Parto humanizado: como construir uma relação positiva com as doulas?

Artigos científicos mostram que o suporte prestado por doulas no pré-natal, parto e puerpério aumentam a experiência positiva do parto.

Uma personagem muito importante no combate a violência obstétrica é a doula. Diversos artigos científicos mostram que o suporte prestado por elas durante o pré-natal, parto e puerpério aumentam a experiência positiva de parto, diminuem intervenções obstétricas e estimulam o aleitamento materno exclusivo. Inclusive o Ministério da Saúde recomenda às maternidades estimularem a presença de doulas durante o trabalho de parto, sendo que elas não podem ser da equipe do hospital, e sim, escolhidas pelas gestantes, por afinidade.

Parto humanizado como construir uma relação positiva com as doulas

Doulas e o parto

Pelo parto ser um processo fisiológico e cultural complexo, envolvendo múltiplos fatores e experiências individuais, novamente esbarramos em questões culturais na implementação das doulas na assistência materno e fetal. E não pense que essa é uma questão apenas do Brasil, um país com assistência obstétrica “obsoleta” como muitas doulas militam em suas redes sociais. Segundo O’Connor (2021), existem tensões claras na Austrália entre doulas e a equipe obstétrica profissional, como parteiras e obstetras. Especialmente se desafiarem o manejo obstétrico proposto. Exatamente o que acontece quando não conseguimos trabalhar como equipe e com o mesmo objetivo, que deveria sempre ser, o bem estar materno e fetal.

O movimento de humanização do parto nos últimos anos tem seguido uma linha um tanto quanto radical. De modo que a linha tênue entre autonomia médica, da doula e da gestante fica indefinida. E assim, o profissional que carrega a maior responsabilidade pela vida do bebê e da mãe sente essa tensão descrita pelo O’Conner (2021). Em contrapartida, quando obstetra e doula trabalham com respeito, empatia e com o objetivo da gestante ter uma experiência de parto positiva e segura, além da preocupação com o bem estar fetal, temos a assistência obstétrica de excelência que tanto procuramos.

Precisamos entender que um precisa do outro. Nós obstetras não sabemos exercer a função de doula, pois fomos treinados para agir de maneira técnica. E as doulas não têm formação técnica para agir como obstetras ou obstetrizes. Somos nós que sabemos o desfecho que pode surgir diante de um sofrimento fetal agudo, e somente nós podemos resolver essa questão. O grande problema está na maneira que falamos isso.

A maioria das violências obstétricas surgem devido a falta de comunicação entre obstetra e paciente ou familiares. Diante de uma necessidade real de realizar qualquer intervenção devemos ter o mínimo de respeito e empatia pela família, e orientar o que iremos fazer e o porquê. Se a paciente for do seu pré-natal, espera-se que ela, o acompanhante e sua doula já saibam como você trabalha e tenham plena convicção que se você precisou intervir foi porque foi necessário.

Neste momento, vários médicos devem estar se perguntando: “mas porque eu preciso explicar o que eu faço, se eu sei o que é melhor para essa gestante e para esse bebê?”. É importante lembrar que, se todo esse movimento da humanização teve que acontecer, é porque em algum momento essa comunicação se perdeu, e assim perdemos a confiança das pacientes, acompanhantes e doulas.

Mensagem final

Como já disse no texto sobre violência obstétrica, todos temos um único objetivo: mãe e bebê saudáveis após o parto. Portanto chegou a hora de trabalharmos todos juntos, cada um ceder um pouco e deixar o ego de lado, para benefício das gestantes e bebês que prestamos assistência. Seja honesto na hora de prescrever ocitocina, seja honesto na hora de indicar uma cesárea, seja honesto caso não faça parto normal, todos ganham com isso. E para as doulas, peço um pouco de empatia, estamos tentando o nosso melhor, não é fácil essa mudança, não é fácil trabalhar sem equipe especializada, não é fácil trabalhar sem estrutura, mas principalmente, é péssimo trabalhar com equipe desunida. Se queremos o mesmo para a gestante, precisamos falar a mesma língua.

Referências bibliográficas:

  • Attanasio LB, DaCosta M, Kleppel R, Govantes T, Sankey HZ, Goff SL. Community Perspectives on the Creation of a Hospital-Based Doula Program. Health Equity. 2021 Sep 3;5(1):545-553. doi: 10.1089/heq.2020.0096.
  • Rousseau S, Katz D, Shlomi-Polachek I, Frenkel TI. Prospective risk from prenatal anxiety to post traumatic stress following childbirth: The mediating effects of acute stress assessed during the postnatal hospital stay and preliminary evidence for moderating effects of doula care. Midwifery. 2021 Dec;103:103143. doi: 10.1016/j.midw.2021.103143.
  • O’Connor M. Doulas from Cradle to Grave: Integration into Conventional Medical Care. J Law Med. 2021 Dec;28(4):946-954. PMID: 34907678.
  • Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de Gestão e Incorporação de Tecnologias em Saúde. Diretrizes nacionais de assistência ao parto normal / Ministério da Saúde, Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, Departamento de Gestão e Incorporação de Tecnologias em Saúde. – Brasília : Ministério da Saúde, 2017.

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