Podemos utilizar corticoides na síndrome inflamatória multissistêmica em pediatria?

Um estudo britânico concluiu que os corticoides podem ser um tratamento eficaz para crianças com síndrome inflamatória multissistêmica.

Um estudo britânico publicado no New England Journal of Medicine concluiu que os corticoides podem ser um tratamento eficaz para crianças que desenvolvem síndrome inflamatória multissistêmica (multisystem inflammatory syndrome in children – MIS-C).

médico consultando criança com síndrome inflamatória multissistêmica

Corticoides na síndrome inflamatória multissistêmica

Para a realização desse estudo, os pesquisadores convidaram pediatras de todo o mundo para participar, enviando dados de seus pacientes com suspeita de MIS-C em um banco de dados eletrônicos de pesquisa na web.

Como a precisão das definições atuais de MIS-C é desconhecida e a experiência emergente sugere um amplo espectro de doenças inflamatórias após a Covid-19, os pediatras participantes foram convidados a inscrever não apenas crianças que preenchessem os critérios publicados para MIS-C, mas também aquelas com qualquer suspeita de doença inflamatória após infecção pelo SARS-CoV-2.

Uma ponderação de probabilidade inversa e modelos lineares generalizados foram utilizados para avaliar a imunoglobulina intravenosa (IVIG) como referência, em comparação com IVIG mais glicocorticoides e glicocorticoides isoladamente.

Houve dois desfechos primários: o primeiro foi um composto de suporte inotrópico ou ventilação mecânica (VM) no dia 2 ou mais tarde ou óbito; o segundo foi uma redução na gravidade da doença em uma escala ordinal no dia 2. Os desfechos secundários incluíram a escalada de tratamento e o tempo até uma redução na falência e inflamação de órgãos.

Resultados

Foram incluídas 614 crianças de 32 países, no período de junho de 2020 a fevereiro de 2021. Destas, 490 preencheram os critérios da Organização Mundial da Saúde (OMS) para MIS-C. Das 614 crianças com suspeita de MIS-C, 246 receberam tratamento primário apenas com IVIG, 208 com IVIG mais glicocorticoides e 99 apenas com glicocorticoides; 22 crianças receberam outras combinações de tratamento, incluindo agentes biológicos, e 39 não receberam terapia imunomoduladora.

Leia também: Covid-19: alterações imunológicas em crianças com síndrome inflamatória multissistêmica

O recebimento de suporte inotrópico ou VM ou óbito ocorreu em 56 pacientes que receberam IVIG mais glicocorticoides (odds ratio ajustada [ORa] para comparação com IVIG isolada, 0,77; intervalo de confiança de 95% [IC95%], 0,33 a 1,82) e em 17 pacientes que receberam somente glicocorticoides (ORa, 0,54; IC 95%, 0,22 a 1,33). Os ORa para uma redução na gravidade da doença foram semelhantes nos dois grupos, em comparação com IVIG isolada (0,90 para IVIG mais glicocorticoides e 0,93 para glicocorticoides isolados). O tempo até a redução da gravidade da doença foi semelhante nos três grupos.

Disfunção ventricular esquerda foi relatada em 12% dos 538 pacientes submetidos à ecocardiografia a partir do dia 2, sem diferenças substanciais entre os grupos de tratamento. O aneurisma de artéria coronária estava presente no último ecocardiograma 2 dias após o início do tratamento ou mais tarde em 6% dos 326 pacientes para os quais havia dados disponíveis.

O baixo número de aneurismas de artéria coronária detectados impede comparações estatísticas entre os grupos de tratamento, embora entre os pacientes com dados, a incidência de aneurisma de artéria coronária não tenha sido maior entre aqueles que não receberam qualquer IVIG como parte do tratamento primário do que entre aqueles que receberam IVIG.

O óbito foi relatado em 3 de 238 pacientes (1%) que receberam IVIG apenas, em 5 de 192 pacientes (3%) que receberam IVIG mais glicocorticoides, e em 4 de 91 pacientes (4%) que receberam glicocorticoides isoladamente; o status com relação ao óbito não foi relatado para 32 pacientes.

Veja mais: Síndrome inflamatória multissistêmica associada à Covid-19: veja como identificar para notificar

Conclusões

No geral, os pesquisadores não encontraram evidências de diferenças nos resultados entre o tratamento com glicocorticoides ou IVIG como agentes únicos ou entre os tratamentos primários de agente único e duplo. Os intervalos de confiança para inferências sobre o efeito do tratamento admitem a possibilidade de benefício real de um ou mais dos tratamentos em relação aos outros.

A MIS-C é uma complicação importante da infecção pelo vírus SARS-CoV-2. Os pesquisadores destacaram que a IVIG e outros agentes biológicos são caros e têm disponibilidade limitada em muitos locais. O resultado semelhante para pacientes tratados com glicocorticoides isoladamente e com aqueles tratados com glicocorticoides associados a IVIG ou IVIG isolada sugere que os glicocorticoides podem ser uma alternativa mais barata e mais disponível para a IVIG.

No entanto, uma vez que esse estudo não fornece evidências conclusivas para equivalência ou superioridade de qualquer um dos três tratamentos que foram avaliados, o recrutamento contínuo e a análise de um número maior de pacientes são necessários para fornecer evidências definitivas.

Referência bibliográfica:

  • McArdle AJ, Vito O, Patel H, et al. Treatment of Multisystem Inflammatory Syndrome in Children [published online ahead of print, 2021 Jun 16]. N Engl J Med. 2021; 10.1056/NEJMoa2102968

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