Pacientes somatizadores: o que não fazer no atendimento?

Alguns erros ainda são cometidos com frequência no atendimento a pacientes somatizadores. Veja quais nesse artigo e como lidar com a questão.

Pacientes somatizadores – aqueles que apresentam sintomas ou queixas sem explicação médica, geralmente relacionadas a sofrimentos emocionais – são muito comuns na prática do Médico de Família e Comunidade. A utilização do Método Clínico Centrado na Pessoa (MCCP) é essencial para acolher adequadamente o paciente, entendendo seu processo de adoecimento e evitando intervenções médicas (diagnósticas e terapêuticas) desnecessárias e potencialmente danosas.

A Abordagem Familiar também é um instrumento de muita utilidade para que o médico tenha sucesso no cuidado a esses pacientes – principalmente levando-se em consideração que: conflitos interpessoais, histórias de abuso físico ou sexual ao longo da vida e ganhos secundários com o “papel de doente” são fatores de risco para o desenvolvimento desses sintomas de maneira crônica. No entanto, alguns erros ainda são cometidos com frequência no atendimento a pacientes somatizadores.

Como lidar com pacientes somatizadores

O que não dizer a pacientes somatizadores

Primeiramente, a comum expressão “você não tem nada” deve ser evitada a todo custo. Além de comprometer o vínculo entre o médico e a pessoa, esse tipo de fala contribui para desfechos menos positivos para o paciente. Assim, é importante concordar com a pessoa de que, de fato, há um problema. Não se deve “desafiar” o paciente, desconfiando da veracidade ou do impacto que a queixa produz. Evidentemente, o paciente possui “alguma coisa”, mesmo que não possa ser identificada fisicamente ou medicamente explicada. Acolher o paciente em seu relato e valorizar a queixa é essencial.

Outro erro comum é o de dar diagnósticos orgânicos, mesmo eles não existindo. Isso pode ocorrer como uma tentativa do médico de satisfazer a expectativa do paciente em ter uma explicação para seu problema – e também a sua própria expectativa nesse sentido. É importante lembrar que, muitas vezes, o atendimento dessa expectativa é maior para o médico do que para o paciente, que, não raro, busca mais acolhimento e compreensão do que explicações.

Da mesma maneira, costumeiramente, a remissão completa dos sintomas não se apresenta como o principal desejo do paciente. A preocupação excessiva do médico em resolver imediatamente suas queixas pode levar a tratamentos ineficazes, sobremedicalização e danos desnecessários. Novamente, o paciente somatizador geralmente busca mais ser escutado do que necessariamente tratado com medicamentos. Ser simplesmente informado de que seus sintomas não apresentam sinais de gravidade também comumente alivia as preocupações do paciente. É importante valorizar essas preocupações e abordar a sua experiência com o adoecimento.

Finalmente, tentar convencer os pacientes de algo que eles não querem ou não podem ser convencidos é uma atitude equivocada e frequente na abordagem dos médicos. Se adiantar para dar uma solução rápida e simples nesses casos – bem como prematuramente apontar os problemas emocionais como os causadores dos sintomas – não trará bons resultados. O processo de ressignificação desses sintomas é gradual e deve ser realizado passo a passo. Por mais que, na cabeça do médico, a ligação entre as questões emocionais e as manifestações clínicas estejam claras, é necessário que o próprio paciente realize essa conclusão.

É preciso que a própria pessoa construa esse sentido, para que assim possa ressignificar seu sofrimento. Para tanto, é essencial uma postura de paciência por parte do médico, resistindo à tentação de ser um “prescritor de soluções”, a partir do entendimento da complexidade dos problemas de saúde. Atender o paciente com regularidade e frequência, envolver a equipe multidisciplinar no acompanhamento e evitar exames e tratamentos desnecessários são estratégias que podem auxiliar o médico nessa desafiante jornada que é o cuidado a pacientes somatizadores.

Referências bibliográficas:

  • DUNCAN, B .B.; SCHMIDT, M. I.; GIULIANI, E. R. J. Medicina Ambulatorial: Condutas de Atenção Primária Baseadas em Evidências. Capítulo 112: Queixas somáticas sem explicação médica. 3ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2013.
  • Gusso G, Lopes JMC. Tratado de Medicina de Família e Comunidade – 2a edição. Cap. 237: Somatização e sintomas sem explicação médica. Editora Artmed, 2019.

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