Osteoartrite: quais as principais atualizações no tratamento?

A osteoartrite, antigamente chamada de “artrose”, é um processo degenerativo, inflamatório e imunológico do sistema articular.

A osteoartrite (OA), antigamente chamada de “artrose”, é um processo degenerativo, inflamatório e imunológico do sistema articular – articulação (“juntas”), sinóvia, músculos, cartilagem, ligamentos e ossos.

No mínimo, 240 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem de OA. Os sintomas – dor, diminuição de mobilidade e qualidade de vida – se iniciam, em média, aos 55 anos. A OA não tem cura, mas muito se tem estudado sobre novos conceitos, prevenção e tratamento.

Hoje em dia, a osteoartrite é uma doença considerada heterogênea e tem causa multifatorial, como trauma, cirurgia, obesidade, desalinhamento articular, genética, envelhecimento e tabagismo. Os locais mais acometidos são: joelho, mão, quadril e coluna vertebral.

Osteoartrite

A doença se inicia antes mesmo das alterações radiológicas. Resumidamente, por ordem de acontecimentos, há: desorganização da matriz extracelular; degradação de colágeno e matriz articular; produção de citocinas; degradação de cartilagem; apoptose (morte) de condrócitos; aparecimento de osteófitos (“bicos de papagaio”); esclerose subcondral e afrouxamento de tendões.

Os fatores imunológicos descritos são: interleucinas (principalmente 1 beta), fator de necrose tumoral alfa, radicais livres de oxigênio, betacatenina, metaloproteinases e desintegrases.

Fenótipos OA

Como a OA é uma doença heterogênea, a tendência atual é dividi-la em subtipos ou fenótipos distintos.
Os fenótipos podem ser definidos como grupos de OA que compartilham os mesmos mecanismos patogênicos, dor, alterações estruturais e funcionais. Isso poderia ajudar a prever o prognóstico e definir alvos terapêuticos eficazes.

Ainda não existe definição clara desses fenótipos, alguns descritos na literatura são: envelhecimento, metabólico, obesidade, trauma. Os pacientes podem classificar para um ou mais fenótipos ao mesmo tempo.

Como as intervenções terapêuticas atuais geralmente visam apenas um ou alguns mecanismos da doença, elas não são igualmente eficazes para todos os fenótipos.

Termo “INFLAMM-AGING”

Foi proposto que com o envelhecimento ocorrem diversas alterações em nosso organismo (instabilidade genômica, alterações nos telômeros, epigenéticas, disfunção mitocondrial, senescência celular, exaustão de stem cells e alterações na comunicação intracelular). Esses processos contribuem com um estado pró-inflamatório (liberação de citocinas tóxicas) crônico presente na OA. Também está presente em doenças crônicas, como osteoporose e sarcopenia.

Disbiose intestinal e osteoartrite

Sabe-se que 60% da nossa flora intestinal é proveniente da alimentação. Além disso, observou-se a relação entre síndrome metabólica e OA.

O microbioma intestinal é fundamental para o funcionamento fisiológico e imunológico do organismo. A disbiose está associada com doenças inflamatórias, autoimunes e metabólicas.

As alterações da microbiota intestinal, causada por excesso de álcool, sal, açúcar, alimentos industrializados, fast-foods e tabagismo geram dano epitelial das células intestinais, alteração do tipo de “bactérias”. Assim, aumentam a permeabilidade intestinal, geram ativação do sistema imune inato e adaptativo, responsável pelo estado pró-inflamatório.

Por isso, é importante ter alimentação saudável, rica em produtos naturais e ser avaliado por um profissional da área de nutrição, para checar necessidade de suplementação com probióticos, vitaminas, proteínas e minerais, se necessário.

Acredita-se que cada doença dá uma “assinatura diferente”, ou seja, as bactérias aparecem em quantidade e tipos diferentes nas fezes. Atualmente existe o exame de sequenciamento genético do microbioma R16S nas fezes. A partir dele, o profissional da nutrição consegue avaliar qual a melhor adaptação a dieta do indivíduo.

Mais da autora: Síndrome dolorosa regional complexa: diagnóstico e tratamento

Biomarcadores

Biomarcadores são substâncias no sangue que indicam inflamação e tem sido propostos como ferramentas de fenotipagem. Podem ser medidos no sangue ou urina. Sua função é fornecer informações sobre atividade inflamatória (citocinas), status metabólico, risco de doenças (estudo genômico). Não existe nenhum protocolo disponível no mercado ainda.

Atualizações no tratamento da osteoartrite

Como a doença é heterogênea e multifatorial, o sucesso do tratamento deve englobar o modelo biopsicossocial.

Em 2019, a ESCEO (European Society for Clinical and Economic Aspects of Osteoporosis, Osteoarthritis and Musculoskeletal Diseases) lançou o artigo: “An updated algorithm recommendation for the management of knee osteoarthritis from the ESCEO”, o qual dá diretrizes gerais para o tratamento de OA.

Adaptado: “An updated algorithm recommendation for the management of knee osteoarthritis from the ESCEO”. Semin Arthritis Rheum. 2019 Dec;49(3):337-350. doi: 10.1016/j.semarthrit.2019.04.008. Epub 2019 Apr 30.

Além das recomendações acima, é importante lembrar:

  • Motivação do paciente para uma atitude ativa;
  • Tentar atuar de forma preventiva;
  • Tomar decisões compartilhadas e individualizadas;
  • Avaliar qualidade do sono e alterações no humor, pois afetam diretamente o quadro de dor;
  • Avaliar necessidade de suplementação alimentar, fitoterápicos (curcuma, harpagophytum) e nutracêuticos (colágenos, probióticos, vitamina D, proteínas, dentre outros);
  • Avaliar terapia por ondas de choque (TOC). Há estudos que demonstram a melhora da dor e função.

Veja mais: Osteoartrite de joelho: qual melhor tratamento para dor a longo prazo?

Em estudos

A literatura mostra dados promissores na área de Medicina Regenerativa, como PRP – Plasma Rico em Plaquetas. No Brasil, ele ainda possui caráter de pesquisa.

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