Outubro rosa: quais os benefícios da atividade física no câncer de mama?

O mecanismo com que a atividade física reduz o risco de câncer de mama é através da redução dos níveis de estrogênios circulantes e da inflamação. Conheça mais benefícios:

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O câncer de mama é a neoplasia maligna mais comum nas mulheres após o câncer de pele não-melanoma1, representando um quarto de todos os cânceres que atingem o sexo feminino2. O Instituo Nacional de Câncer estima quase 60 mil novos casos de câncer de mama para 2018, especialmente na população acima de 50 anos1.

Fatores comumente associados ao câncer da mama podem ser divididos em não-modificáveis e modificáveis, como a presença de BRCA 1/2 e o sedentarismo, respectivamente. Esse último, juntamente com o excesso de peso, é responsável por 25% dos casos de câncer no mundo3, além de estar ligado a outros inúmeros problemas de saúde, como doenças cardiovasculares e cerebrovasculares, diabetes, depressão e enfraquecimento ósseo4.

Bourke et al (2013), em uma revisão da Cochrane, afirma que a grande maioria dos indivíduos com câncer são sedentários ou não ativos, e que diversas metanálises e ensaios clínicos randomizados para promoção da atividade física e exercício têm sido realizadas, com resultados positivos na melhora da qualidade de vida dos pacientes, assim como redução da fadiga, melhora das capacidades funcional e psicológica e diminuição do risco de morte pelo câncer5,6.

Buffart et al (2017), por exemplo, realizou uma metanálise de 34 ensaios clínicos randomizados que abordaram câncer e exercícios, observando que 70% dos estudos avaliaram pacientes com câncer de mama.7 Com o crescente número de evidências, as principais organizações de saúde (e.g., American Cancer Society; National Comprehensive Cancer Network) passaram a recomendar o exercício como essencial para os pacientes com câncer6.

Em seu capítulo sobre câncer de mama, a American Cancer Society (ACS) afirma que mulheres fisicamente ativas têm 10 a 20% menos risco de câncer de mama do que mulheres que são inativas. Essa redução está associada com quantidades crescentes de exercícios e também atividades mais vigorosas, entretanto, mesmo quantidades menores de exercícios, incluindo caminhadas, se mostraram benéficas, como mostrado no estudo conduzido pela ACS, com mais de 73 mil mulheres em estado de pós-menopausa, o qual identificou redução de 14% no risco de câncer de mama em mulheres que caminhavam mais de sete horas por semana, quando comparadas a mulheres que caminhavam menos de três horas por semana8.

Redução de risco semelhante foi encontrada também no estudo conduzido por Boer et al (2017), usando a mesma linha de corte de sete horas ou mais de atividade física3.

Leia mais: Outubro Rosa: saiba como identificar e tratar o câncer de mama

O mecanismo com que a atividade física reduz o risco de câncer de mama é através da redução dos níveis de estrogênios circulantes (em consequência de uma diminuição do tecido adiposo) e da inflamação e melhora da sensibilidade à insulina, além de diminuir os níveis de insulina no jejum e de IGF-1. A atividade física também tem efeitos imunomodulatórios que melhoram as respostas imunes inata e adquirida e promovem vigilância tumoral.

Estudos ainda demonstram que exercícios aeróbicos podem reduzir o estresse oxidativo e melhorar os mecanismos de reparo do DNA, possivelmente controlando a carcinogênese. Indivíduos ativos tendem a obter maior exposição à luz solar e, portanto, consequente nível mais elevado de vitamina D, a qual pode interferir no processo de proliferação celular4.

Há também benefícios da AF exercida durante o tratamento, com melhor resposta ao mesmo, promovendo melhor convívio com efeitos adversos, além na manutenção da forma física, e evita a perda de massa muscular e ganho de tecido adiposo, reduzindo fadiga e deterioração da qualidade de vida7.

A atividade física, em qualquer nível, no pós-diagnóstico é capaz de reduzir a mortalidade nas pacientes com câncer de mama em aproximadamente 30%, especialmente nas pacientes acima de 50 anos. Em mulheres com tumores com receptor positivo para estrogênio, a atividade física reduziu a mortalidade específica em 50%3.

Quanto à recidiva, também tem se mostrado benefícios com a AF regular de intensidades moderada à vigorosa.3 Seguindo a mesma linha, Holmes et al demonstrou que a sobrevida em 10 anos para mulheres ativas (intensidade moderada) foi de 92% contra 86% em mulheres sedentárias.9
E que tipos de exercícios são efetivos? Alguns exemplos a seguir:

A ACS recomenda sessões de 45-60 minutos em pelo menos cinco dias da semana, sem descrever um tipo específico de exercício, mas que se enquadre dentro da intensidade minimamente moderada.3

A revisão da Cochrane cita duas sessões por semana de treinamento resistido dos grandes grupos musculares (eg., musculação), com duas a quatro séries de 12 repetições, em até 60% de uma repetição máxima5,6.

Esta mesma revisão enfatiza que, independente do tipo de exercício escolhido, a AF supervisionada apresenta melhores resultados3,7. Assim, a elaboração do plano de exercícios deverá levar em consideração a individualidade do paciente, como sua frequência, duração, volume e intensidade. Com a supervisão também se avalia a segurança do exercício e a progressão do paciente, conforme a doença evolui3.

Todos esses dados apresentados mostram que a atividade física é uma prática relativamente conveniente, fácil e barata, capaz de prevenir e/ou modificar o risco da doença e também seu desfecho3.

Por fim, e não menos importante, ressalta-se a informação de que mesmo mulheres que eram sedentárias previamente ao diagnóstico têm igual efeito na redução da mortalidade após se engajarem em um programa de atividade física regular; ou seja, nunca é tarde para (re)começar10.

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Referências:

  1. INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER JOSÉ DE ALENCAR GOMES DA SILVA. Mama. Disponível em: http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/tiposdecancer/site/home/mama/cancer_mama. Acesso em: 18 out. 2018.
  2. BREAST CANCER RESEARCH FOUNDATION. Breast Cancer Statistics. Disponível em: https://www.bcrf.org/breast-cancer-statistics. Acesso em: 18 out. 2018
  3. BOER, Myrte C. de et al. The Mechanisms and Effects of Physical Activity on Breast Cancer. Clinical Breast Cancer, [s.l.], v. 17, n. 4, p.272-278, jul. 2017. Elsevier BV. http://dx.doi.org/10.1016/j.clbc.2017.01.006.
  4. WORLD CANCER RESEARCH FUND INTERNATIONAL (Org.). Physical activity and the risk of cancer. Disponível em: https://www.wcrf.org/sites/default/files/Physical-activity.pdf. Acesso em: 16 out. 2018.
  5. BOURKE Liam, et al. Interventions for promoting habitual exercise in people living with and beyond cancer. Cochrane Database of Systematic Reviews 2013, v. 9. Art. No.: CD010192. DOI: 10.1002/14651858.CD010192.pub2.
  6. CORMIE, Prue et al. Implementing exercise in cancer care: study protocol to evaluate a community-based exercise program for people with cancer. BMC Cancer, [s.l.], v. 17, n. 1, p.1-10, 6 fev. 2017. Springer Nature. http://dx.doi.org/10.1186/s12885-017-3092-0.
  7. BUFFART, Laurien M. et al. Effects and moderators of exercise on quality of life and physical function in patients with cancer: An individual patient data meta-analysis of 34 RCTs. Cancer Treatment Reviews, [s.l.], v. 52, n. 1, p.91-104, jan. 2017. Elsevier BV. http://dx.doi.org/10.1016/j.ctrv.2016.11.010.
  8. DESANTIS, Carol; SIEGEL, Rebecca, AHMEDIN, Jemal. Breast Cancer Facts & Figures 2017-2018. Atlanta: American Cancer Society, 2017. 42 p.
  9. HOLMES, Michelle D. et al. Physical activity and survival after breast cancer diagnosis. JAMA 2005 May 25;293(20):2479-86. DOI: 10.1001/jama.293.20.2479.
  10. AMMITZBØLL, Gunn et al. Physical activity and survival in breast cancer. European Journal Of Cancer, [s.l.], v. 66, n. 1, p.67-74, out. 2016. Elsevier BV. http://dx.doi.org/10.1016/j.ejca.2016.07.010.

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