Oseltamivir: o que você precisa saber para a prática clínica

O surto de Influenza vivenciado em todo o país durante o começo do ano de 2022 aumentou as prescrições do Oseltamivir.

O surto de Influenza vivenciado em todo o país durante o começo do ano de 2022 aumentou as prescrições do Oseltamivir, antiviral de escolha no tratamento da Influenza A e B. Na fase atual, é importante relembrarmos as principais indicações da sua prescrição, assim como o melhor momento e suas contraindicações. O objetivo é trazer maior racionalidade à sua decisão clínica. Para tanto, revisamos as principais literaturas sobre o tema e trouxemos aqui um guia prático para a prescrição do Oseltamivir.

Oseltamivir o que você precisa saber para a prática clínica

Oseltamivir x Influenza

  • O tratamento com o antiviral, de maneira precoce, pode reduzir a duração dos sintomas e, principalmente, a redução da ocorrência de complicações da infecção pelo vírus influenza (A e B).
  • Existe um maior benefício clínico quando iniciado até 48 horas do início dos sintomas;
  • A terapia com Oseltamivir deve ser iniciada em pacientes graves mesmo se após 48 horas do início dos sintomas;

Tratamento – Indicações: 

  1. Síndrome Gripal SEM fator de risco: pode ser avaliada, excepcionalmente.
  2. Síndrome Gripal COM fator de risco: para todos os casos (independente de história vacinal).

Veja abaixo os fatores de risco para complicação:

  • Adultos ≥ 60 anos;
  • Crianças < 5 anos;
  • Grávidas em qualquer idade gestacional ou puérperas até 45 dias após o parto;
  • Indivíduos com doença crônica:
    • Pneumopatias (incluindo asma). Cardiovasculopatias (excluindo hipertensão arterial sistêmica). Nefropatias. Hepatopatias. Doenças hematológicas (incluindo anemia falciforme). Distúrbios metabólicos (incluindo diabetes mellitus).
    • Transtornos neurológicos e do desenvolvimento que podem comprometer a função respiratória ou aumentar o risco de aspiração (disfunção cognitiva, lesão medular, epilepsia, paralisia cerebral, síndrome de Down, acidente vascular encefálico – AVE ou doenças neuromusculares).
    • Imunossupressão associada a medicamentos, neoplasias, HIV/aids ou outros.
    • Obesidade (especialmente aqueles com índice de massa corporal – IMC ≥ 40 em adultos)
  • População indígena ou População privada de liberdade e moradores de rua.

Qual dose? 

  • Para Influenza sem complicações com duração de início dos sintomas < 48 horas: 75 mg 12/12 horas por 5 dias
  • Para Influenza em pacientes imunocomprometidos com complicações (ex: pneumonia), mesmo se duração de sintomas > 48 horas: 75 mg 12/12 horas por 10 dias (ou mais, a critério clínico).

OBS1: Fala-se em prolongar o período de tratamento por evidências que sugerem replicação prolongada viral em pacientes imunocomprometidos e com quadros graves.  Portanto, em casos de Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo Grave associado, podemos considerar a dose de 75 mg 12/12 horas por 10 dias.

OBS2: Para os pacientes que vomitam até uma hora após a ingestão do medicamento deve ser administrada uma dose adicional.

ATENÇÃO: A dose de 150 mg de 12/12 horas não é mais recomendada, conforme Sanford Guide (Lee et al, 2013) e recomendações das Guidelines de Influenza do CDC (Timothy et al, 2018).

Quimioprofilaxia

Quando indicar?

  • Pessoas com risco elevado de complicações (não vacinadas ou vacinadas < 15 dias), após exposição a caso suspeito ou confirmado de influenza;
  • Pessoas com graves deficiências imunológicas, após contato com caso suspeito ou confirmado;
  • Trabalhadores de saúde (não vacinados ou vacinados < 15 dias), e que estiveram envolvidos na realização de procedimentos invasivos geradores de aerossóis ou na manipulação de secreções de caso suspeito ou confirmado de influenza sem o uso adequado de EPI;
  • Residentes de alto risco em instituições fechadas e hospitais de longa permanência, durante surtos na instituição deverão receber quimioprofilaxia, se tiverem comorbidades;

OBS: Não é recomendada se o período após a última exposição a uma pessoa com infecção pelo vírus for maior que 48 horas.

Ajuste da dose para função renal 

Comprometimento Renal Tratamento 5 dias Profilaxia 10 dias
Leve

Clearance > 60-90 mL/min

75 mg 12/12h 75 mg 1x ao dia
Moderado

Clearance > 30-60 mL/min

30 mg 12/12h 30 mg 1x ao dia
Grave

Clearance > 10-30 mL/min

30 mg 1x ao dia 30 mg em dias alternados
Pacientes em hemodiálise

Clearance ≤ 10 mL/min

30 mg após cada sessão de hemodiálise* 30 mg após cada sessão alternada de hemodiálise
Pacientes em diálise Peritoneal Contínua ambulatorial – dPCa

Clearance ≤ 10 mL/min

Única dose de 30 mg administrada imediatamente após troca da diálise 30 mg 1 vez por semana imediatamente após troca da diálise**

 

Fonte: CDC adaptado (2011, 2017)
* Sendo apenas três doses (em vez de cinco) após cada sessão de hemodiálise, considerando-se que num período de cinco dias serão realizadas três sessões
** Serão duas doses de 30 mg cada, considerando-se os dez dias, onde ocorrerão apenas duas sessões de diálise

Considerações adicionais — Terapia Adjuvante: 

  • Macrolídeos: existe evidência, de um único estudo randomizado, de maior redução de citocinas pró-inflamatórias quando do uso associado da Azitromicina e Oseltamivir (Lee et al. 2017). No entanto, ainda não é possível estabelecer recomendações para tal associação rotineira.
  • Corticoides: no momento, dada a sugestão de dano, não devem ser usados (a menos que exista uma outra indicação clara para seu uso);
  • Antibioticoterapia para Pneumonia Comunitária: se evolução desfavorável em 3 a 5 dias do tratamento com Oseltamivir, considerar coinfecção bacteriana e início de antibioticoterapia.

Referências bibliográficas:

  1. Lee N, Hui DS, Zuo Z, et al. A prospective intervention study on higher-dose oseltamivir treatment in adults hospitalized with influenza a and B infections. Clin Infect Dis. 2013;57(11):1511-1519. doi:10.1093/cid/cit597. 
  2. Uyeki TM, Bernstein HH, Bradley JS, et al. Clinical Practice Guidelines by the Infectious Diseases Society of America: 2018 Update on Diagnosis, Treatment, Chemoprophylaxis, and Institutional Outbreak Management of Seasonal Influenza, Clinical Infectious Diseases. 2019;68(6):e1–e47, https://doi.org/10.1093/cid/ciy866.
  3. Lee N, Wong CK, Chan MCW, et al. Anti-inflammatory effects of adjunctive macrolide treatment in adults hospitalized with influenza: A randomized controlled trial. Antiviral Res. 2017;144:48-56. doi:10.1016/j.antiviral.2017.05.008.
  4. Ministério da Saúde (BR). Protocolo de tratamento de Influenza: 2017 [recurso eletrônico] / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. – Brasília : Ministério da Saúde, 2018.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo

Selecione o motivo:
Errado
Incompleto
Desatualizado
Confuso
Outros

Sucesso!

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo.

Você avaliou esse artigo

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Baixe o Whitebook Tenha o melhor suporte
na sua tomada de decisão.

Especialidades