Por que o EEG ainda não é considerado monitorização obrigatória como o ECG?

O EEG fornece informações valiosas sobre o estado do paciente. Por que ele então já não é considerado monitorização obrigatória como o ECG?

Com o envelhecimento populacional e mais cirurgias sendo realizadas, a prevalência de delirium pós-operatório (DPO) está aumentando. Sabemos que eventos cardiovasculares e cerebrovasculares são fontes significativas de morbidade e mortalidade. O DPO já é considerado um preditor independente de resultados adversos e está associado com anestesia profunda. O EEG fornece informações valiosas sobre o estado de profundidade anestésica do paciente. Por que ele então já não é considerado monitorização obrigatória assim como o ECG?

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Utilização do EEG

Existem vários padrões de ondas de EEG que ocorrem durante anestesia geral, medidas em Hertz (Hz), mostradas na figura abaixo. São elas: onda delta (δ), lenta, de 0,1 a 4 Hz; onda teta (θ), de 4 a 8Hz; onda alfa (α), de 8 a 13 Hz; onda beta (β), de 13 a 30 Hz; e onda gama (γ), de 30 a 80 Hz. Cada faixa de frequência representa uma profundidade anestésica e cada droga anestésica promove padrões específicos de ondas cerebrais.

O delirium pós-operatório já se tornou uma importante complicação pós-operatória que ocorre em até 20% de grandes cirurgias em pacientes > 65 anos. É um preditor independente de resultados adversos pós-operatórios, aumenta o tempo de internação, aumenta o risco de morbidade e mortalidade, diminui qualidade de vida e aumenta custos hospitalares. 

Diversos estudos demonstraram que o padrão de supressão de ondas eletroencefalográficas foi preditor independente de aumento do risco de delirium e morte em 6 meses em pacientes de terapia intensiva. O padrão de supressão reflete um estado de “silêncio” cortical, não observado durante os estados normais de sono ou vigília, e está associado com anestesia excessivamente profunda e estados patológicos, como lesão cerebral traumática, coma, hipotermia grave, hipóxia, hipoglicemia, encefalopatia, hipoperfusão cerebral, etc. Além disso, um estudo conduzido por Eyal el al. demonstrou que a presença de ondas delta e teta durante a anestesia também estão fortemente associadas com delirium e desfechos ruins.

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Uma meta-análise com mais de 9 mil pacientes demonstrou que anestesias guiadas pelo índice bispectral (BIS) diminuiu o tempo de despertar. Outros estudos mostram que o uso de monitores de EEG diminui quantidade de anestésico utilizado, tempo de permanência na sala de recuperação pós-anestésica, tempo de internação, risco de consciência intraoperatória, custos hospitalares e incidência de delirium.

Mensagem final

Sabemos que nenhum monitor é perfeito. O ECG é utilizado para avaliação de arritmias, isquemia miocárdica, alterações hidroeletrolíticas, porém não fornece por exemplo o débito cardíaco. O uso de monitores de EEG intraoperatórios fornecem informações valiosas sobre o estado de profundidade anestésica do paciente, se mostrando útil e eficaz em diversos aspectos. Infelizmente, em países menos favorecidos, são equipamentos caros e portanto, não-disponíveis em todos os hospitais. Entretanto, à partir do momento que forem considerados monitorização básica para anestesia geral, assim como ECG, pressão não-invasiva, oximetria e capnografia, essa realidade pode mudar.

Referências bibliográficas:

  • Li, Yuna,b; Bohringer, Christianb; Liu, Hongb Double standard: why electrocardiogram is standard care while electroencephalogram is not?, Current Opinion in Anaesthesiology: October 2020 – Volume 33 – Issue 5 – p 626-632. doi: 10.1097/ACO.0000000000000902.
  • Gleason LJ, Schmitt EM, Kosar CM, et al. Effect of delirium and other major complications on outcomes after elective surgery in older adults. JAMA Surg. 2015;150:1134–1140. doi10.1001/jamasurg.2015.2606
  • Bis-guided anesthesia decreases postoperative delirium and cognitive decline. J Neurosurg Anesthesiol. 2013; 25:33–42. doi10.1097/ANA.0b013e3182712fba
  • Watson PL, Shintani AK, Tyson R, et al. Presence of electroencephalogram burst suppression in sedated, critically ill patients is associated with increased mortality. Crit Care Med. 2008; 36:3171–3177. doi10.1097/CCM.0b013e318186b9ce

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