Perturbações do sono e delirium em crianças após cirurgia cardíaca

Estudo demonstrou que a maioria das crianças em UTIPC apresenta graves perturbações do sono, e que o delirium é muito comum nesses pacientes.

Um estudo piloto publicado no jornal Pediatric Critical Care Medicine demonstrou que a maioria das crianças em Unidades de Terapia Intensiva Pediátrica Cardíaca (UTIPC) apresenta graves perturbações do sono, além disso, o artigo destaca que o delirium é muito comum nesses pacientes.

Pacientes pediátricos com cardiopatia congênita submetidos à cirurgia de revascularização do miocárdio estão expostas a fatores de risco associados a distúrbios do sono e delirium no período pós-operatório. A maioria das crianças internadas em UTIPC tem menos de três anos de idade, faixa etária durante a qual há um rápido desenvolvimento neurocognitivo e, dessa forma, um sono saudável é essencial. Sabe-se que a interrupção do sono é um fator de risco potencial para o desenvolvimento de delirium. Além disso, os pacientes que desenvolvem delirium geralmente não têm um sono consolidado. 

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Perturbações do sono e delirium em crianças após cirurgia cardíaca

Analises e métodos

Estudos recentes demonstraram que crianças submetidas a cirurgias cardíacas apresentam alterações significativas nos ritmos de atividade diurna e noturna. Outros estudos envolvendo crianças em estados graves resultaram em uma prevalência de delirium igual ou superior a 50%, associada a maior risco de mortalidade e a maior tempo de hospitalização. Ademais, pacientes em pós-operatório de cirurgia cardíaca podem apresentar maior risco de interrupção do sono e delirium do que outras crianças em estados graves com complicações secundárias a cardiopatia cianótica, exposição prolongada à anestesia e circulação extracorpórea. É importante lembrar que esses pacientes frequentemente requerem ventilação mecânica pós-operatória e duração prolongada de analgesia e sedação para aumentar a segurança da cânula endotraqueal e diminuir a demanda metabólica.  

Em um estudo piloto observacional prospectivo, os pesquisadores Gregory, Brown e Kudchadkar procuraram demonstrar a viabilidade do monitoramento da actigrafia em pacientes pediátricos de UTIPC, com o objetivo de investigar a associação entre as características do sono e o desenvolvimento de delirium nesses pacientes. Foi utilizada uma amostra de conveniência de crianças com idade igual ou superior a seis meses de idade e que foram submetidas à cirurgia de revascularização do miocárdio no Children’s National Medical Center e admitidas no pós-operatório na UTIPC, no período entre junho de 2016 a junho de 2017. Foram incluídos apenas os pacientes admitidos no dia da cirurgia para minimizar qualquer possível interrupção do sono ou mudança no padrão de sono devido à hospitalização antes da cirurgia. A avaliação do padrão de sono das crianças foi efetuada por meio dos questionários (aplicados aos pais) Brief Infant Sleep Questionnaire ou o Children’s Sleep Habits Questionnaire. A avaliação de delirium à beira-leito foi feita usando a ferramenta Cornell Assessment of Pediatric Delirium.

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Foram triados 20 pacientes elegíveis e abordados, e o consentimento informado foi obtido em 19/20. Dezoito desses pacientes completaram o estudo sem interrupções na coleta de dados da actigrafia, variando de dois a sete dias de coleta contínua de dados. Um paciente não concluiu o estudo porque o relógio de actigrafia foi perdido durante a admissão. No total, 63 dias de dados de actigrafia na UTIPC foram coletados e analisados. A mediana da idade dos pacientes foi de 36 meses e a mediana de internação na UTIPC foi de dois dias. O tempo mediano de sono entre todos os pacientes foi de 37 minutos de duração. Já o episódio de sono mais longo teve uma mediana de 117 minutos. Os pesquisadores descreveram que 61% dos pacientes tiveram triagem positiva para delirium pelo menos uma vez durante a admissão, sendo que o número médio de dias em delirium entre as crianças que foram positivas foi de 2 dias. Além disso, a porcentagem média do tempo de sono foi de 43% para pacientes com delirium e 49% para os pacientes que não tiveram delirium, com mediana de sono semelhante e episódios de sono mais longos. Por fim, a proporção média de atividade diurna/atividade de 24 horas foi de 54% em ambos os grupos. 

Conclusão

Apesar de ser um estudo piloto, os resultados mostram que o monitoramento da actigrafia em conjunto com a triagem do delirium é viável tanto em bebês quanto em crianças admitidas na UTIPC. Os pesquisadores salientam que esses dados preliminares sugerem que o delirium é frequente nesses pacientes e que a maioria das crianças na UTIPC apresenta distúrbios graves do sono. Infelizmente, o delirium em crianças ainda é uma complicação pouco compreendida e muito subdiagnosticada em pediatria. A relevância desse estudo está no fato de ter demonstrado a viabilidade de conduzir um estudo observacional prospectivo multicêntrico usando ferramentas não invasivas à beira do leito para investigar possíveis relações causais entre sono e delirium nessas unidades. 

Referências bibliográficas:

  • Gregory JL, Brown AT, Kudchadkar SR. Characterizing Sleep Disruption and Delirium in Children After Cardiac Surgery: A Feasibility Study [published online ahead of print, 2021 May 21]. Pediatr Crit Care Med. 2021 May 21. doi: 10.1097/PCC.0000000000002777. 

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