Os valores recomendados para controle da pressão arterial estão adequados?

A definição do valor de normalidade da pressão arterial é bastante controversa e recentemente as diretrizes de hipertensão arterial têm mudado a meta.

Hipertensão arterial (HAS) é uma condição muito comum na atenção primária, que pode causar infarto do miocárdio (IAM), acidente vascular encefálico (AVE), insuficiência cardíaca (IC), doença renal crônica e morte se não tratada adequadamente.

Os pacientes portadores de HAS querem estar certos de que o tratamento efetivo reduzirá o risco da doença e os médicos querem guiar os cuidados da HAS, usando as melhores evidências científicas disponíveis. A definição do valor de normalidade da pressão arterial é bastante controversa e recentemente as diretrizes de hipertensão arterial têm mudado a meta da pressão arterial.

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A VI Diretrizes Brasileiras de hipertensão arterial de 2010 estabelece como normal o valor da pressão arterial sistólica (PAS) menor que 130mmHg e diastólica (PAD) menor que 85mmHg. Na presença de diabetes, a Diretriz recomenda que as metas a serem atingidas sejam de PAS 130mmHg e PAD de 80mmHg.

A Diretriz Americana (VIII JOINT) recomenda que para a população acima de 60 anos o tratamento farmacológico deve ser iniciado com valores da PAS maiores que 150mmHg ou PAD maior que 90 mmHg. Na população com idade menor que 60 anos, o VIII JOINT recomenda que o tratamento com medicamentos tenha como meta reduzir a PAS para menos que 140mmHg. Na população diabética adulta, independente da faixa etária, o tratamento farmacológico tem como meta reduzir a PAS para menos que 140mmHg e a PAD para < 90mmHg.

Mais do autor: ‘A zona cinzenta entre os fenótipos da insuficiência cardíaca’

Em 2015, foi publicado o estudo SPRINT, que tinha como objetivo avaliar os valores mais adequados para a PAS na redução de comorbidades e mortalidade cardiovascular entre indivíduos não diabéticos. Foram avaliados 9.361 indivíduos com PAS igual ou superior a 130mmHg com risco cardiovascular aumentado.

Os pacientes foram divididos em dois grupos, um em que a meta da PAS foi < 120mmHg – tratamento intensivo – e outro em que a meta foi PAS menor que 140mmHg – tratamento padrão. O desfecho primário foi IAM, outras síndromes coronarianas agudas, AVE, IC ou morte por causa cardiovascular.

Em um ano, a PAS média era de 121,4mmHg no grupo intensivo e 136,2mmHg no grupo padrão. O estudo foi interrompido precocemente após um seguimento médio de 3,26 anos, devido a uma taxa significativamente mais baixa do resultado primário composto no grupo intensivo em relação ao grupo padrão (1,65% por ano vs. 2,19% por ano; taxa de risco com tratamento intensivo, 0,75;95% IC, 0,64 a 0,89; p=0,003). Por outro lado a taxa de efeitos adversos como hipotensão foram maiores no grupo intensivo.

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Veja também: ‘HAS – plano terapêutico’

Estudo publicado em julho de 2016 comparou o risco associado com a PAS de acordo com as recomendações atuais (< 140mmHg) com o risco associado com menores valores em pacientes com diabetes tipo 2 e sem doença cardiovascular prévia.

O estudo avaliou 18.7106 indivíduos com diabetes e idade ≤ 75 anos em 861 unidades ambulatoriais, no período de 2006 a 2012, com um seguimento médio de cinco anos. Eventos clínicos como IAM, AVE, IC, desfecho composto de IAM e AVE e morte foram obtidos através de alta hospitalar e registros de óbitos.

O grupo que apresentava menor PAS (110 – 119mmHg) teve um risco menor de IAM não fatal (p=0,003), IAM total (p=0,04), doença cardiovascular não fatal (p=0,002) quando comparado com o grupo com PA 130 – 139mmHg.

Estudos recentes como o SPRINT de 2015 e o Estudo Sueco de 2016 mostram que valores menores da PAS em relação ao recomendado nas Diretrizes estão associados com menor risco de eventos cardiovasculares fatais e não fatais em pacientes com ou sem diabetes.

antoniolagoeiro

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Referências:

  • Sociedade Brasileira de Cardiologia / Sociedade Brasileira de Hipertensão / Sociedade Brasileira de Nefrologia. VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão. Arq Bras Cardiol 2010; 95(1 supl.1): 1-51.
  • James PA, Oparil S, Carter BL, Cushman WC, Dennison-Himmelfarb C, Handler J,et al. 2014 evidence-based guideline for the management of high blood pressure in adults: report from the panel members appointed to the Eighth Joint National Committee (JNC 8). JAMA. 2014 5;311:507-20.
  • Rodgers A, Perkovic V. A Randomized Trial of Intensive versus Standard Blood-Pressure Control. N Engl J Med. 2016 Jun 9;374(23):2295.
  • Adamsson Eryd S, Gudbjörnsdottir S, Manhem K, Rosengren A, Svensson AM, Miftaraj M, et al Blood pressure and complications in individuals with type 2 diabetes and no previous cardiovascular disease: national population based cohort study. BMJ. 2016;4;354:i4070. doi: 10.1136/bmj.i4070.

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