para uso pessoal, esta planta tem sido cada vez mais estudada para o uso em tratamento médico. Alguns países possuem leis mais brandas e outros mais rigorosas para consumo da droga e …

A Cannabis é de longe a droga ilícita mais consumida no mundo. A parte do submundo do tráfico de drogas e do cultivo para uso pessoal, esta planta tem sido cada vez mais estudada para o uso em tratamento médico. Alguns países possuem leis mais brandas e outros mais rigorosas para consumo da droga e de seus derivados. De um lado vemos pacientes que buscam uma solução para alívio de seus sintomas e do outro os governos que enfrentam dia após dia a guerra interminável contra o tráfico de drogas.

O Canabidiol (CBD), um derivado da cannabis, possui um amplo efeito antiepiléitco, eficiente para pacientes com crises convulsivas refratárias, porém com mecanismo de ação, interação com outros fármacos e segurança, para uso prolongado, ainda desconhecidos.

Antes da liberação do CBD havia uma grande pressão de associações de pacientes e pais de pacientes que sabiam, que a medicação poderia reduzir significativamente o sofrimento de seus filhos. Você pode ver um pouco mais sobre essa realidade no documentário brasileiro “Ilegal”.

Em dezembro de 2014, o CFM regulamentou o uso compassivo do CBD para crianças e adolescentes portadores de epilepsias refratárias aos tratamentos convencionais. A determinação veda a prescrição da cannabis in natura para uso medicinal, bem como qualquer outro derivado. Havia uma cobrança junto ao conselho, já que desde outubro do ano passado o uso havia sido permitido pelo CREMESP para os médicos de São Paulo.

A regulamentação determina ainda que os médicos prescritores façam um registro em uma plataforma online e os pacientes acompanhados por relatórios recorrentes.

Recentemente, em abril, a Anvisa lançou uma norma para simplificar a importação do CBD. Foram determinadas que as cinco principais marcas, 95% do consumo, estariam dispensadas de análise da área técnica da Anvisa. Esta resolução também, permite que as associações de pacientes façam a importação, reduzindo custos e acelerando o trâmite.

O uso dos cannabinoides não se restringe ao tratamento antiepilético. Outras doenças neurológicas se beneficiam do uso destes derivados:

  • Esclerose múltipla: É discutível o uso para o tratamento dos sintomas. Alguns dos efeitos adversos da cannabis podem ser agravados pela esclerose múltipla (fadiga e alterações do humor). Está indicado para o tratamento da espasticidade, dor, tremores ou disfunção vesical.
  • Doença de Parkinson: Um estudo da Academia Americana de Neurologia, apontou que há sinais de que o uso do CBD pode reduzir sintomas como psicose, dor e distúrbios do sono, e melhorar a qualidade de vida.
  • Cefaleia: Não há estudos conclusivos a respeito do tema. O uso está indicado na presença de dor neuropática do orofacial, incluindo neuralgia do trigêmeo e síndrome da boca ardente.
  • Dor Neuropática: Alguns estudos avaliaram o uso para tratamento da dor neuropática, incluindo a dor pós traumática ou pós cirúrgica. Os principais usos estudados foram em spray, inalatória e sistêmico. Houve significativa melhora dos sintomas. Este é considerado um tipo de tratamento simples, barato e racional, oposto a maior parte dos tratamentos tóxicos e custosos. Sendo assim trata-se de uma boa opção para tratamento da dor refratária em falhas terapêuticas.

 

Na maioria das indicações ainda faltam estudos do uso prologando e seus efeitos adversos a longo prazo.

O Brasil avançou nos últimos meses na regulamentação dos canabinóides, porém ainda estamos distantes de outros países que tratam o uso destes derivados, e da própria cannabis, com um olhar mais brando e científico.

O número de clínicas de terapia da dor expande diariamente nos EUA, principalmente na Califórnia. Estas clínicas são os principais locais de prescrição dos derivados da cannabis. Um dos maiores desafios é realizar uma boa avaliação para separar pacientes que querem fazer uso por abuso e recreativo, dos pacientes que precisam. Além disso, os médicos realizam um trabalho para explicar os efeitos positivos e negativos, e retirar o estigma do uso com os pacientes e seus familiares.

Os principais usos nestas clínicas são em pacientes com lesão crônica constritiva, lesão da medula espinhal, esclerose múltipla, dor associada ao câncer e seus tratamentos, osteoartrite, dor visceral, dor muscular, dor nocioceptiva inflamatória, avulsão do plexo braquial, neuralgia do trigêmeo e neuropatia do HIV.

Um estudo publicado no JAMA apresentou que estados americanos que legalizara o uso da cannabis medicinal reduziram a mortalidade por overdose de analgésicos opióides. Esse resultado aponta que talvez os cannabinoides possam contribuir positivamente para problemas de saúde pública. Entretanto, um relatório publicado em junho deste ano, apontou que houve um aumento de 200% no número de ligações para os centros de intoxicação relacionadas ao uso de cannabinoides sintéticos. Os principais sintomas relatados foram agitação, taquicardia, letargia, vômitos e confusão mental.

A comunidade científica e os governos precisam debater, junto com a sociedade, o risco e benefício do uso destes derivados da cannabis. A correta regulamentação, o acompanhamento dos pacientes, a fiscalização da produção e venda fazem parte do processo para que pacientes que precisam, e se beneficiam, possam ter acesso a este tratamento.

N. do A.: A PEBMed e o autor não apoiam e contraindicam o uso recreativo da cannabis.

Referências:

  1. Zuardi, A.W., et al., Cannabidiol for the treatment of psychosis in Parkinson’s disease. J Psychopharmacol 2009; 23: 979-983.
  2. Ware MA, Wang T, Shapiro S et al. Smoked cannabis for chronic neuropathic pain: a randomized controlled trial. CMAJ 2010; 182: E694-701.
  3. Schestatsky P, Vidor L, Winckler P, Araújo TG, Caumo W. Promising treatments for neuropathic pain. Arq Neuropsiquiatr 2014. DOI: 10.1590/0004-282X20140157.
  4. Koppel BS, Brust JC, Fife T et al. Systematic review: Efficacy and safety of medical marijuana in selected neurologic disorders. Neurology 2014; 82: 1556-1563.
  5. American Pain Society (APS) 34th Annual Scientific Meeting. Presented May 16, 2015.
  6. JAMA Intern Med. 2014;174:1668-1673

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