Por que o médico deveria ser menos especialista?

Nos últimos anos o número de médicos especialistas têm aumentado em todo o mundo. Ao redor do mundo, esse fenômeno parece muito mais veloz que no Brasil. Países como os Estados Unidos sofrem com a hiper-especialização médica.

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Nos últimos anos o número de médicos especialistas têm aumentado em todo o mundo. É comum o passo e caminhada em direção a uma medicina cada vez mais dedicada a tratamentos específicos, e redução de médicos interessados e capazes de atender multicomorbidades. Ao redor do mundo, esse fenômeno parece muito mais veloz que no Brasil. Países como os Estados Unidos sofrem com a hiper-especialização médica.

Enquanto os médicos caminham nos papéis mais que especializados, a população mundial envelhece e torna-se cada vez mais a parte mais custosa do sistema de saúde. Um estudo escocês publicado recentemente e comentado por Richard Smith, ex-editor do BMJ, aponta que pacientes na casa dos 60 anos possuem pelo menos duas doenças, enquanto aos 80 anos esse número aumenta para quatro ou mais doenças em quase 40% dos pacientes.

O perfil do paciente idoso internado costuma apresentar mais complicações, não apenas pela frequência, mas também pelo tempo de permanência hospitalar. Além disso, é comum pacientes com quadros primários desencadearem complicações secundárias por doenças crônicas, por exemplo um paciente com quadro de sepse descontrolando um diabetes e insuficiência cardíaca. Para se ter uma noção, 70% dos custos do sistema de saúde americano estão alocados no cuidado de pessoas com uma ou mais comorbidades. Saber lidar com o perfil de múltiplas comorbidades se torna premissa essencial no cuidado médico.

O Brasil passou por um aumento no número de médicos formados e na população médica em geral nos últimos anos. Passamos a contar com mais escolas de medicina e atraímos estrangeiros. E, apesar dos questionamentos sobre a qualidade dos profissionais que temos formados com esse aumento das faculdades, ainda precisamos ampliar o nosso número de médicos.

Apesar de no Brasil termos uma grande parte da população médica generalista (41%) e um grande número de especialistas em áreas básicas como Clínica Médica, Cirurgia Geral, Pediatria, Ginecologia e Obstetrícia e Medicina da Família, ainda somos carentes em atendimento básico e cuidados de pacientes em prevenção e, quando pensamos em cuidados populacionais, sabemos que o cuidado em atenção básica e prevenção atua como papel fundamental para redução de comorbidades.

Então, se a população envelhece e se cada vez mais velha temos pacientes com múltiplas comorbidades, que demandam mais atenção, cuidados e acima de tudo custo hospitalar, não deveríamos estar formando mais generalistas e médicos de áreas básicas? Mas, não é isso que o cenário apresenta globalmente. Continuamos estudando medicina em cima de cuidados diagnósticos e terapêuticos específicos em vez de focarmos no paciente com múltiplas influências e comorbidades. Nossos estudos científicos continuam excluindo pacientes com outras comorbidades para evitar o viés, quando o cenário da vida real é outro. Médicos continuam se subespecializando enquanto os pacientes seguem por um caminho contrário.

Claro que a evolução médica conduz a necessidade de médicos estudarem cada vez mais pontos específicos de cada doença, mas esta não deve ser a prioridade na cadeia de ensino e na cabeça dos recém-formados, muitas vezes uma óptica guiada pela ilusão de ser como um professor ou staff bem sucedido, mas que no fundo é apenas um em um mar de centenas de milhares de médicos.

O sucesso da profissão e, acima de tudo, a maneira como a medicina continua evoluindo, aponta para o papel do médico como um ator de contraponto ao cuidado do paciente. Entender suas dores, necessidades e múltiplas doenças, com suas co-relações e interações farmacológicas, apenas aproxima o médico cada vez mais do objetivo do cuidado. O futuro definições muito precisas de ordem subespecialistas serão cada vez mais solucionadas por algoritmos complexos. Robôs de alta precisão serão os responsáveis por procedimentos detalhistas. E as definições terapêuticas serão definidas por ordem de uma inteligência artificial.

E por que você deveria ser menos especialista? Porque esse é o futuro.

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