Oxigênio na UTI: quais alvos utilizar?

Uma abordagem liberal de oxigênio gera risco de hiperoxemia inadvertida, enquanto uma abordagem conservadora oferece risco de hipoxemia.

A oxigenioterapia em pacientes graves é alvo de discussão. Terapia que tem impacto diretamente na sobrevida, frequentemente é necessária para prevenção de hipoxemia. Já é de conhecimento na literatura que hiperóxia pode induzir dano, assim como metas conservadoras de oxigenação não estão diretamente ligadas a piores desfechos.

Leia também: A vitamina C intravenosa é eficaz em pacientes graves?

Por um lado, uma abordagem liberal de oxigênio possibilita risco de hiperoxemia inadvertida, enquanto uma abordagem conservadora oferece risco quanto à hipoxemia. O artigo Oxygen targets, publicado na Intensive Care Medicine, em abril de 2022, trouxe um painel de evidências correlacionando alvos de SpO2 e perfis de pacientes.

  • Oxygen-ICU Trial (480 pacientes): abordagem conservadora de oxigênio reduziu a mortalidade. Tal achado não foi confirmado pelos trials posteriores;
  • ICU-ROX Trial (1.000 pacientes): sem diferença estatística no desfecho primário (dias-livre de ventilação mecânica);
  • LOCO2 Trial (205 pacientes): abordagem conservadora pode ter tido relação com aumento do risco de isquemia mesentérica. Interrompido de forma precoce. Sem diferença significativa em relação à mortalidade em 28 dias (desfecho primário);
  • HOT-ICU Trial (2.928 pacientes): não confirmou associação da abordagem conservadora com maior risco de isquemia mesentérica. Sem diferença quanto à mortalidade.

Análises post-hoc do ICU-ROX trial sugerem:

  • Níveis mais conservadores de oxigênio são preferenciais para pacientes com encefalopatia hipóxico-isquêmica;
  • Níveis mais elevados de oxigênio são preferenciais para pacientes com outras patologias cerebrais agudas e sepse.

Análises post-hoc do HOT-ICU trial levantaram a possibilidade de alvos mais elevados de oxigenação serem preferenciais em pacientes com choque.

Oxigênio na UTI: quais alvos utilizar?

Diante das evidências mais atualizadas, quais recomendações devemos seguir na prática?

Os trials até então publicados avaliaram populações e alvos específicos. Abordagens que levam em conta alvos ou perfis de pacientes fora dos já estudados são consideradas experimentais e não devem ser utilizadas de rotina.

Se optar por um alvo maior de oxigenação para um paciente, é importante mensurar a PaO2 para prevenir exposição não intencional de hiperóxia.

Vamos então resumir quais recomendações mais atualizadas devemos seguir!

Níveis de oxigênio para pacientes na UTI 

Alvos de Oxigenação Recomendações Grupos de pacientes que podem se beneficiar dessa abordagem
Muito oxigênio

(PaO2 > 110 mmHg)

Essa estratégia não foi ainda amplamente testada e não deve ser utilizada de rotina

?

Um pouco mais de oxigênio

(PaO2 80-110 mmHg)

Essa estratégia já foi amplamente testada e pode ser utilizada de forma rotineira Pacientes com sepse, outras patologias cerebrais agudas e choque
Um pouco menos de oxigênio

(PaO2 60-80 mmHg)

Essa estratégia já foi amplamente testada e pode ser utilizada de forma rotineira Encefalopatia hipóxico-isquêmica
Não tanto oxigênio!

(PaO2 < 60 mmHg)

Essa estratégia não foi ainda amplamente testada e não deve ser utilizada de rotina

?

Novas evidências estão em andamento:

  • BOX trial – Blood Pressure and Oxygenation Targets after Out-Of-Hospital Cardiac Arrest (NCT03141099)
  • The conservatIve versus CONventional oxygenation targets in Intensive Care patients” trial (ICONIC) (NTR7376)
  • Strategy to Avoid Excessive Oxygen for Critically Ill Trauma Patients (SAVE-O2) (NCT04534959)
  • Restrictive vs. Liberal Oxygen in Trauma (TRAUMOX2) (NCT05146700);
  • United Kingdom Randomised Oxygen (UK-ROX) trial (ISRCTN13384956)
  • Mega Randomised Oxygen (Mega-ROX) trial (ACTRN12620000391976).

Saiba mais: Quando indicar a nutrição parenteral em pacientes graves?

Mensagens Práticas

  • Diferenças clínicas na mensuração da SpO2 (saturação periférica) em relação à SaO2 (saturação arterial) podem ocorrer. Um exemplo é o paciente mal perfundido, com dose elevada de droga vasoativa ou até mesmo com extremidades frias;
  • Portanto, em cenários de alterações importantes nos valores de SpO2, é importante obter uma gasometria arterial. Tal conduta pode evitar períodos de hiperoxemia inadvertidos e definir a real oxigenação do seu paciente;
  • Em relação aos níveis de O2, o guia exposto acima é pragmático e reúne as principais evidências sobre o tema;
  • Quando você identificar pacientes que, em geral, cursam com SpO2 de 100%, em uso de O2 suplementar ou na ventilação mecânica, devemos ativamente evitar a hiperoxemia;
  • Não esqueça, o subgrupo de pacientes com encefalopatia hipóxico-isquêmica beneficiam-se de alvos mais conservadores!

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo

Selecione o motivo:
Errado
Incompleto
Desatualizado
Confuso
Outros

Sucesso!

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo.

Você avaliou esse artigo

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Baixe o Whitebook Tenha o melhor suporte
na sua tomada de decisão.
Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo

Especialidades