No Brasil, a Covid-19 é responsável pelo óbito de duas crianças menores de 5 anos diariamente, desde o início da pandemia. No total, 599 pacientes nessa faixa etária morreram pela doença somente em 2020. Esse número cresceu para 840 em 2021, quando a letalidade da infecção aumentou em toda a população. Nos dois primeiros anos da crise sanitária, 1.439 crianças de até 5 anos morreram por causa da Covid-19 no país. A região Nordeste concentra quase metade desses óbitos, segundo dados coletados no Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) e revistos pelo Ministério da Saúde e as secretarias estaduais e municipais de saúde.
Dados preliminares divulgados pelo Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde confirmam que a média de dois óbitos diários se mantém em 2022. Entre janeiro e 13 de junho deste ano, o país registrou 291 óbitos por Covid-19 entre a população menor de 5 anos.
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Essas informações foram levantadas, analisadas e cruzadas pelo Observatório de Saúde na Infância – Observa Infância, que reúne pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Centro Universitário Arthur de Sá Earp Neto (Unifase), vinculada ao Núcleo de Informação, Políticas Públicas e Inclusão (NIPPIS).
As pesquisas estão sendo realizadas com recursos financeiros do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação Bill e Melinda Gates.
Vulnerabilidade
A análise dos dois primeiros anos da pandemia no Brasil aponta que crianças de 29 dias a 1 ano de vida são as mais vulneráveis, respondendo por quase metade dos óbitos registrados entre crianças menores de 5 anos.
A pesquisadora destacou que é necessário acelerar os processos que levem à vacinação desse público. “É preciso rapidez para levar a proteção das vacinas a bebês e crianças, especialmente de 6 meses a 3 anos. A cada dia que passamos sem vacina contra a Covid-19 para menores de 5 anos, o Brasil perde duas crianças”, afirmou.
De acordo com Cristiano Boccolini, os dados se referem a óbitos infantis em que a Covid-19 foi registrada como causa básica e àqueles em que a enfermidade é uma das causas da morte, ou seja, a infecção agravou alguma condição de risco preexistente ou esteve associada à causa principal de óbito.
“Na análise do Observa Infância, consideramos também as mortes em que a Covid-19 agravou um quadro preexistente. Isso significa que, embora nem todas essas crianças tenham morrido de Covid-19, todas morreram com a doença”, explicou o pesquisador.
Números pelo mundo
O levantamento indicou que nem todos os países registram os óbitos por Covid-19 com informações por faixa etária. Até junho de 2022, dados coletados pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) em 91 países revelam que a enfermidade foi a causa básica de óbito de 5.376 crianças menores de cinco anos no mundo. E o Brasil responde por cerca de uma em cada cinco dessas mortes, conforme indica o Observa Infância.
A Covid-19 em crianças pode causar complicações agudas, como infecções de vias aéreas superiores e vias aéreas inferiores, viral ou bacteriana, miocardite (incidência 7,4 vezes maior entre 16 e 24 anos e 36,8 vezes maior em menores de 16 anos), arritmia, hepatite, parotidite e pancreatite, entre outros.
Complicações tardias também ocorrem e a principal delas é a Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (PSIM), doença que geralmente se inicia com febre e dor abdominal e acomete, principalmente, o sistema cardiovascular com choque.
Outras complicações, como a chamada Covid longa, também foram descritas nesse grupo, mas ainda são necessários mais estudos para avaliar seu impacto nessa faixa etária.
*Esse texto foi revisado pela equipe médica do Portal PEBMED.