Pielonefrite na pediatria: antibioticoterapia de curta ou longa duração?

Artigo sobre antibioticoterapia de curta duração concluiu que ela pode ser tão eficaz quanto cursos prolongados de antibióticos no combate a pielonefrite.

Uma antibioticoterapia de curta duração pode ser tão eficaz quanto cursos prolongados de antibióticos no tratamento de crianças com pielonefrite, além de poder atenuar o risco de futuras infecções do trato urinário (ITU) resistentes a medicamentos.

Essas são as conclusões do artigo Comparative Effectiveness of Antibiotic Treatment Duration in Children With Pyelonephritis, de Miriam Fox e colaboradores, publicado no jornal JAMA Network Open.

criança com pielonefrite no colo da mãe em consulta com pediatra

Pielonefrite em pediatria

Os pesquisadores realizaram um estudo observacional retrospectivo, usando dados coletados de cinco hospitais no Estado de Maryland, Estados Unidos, no período entre 1º de julho de 2016 e 1º de outubro de 2018. Os participantes eram crianças com idades entre seis meses a 18 anos, apresentando critérios clínicos e laboratoriais para pielonefrite e com uma cultura de urina com crescimento de Escherichia coli, Klebsiella sp ou Proteus mirabilis.

A exposição primária foi o tratamento da pielonefrite com um curso curto de antibióticos (categorizada como seis a nove dias). Pacientes não expostos receberam um curso prolongado (dez dias). A duração da terapia incluiu todos os pacientes internados e ambulatoriais em uso de antibióticos para pielonefrite.

O desfecho primário de falha de tratamento incluiu um ou mais dos seguintes eventos dentro de um mês após o paciente ter completado o esquema antibiótico: visitas ambulatoriais ou no pronto-socorro por sintomas de ITU, readmissões hospitalares por sintomas de ITU, prolongamento da antibioticoterapia inicial planejada ou óbito. O desfecho secundário incluiu uma ITU subsequente em 30 dias por uma bactéria resistente.

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Dados da análise

Foram analisados dados de 791 crianças com pielonefrite.

  • A mediana de idade foi de 9,2 [desvio padrão (DP) 6,3)] anos;
  • 672 (85%) eram meninas;
  • 297 pacientes (37,5%) receberam antibioticoterapia de curta duração;
  • 494 pacientes (62,5%) receberam um curso prolongado de antibióticos;
  • A duração mediana da terapia de curta duração foi de 8 dias [intervalo interquartil (IIQ) 7-8 dias];
  • A duração mediana da terapia prolongada foi de 11 dias (IIQ 11 a 12 dias);
  • As características basais foram semelhantes entre os grupos na probabilidade inversa de coorte ponderada pelo tratamento;
  • 79 crianças (10,1%) apresentaram falha no tratamento;
  • As chances de falha do tratamento foram semelhantes para os pacientes que receberam antibioticoterapia de curta duração versus prolongada [11,2% versus 9,4%; odds ratio (OR) 1,22; intervalo de confiança de 95% (IC95%) 0,75-1,98];
  • Não houve diferença significativa no odds de um patógeno do trato urinário resistente a medicamentos para pacientes com ITU subsequente dentro de 30 dias quando prescrita antibioticoterapia de curta duração versus prolongada (40% versus 64%; OR, 0,36; IC 95% 0,09-1,43).

Resultados

Fox e equipe destacam que, além de ter sido um estudo observacional, o estudo apresenta outras limitações. Os pesquisadores não conseguiram capturar dados relevantes pós-alta de centros de atendimento de urgência ou cuidados primários que não faziam parte do The Johns Hopkins Health System. Além disso, segundo os pesquisadores, a definição de pielonefrite pode representar um desafio se considerar crianças não verbais de todas as idades. Por fim, não foi possível avaliar a adesão à antibioticoterapia nos pacientes ambulatoriais.

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Esses resultados sugerem que antibioticoterapia de curta duração pode ser tão eficaz quanto cursos prolongados de antibióticos em crianças com pielonefrite. De acordo com Fox e colaboradores, dada a alta incidência de ITU em crianças e a crescente preocupação com resistência e outras sequelas negativas associadas ao uso excessivo de antibióticos, uma menor duração da terapia para pielonefrite pode ter implicações relevantes para a saúde pública.

As diretrizes americanas atuais recomendam cursos de tratamento compatíveis com os avaliados no estudo (7 a 14 dias). No Brasil, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) destaca que o tratamento de uma ITU nunca deve ser inferior a sete dias, devendo ser realizado, preferencialmente, por dez dias contínuos.

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