Otite média aguda: estudo traz esclarecimentos sobre tratamentos com antibióticos e cirúrgicos

Nos EUA, a otite média aguda é a doença mais frequente em crianças, depois do resfriado comum, sendo causada predominantemente por bactérias. Saiba mais.

Um estudo publicado no jornal The New England Journal of Medicine concluiu que, entre crianças de 6 a 35 meses de idade, as taxas de otite média aguda (OMA) recorrente não diferiram significativamente após a colocação de tubos de timpanostomia (CTT) ou tratamento clínico com antibióticos.

Nos Estados Unidos, a OMA é a doença mais frequentemente diagnosticada em crianças depois do resfriado comum, sendo causada predominantemente por bactérias, como Streptococcus pneumoniae e Haemophilus influenzae não tipável. A OMA é também a principal indicação para antibioticoterapia em pediatria no país.

A OMA recorrente é convencionalmente definida como a ocorrência de, pelo menos, três episódios de OMA em seis meses ou, no mínimo, quatro episódios em 12 meses com pelo menos um episódio nos seis meses anteriores. É a principal indicação para CTT, sendo a cirurgia mais frequentemente realizada em crianças após o período neonatal nos Estados Unidos. Por exemplo, somente em 2006, último ano com dados disponíveis, 667.000 crianças com menos de 15 anos de idade (e principalmente com menos de três anos) foram submetidas à CTT em território americano. As recomendações oficiais, no entanto, diferem em relação à CTT para crianças com esse quadro.

otite média aguda

Metodologia do estudo sobre otite média aguda

Diante dessa questão, pesquisadores realizaram um estudo randomizado controlado em que foram incluídas, aleatoriamente, crianças de 6 a 35 meses de idade com diagnóstico de OMA (segundo a definição acima) para serem submetidas à CTT ou tratamento medicamentoso envolvendo antibioticoterapia. O desfecho primário foi o número médio de episódios de OMA por criança-ano (taxa) durante um período de 2 anos. O estudo foi conduzido entre dezembro de 2015 e março de 2020 nos seguintes locais: UPMC Children’s Hospital of Pittsburgh e clínicas afiliadas, Children’s National Medical Center em Washington, D.C ., e Kentucky Pediatric and Adult Research em Bardstown, Kentucky.

Para autenticar os episódios de OMA avaliados pelos médicos do estudo, os pesquisadores exigiram uma história de sintomas agudos que os pais classificaram com uma pontuação de dois ou mais nos sete itens da escala Acute Otitis Media Severity of Symptom (AOM-SOS) e a presença de efusão na orelha média com combinações específicas de otalgia, abaulamento e eritema da membrana timpânica ou otorreia purulenta. Para episódios tratados por médicos não participantes do estudo, foi exigida a documentação de, pelo menos, um sintoma da escala AOM-SOS e achados de protuberância da membrana timpânica ou otorreia purulenta. Todos os pacientes incluídos receberam vacina pneumocócica conjugada.

Leia também: Existe relação entre obesidade em crianças e otite média com efusão?

Foram excluídas crianças submetidas à CTT, adenoidectomia ou amigdalectomia ou que tiveram uma doença crônica, uma anomalia congênita que aumentou o risco de otite média (por exemplo, fenda palatina), otite média com efusão em ambas as orelhas por, pelo menos, três meses de duração ou perda auditiva neurossensorial.

Os pacientes foram avaliados a cada oito semanas depois de randomizadas. As crianças participantes foram estratificadas por idade: 6 a 11 meses, 12 a 23 meses e 24 a 35 meses.

Resultados

De um total de 250 crianças selecionadas, 229 completaram um ano de acompanhamento e 208 completaram dois anos. Foram incluídos 129 participantes no grupo CTT, porém 13 não foram submetidos ao procedimento. Entre as 121 crianças que receberam antibioticoterapia, 54 acabaram evoluindo com CTT (35 [29%] de acordo com o protocolo do ensaio devido a recorrências frequentes de OMA e 19 (16%) a pedido dos pais (um total de 45%).

Os pesquisadores descreveram que, na análise principal de intenção de tratar, a taxa de episódios de OMA por criança-ano durante um período de 2 anos foi de 1,48 ± 0,08 no grupo CTT e 1,56 ± 0,08 no grupo “antibioticoterapia” (P = 0,66). Dez por cento das crianças no grupo CTT não foram submetidas ao procedimento e 16% das crianças no grupo “antibioticoterapia” foram submetidos à CTT a pedido dos pais. Dessa forma, foi realizada uma análise por protocolo, que produziu resultados semelhantes, com taxas de episódios correspondentes de 1,47 ± 0,08 e 1,72 ± 0,11, respectivamente. 

Em crianças de 6 a 11 meses, a taxa de ocorrência de OMA foi de 2,63 vezes a taxa entre aquelas com idade de 24 a 35 meses no momento da inclusão no estudo. Já nas crianças com idade entre 12 e 23 meses no momento da inclusão foi de 1,8 vezes a taxa de crianças mais velhas.

As crianças que foram submetidas ao procedimento cirúrgico de CTT tiveram menos falhas no tratamento e menos dias de sintomas de OMA por ano. Por fim, a porcentagem de episódios graves de otite média aguda ou taxas de resistência microbiana não diferiu entre os grupos.

Conclusão

Esse estudo mostrou que, entre crianças de 6 a 35 meses de idade, o tratamento cirúrgico utilizando tubo de timpanostomia não foi superior ao tratamento clínico com antibioticoterapia na redução da taxa de episódios de OMA durante dois anos subsequentes. Todavia, uma limitação descrita pelos autores decorre das condições de CTT, por diferentes razões e em momentos diferentes, por certas crianças no grupo de tratamento clínico, dificultando a análise.

Saiba mais: Estudo apoia um tempo mais curto de antibioticoterapia para pneumonia em pediatria

Referência bibliográfica:

  • Hoberman A, Preciado D, Paradise JL, et al. Tympanostomy Tubes or Medical Management for Recurrent Acute Otitis Media. N Engl J Med. 2021;384(19):1789-1799. doi: 10.1056/NEJMoa2027278

 

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