Por que o oftalmologista é o único que pode adaptar e indicar o uso de lentes de contato?

O uso de lentes de contato é muito comum, sendo esta uma indústria em crescimento em todo o mundo. O esperado para o mercado global é de atingir 12 milhões de dólares em 2020.

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O uso de lentes de contato é muito comum, sendo esta uma indústria em crescimento em todo o mundo. O esperado para o mercado global é de atingir 12 milhões de dólares em 2020, com uma taxa de crescimento de 6.7%.

Lentes de contato são prescritas para erros refrativos que não podem ser solucionados com óculos como na afacia, ceratocone, córneas irregulares e alta anisometropia. Além disso, podem ser usadas para manejo de erros refrativos simples como alternativa aos óculos. O uso de lentes cosméticas também é bastante popular.

As lentes de contato trouxeram melhoria da qualidade de vida, não só pela correção dos erros refrativos, mas também pela questão estética e menor restrição nas atividades diárias. Apesar das inúmeras vantagens, as lentes podem causar complicações, sendo a maioria delas minimizada com o uso correto e acompanhamento. Artigo publicado em 2017 no Journal of Ophthalmic and Vision Research mostrou revisão dos artigos sobre complicações em lentes de contato publicados entre 1995 e 2015.

O desconforto é uma condição caracterizada por sensações oculares adversas episódicas ou persistentes relacionadas ao uso de lentes, com ou sem distúrbio visual, resultando em certa intolerância e podendo reduzir o tempo de uso ou até levar a descontinuação.

Os causadores podem ser fatores relacionados ao uso de lentes de contato (material, conteúdo de água e umectabilidade; desenho; adaptação; forma de uso e sistema de cuidado como o regime e a composição química utilizada) ou ambientais (condições da superfície ocular, ambiente externo, fatores ocupacionais, medicações, compliance e outros fatores como idade, sexo, patologias oculares prévias, doenças sistêmicas e condições psicológicas e psiquiátricas).

Condições que podem causar desconforto com as lentes como blefarite, meibomite , alergias e síndrome de olho seco devem ser tratadas antes de iniciar o uso. Em alguns pacientes que continuam sintomáticos apesar das orientações de forma de uso, higiene, descarte e tratamento de condições da superfície é necessário trocar o tipo de lente ou a forma de uso/descarte.

Mais da autora: ‘Em quais pacientes devo indicar o uso de lentes de contato esclerais?’

Além disso, diversas outras complicações podem estar associadas principalmente ao uso incorreto, má adaptação, forma de uso ou tipo de lente não adequado ou não orientação/acompanhamento do paciente, como por exemplo:

1) Neovascularização corneana, principalmente em pacientes usuários de lente gelatinosa, havendo associação com uso prolongado, lentes com periferia espessa pelos altos graus, lentes apertadas e baixa transmissibilidade ao oxigênio;
2) Úlcera periférica relacionada a lentes de contato, principalmente em pacientes que fazem uso prolongado;
3) Ceratite bacteriana, associada em muitos casos à hipóxia, microtraumas (quebra da barreira epitelial) e contaminação das lentes ou da solução de limpeza. O risco pode ser aumentado em 20 vezes naqueles que fazem uso prolongado, o que aumenta a hipóxia corneana;
4) Ceratite por acanthamoeba, a mais temida das infecções associadas à lentes de contato, é associada a higiene irregular e incorreta das lentes e contato com águas contaminadas com a ameba de vida livre. Pacientes que fazem uso esporádico de lente de descarte anual ou mensal normalmente tem baixa adesão à limpeza diária das lentes, o que também pode ser um fator de risco nesses casos;
5) Ceratite fúngica, mais comum em casos de trauma e em usuários prolongados de lentes gelatinosas de material hidrogel;
6) Conjuntivite papilar gigante, que tem prevalência maior em usuários de lentes silicone hidrogel e pode ser consequência da irritação mecânica causada pelo alto módulo. Uma diminuição nos casos tem sido vista em pacientes que fazem descarte diário das lentes. A história de alergia/atopia é comum;

Cabe lembrar que lentes de contato bem adaptadas por um profissional oftalmologista, após realizado exame oftalmológico completo, exames complementares de acordo com a necessidade e teste de adaptação normalmente são bastante seguras, com índice de complicação baixo. A grande maioria das complicações ocorre por mau uso, falta de orientação e seguimento e pela banalização do exame médico como ferramenta essencial nesse processo.

Além desses itens, é dever do profissional médico orientar o uso, higiene, manuseio e principalmente acompanhar sempre o paciente. Pelos motivos expostos foi determinado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), na resolução 1965/2011, que “a indicação e a adaptação de lentes de contatos são procedimentos médicos exclusivos e integrais (…)” e que “a indicação e processo de adaptação devem ser feitas pelo mesmo médico, sendo atos intransferíveis e não compartilhados”.

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