Papel dos testes de triagem no diagnóstico clínico pré-demencial

Com a possibilidade do tratamento da demência, em especial a doença de Alzheimer (DA), o seu diagnóstico precoce tornou-se ainda mais importante.

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Com a possibilidade do tratamento da demência, em especial a doença de Alzheimer (DA), o seu diagnóstico precoce tornou-se ainda mais importante. O médico clínico muitas vezes não consegue o diagnóstico destes estágios demenciais iniciais somente através da história e exame físico do paciente. Segundo estudo da Divisão de Gerontologia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (FCM – UNICAMP), os clínicos fazem pouca triagem de demência em sua prática e mais de 50% dos pacientes com a doença nunca receberam o diagnóstico ao longo de meses ou anos de acompanhamento clínico.

Segundo esse mesmo estudo, apesar de 82,7% dos clínicos gerais acreditarem que o rastreio cognitivo é necessário, somente 25,7% fazem uma triagem utilizando algum instrumento. Outro estudo demonstrou que metade dos familiares de pacientes de sexo masculino com demência leve nunca percebeu problemas de memória ou de pensamento neles. Pacientes que não receberam o diagnóstico correto estão entre 50% e 66% de todos os casos de demência em um estudo da USP de atenção primária. A maioria dos casos sub-diagnosticados classificou-se como leve ou moderado.

Dessa forma, parece fundamental a triagem dos pacientes com 60 anos ou mais, ou seja, em risco para a doença, para que se possa organizar um plano terapêutico e, quando possível, orientá-lo, bem como os seus familiares, quanto a possibilidade da evolução e implicações da síndrome. Após uma triagem positiva, seguindo os critérios da American Psychiatry Association (DSM-V), o paciente poderia ser submetido a uma entrevista aprofundada utilizando os exames neuropsicométricos completos para o diagnóstico efetivo da doença e das etapas mais específicas no processo diagnóstico das demências, como a distinção do declínio cognitivo normal e patológico para o diagnóstico precoce da demência associada a doença de Alzheimer.

Portanto, adicionar um teste neuropsicométrico à prática clínica parece aumentar potencialmente as probabilidades de se diagnosticarem as demências precocemente, principalmente os casos leves e iniciais, nos quais tanto a intervenção terapêutica e de suporte apresentariam melhores benefícios.

LEIA MAIS: Imagem nas demências – onde estamos e para onde iremos

Para tanto, seria fundamental um instrumento de triagem de déficit cognitivo próximo do ideal, fornecendo maior segurança possível para o rastreio da demência:

a) rápido na sua administração (poucos minutos) para ter adesão entre os profissionais de diversas áreas;
b) ser bem tolerado e aceitável pelos pacientes;
c) ser facilmente interpretado;
d) ter independência cultural, de linguagem e de escolaridade;
e) poder ser bem reproduzido em outros estudos e ter desempenho semelhante entre os examinadores;
f) ter valores elevados de sensibilidade e especificidade;
g) apresentar correlação com outros testes tradicionais e bem validados na literatura, além de correlação com escalas de avaliação e diagnóstico clínico de demência;
h) ter bom valor preditivo.

Tal instrumento não existe, entretanto, dos adaptados os mais usados são: Mini-Exame do Estado Mental (MEEM), Teste do desenho do relógio (TDR), Fluência verbal (FV), Avaliação Cognitiva de Montreal (MoCA), entre outros utilizados no cotidiano, isolados ou combinados, obtendo bons resultados.

O MEEM é o instrumento de rastreio cognitivo breve mais utilizado no contexto clínico e mais referido na literatura. Na década de 70, ele apresentou um incontestável avanço no contexto de avaliação global cognitiva breve. Contudo, atualmente são apresentadas diversas limitações de sua confiabilidade como sua baixa sensibilidade, sua reduzida complexidade e principalmente pela função executiva que não é bem avaliada no MEEM e está presente inicialmente em diversos casos de síndrome demencial como manifestação quase que exclusiva. Admite-se que ele pode ser considerado adequado para o rastreio breve de populações com baixa escolaridade, sobretudo com idades mais avançadas.

Nos últimos anos, pelas suas limitações e numa tentativa de melhorar a precisão no rastreio cognitivo breve, foram surgindo e sendo desenvolvidas alternativas de instrumentos de rastreio. Neste contexto, o MoCA tem sido considerado mais promissor, oferecendo dados mais robustos. Seu desenvolvimento se estendeu ao longo de cinco anos, chegando a um protocolo de uma página com aplicação aproximada de 15 min e avaliando seis domínios cognitivos. Comparativamente ao MEEM, o MoCA avalia mais funções incluindo o domínio das funções executivas e combinando com outros instrumentos complementares ao MEEM, fazendo do MoCA um instrumento mais completo, mais exigente das funções cognitivas, com melhor sensibilidade dos seus resultados nos déficits mais leves e apresentando maior adequação com escolaridades mais elevadas. Por estes motivos, teve rápida disseminação e validação para mais de 36 países.

Para ter acesso a ambos os instrumentos verifique os links abaixo:

LEIA MAIS: Avaliação neuropsicológica – o que é?

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