Um medicamento desenvolvido por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) tem apresentado resultados promissores no tratamento do câncer de bexiga. Trata-se do OncoTherad (Oncology Therapy Adjuvant).
A tecnologia foi licenciada com exclusividade para a empresa Nanoimmunotherapy Pharma, formada por docentes e pesquisadores da Unicamp. A patente da tecnologia foi concedida nos Estados Unidos pelo United States Patent and Trademark Office (USPTO, na sigla em inglês).
OncoTherad
O tratamento experimental conseguiu eliminar o tumor em 77,3% dos participantes e, nos demais casos, a doença retornou menos agressiva. Os voluntários têm sido acompanhados há quase três anos e, até agora, ninguém retirou a bexiga ou veio a óbito.
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“Trata-se de um imunoterápico totalmente desenvolvido em uma universidade pública brasileira, com patente 100% brasileira, um acontecimento inédito no país. Isso abre a possibilidade de negociação com grandes companhias farmacêuticas, que poderão nos ajudar a colocar o produto no mercado”, disse o professor do Instituto de Biologia da Unicamp, Wagner José Fávaro, que também é inventor do medicamento ao lado do professor Nelson Duran, em entrevista ao Portal da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
Metodologia e resultados
Foram recrutados 58 voluntários, mas somente 44 (30 homens + 14 mulheres) atendiam a todos os critérios de inclusão na pesquisa. Os ensaios clínicos foram realizados no Hospital Municipal de Paulínia, sob o comando do médico urologista João Carlos Cardoso Alonso.
A meta era testar a segurança e a eficácia do imunoterápico em pacientes que não responderam ao tratamento de primeira linha para tumores não músculo-invasivo.
Durante seis semanas, os voluntários foram submetidos a aplicações semanais de OncoTherad dentro da bexiga e por via intramuscular nos glúteos. Nos seis meses seguintes, as aplicações passaram a ser quinzenais. Por último, foram realizadas aplicações mensais até completar dois anos de tratamento. A cada três meses os pacientes passavam por exames para monitorar a evolução do tumor.
Ao final de 18 meses, 77,3% dos voluntários ainda se mantinham livres da enfermidade. Em dez pacientes o câncer voltou menos agressivo e as lesões foram removidas por raspagem. Em outros dois participantes o tumor voltou após os 18 primeiros meses, também de forma atenuada. Ninguém precisou remover a bexiga até o momento.
Entre os efeitos colaterais foram relatados apenas sintomas leves estão cistite, ardência ao urinar, dores nas articulações, coceiras no corpo e pele avermelhada, febre baixa e dor abdominal.
As próximas etapas de desenvolvimento do fármaco dependem de uma negociação com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a indústria farmacêutica.
“Os ensaios clínicos multicêntricos de fases 2 e 3 necessitam de uma estrutura fabril com certificações da Anvisa. A obtenção da patente nos Estados Unidos deve nos ajudar nesse processo de interlocução com os órgãos reguladores”, contou o professor Wagner Fávaro, que complementou que os resultados iniciais abrem caminho para um melhor tratamento e qualidade de vida desses pacientes, sem a necessidade da retirada da bexiga ou da instalação de uma bolsa coletora para fezes e urina.
Recentemente, o medicamento começou a ser testado também no tratamento da Covid-19.
*Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED
Referências bibliográficas:
- Medicamento criado na Unicamp apresenta bons resultados no combate ao câncer de bexiga. FAPESP. https://agencia.fapesp.br/medicamento-criado-na-unicamp-apresenta-bons-resultados-no-combate-ao-cancer-de-bexiga/37447/
- Fávaro WJ, et al. Role of oncotherad nano-immnotherapy in bcg-unresponsive non-muscle invasive bladder cancer: an open-label and single-arm phase 1/2 study. XXII Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica. Trabalhos apresentados. https://ccm.iweventos.com.br/evento/sboc2021/trabalhosaprovados/naintegra/100754