Posso usar valproato na prevenção de enxaqueca na atenção primária?

Medidas eficientes de profilaxia para enxaqueca devem ser ferramentas conhecidas do médico de família, porque a abordagem inicial se dá neste cenário.

Nos cenários de atenção primária, a queixa de cefaleia é muito prevalente. Entender os padrões de dor auxilia no estabelecimento de medidas de manejo tanto para diagnóstico quanto para tratamento. Nos Estados Unidos, cerca de 10 milhões de indivíduos anualmente sofrem com quadros de enxaqueca, sendo ainda a sexta maior causa de incapacidade no país, com impactos relevantes na funcionalidade individual e no meio em que o indivíduo está inserido.

Dessa forma, medidas eficientes de profilaxia para migrânea devem ser ferramentas conhecidas do médico de família nos cenários de atenção básica, especialmente porque a abordagem inicial se dá neste cenário, onde o seguimento do paciente também deve estar garantido.

médica mostrando para paciente com enxaqueca as opções profiláticas para enxaqueca

Enxaqueca

Uma das formas de profilaxia das crises de enxaqueca é com o uso de alguns fármacos. Diversas classes são utilizadas para esse fim: antidepressivos, betabloqueadores, anticonvulsivantes, entre outros. Neste último grupo o valproato ganha posição de destaque, barato e parte de muitas farmácias municipais no SUS, é esse um fármaco seguro para prevenção de dores de cabeça causadas por enxaqueca?

Pesquisadores da Chocrane realizaram uma revisão sistematizada da literatura para responder a essa pergunta com condução de metanálise para avaliar se o uso do valproato seria superior ao do placebo. Dez ensaios clínicos randomizados foram incluídos, contendo um total de 2296 pacientes acima de 16 anos.

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Como desfecho primário de eficácia os pesquisadores avaliaram uma redução de crises de pelo menos 50% após um mês de tratamento com dose diária de valproato. Como desfechos negativos efeitos adversos como fadiga, vertigem, náusea, tremores e ganho de peso foram avaliados.

Os resultados mostraram que o valproato foi superior ao placebo para redução de crises de migrânea. Para cada 5 indivíduos tratados, um respondeu de modo satisfatório à terapêutica, por outro lado para cada 7 indivíduos tratados 1 apresentou efeitos colaterais.

Esse estudo deve ser compreendido no âmbito de suas limitações. Os pesquisadores incluíram 10 ensaios clínicos para a análise quantitativa, o que é um grande fator para viés quando se pensa na formação de subgrupos. As formas de apresentação do valproato não foram definidas, ou seja, divalproato, valproato e ácido valproico foram incluídos e tratados como sendo a mesma intervenção. Além disso, avaliação dos efeitos adversos é subjetiva sem forma padronizada de coleta e de modo não comparável entre os estudos.

O que isso muda na prática?

Considerando o grau de prejuízo associado às crises de enxaqueca, os efeitos adversos inferiores às limitações causadas pelas crises, a segurança do uso do fármaco, disponibilidade de acesso, riscos associados e benefícios o uso do valproato (em suas diversas formas de apresentação) é seguro e recomendado para prevenir crises de cefaleia associada à enxaqueca.

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A escolha do profilático para migrânea deve sempre levar em conta o perfil de efeitos colaterais, perfil do paciente, grau de resposta e tolerância. O valproato é teratogênico e isso deve ser levado em conta na escolha do tratamento de mulheres em idade fértil ou com risco de gravidez. Outras opções de profilaxia e seu perfil de segurança você pode encontrar no Whitebook.

Referências bibliográficas:

  • GBD 2013 Mortality and Causes of Death Collaborators. Global, regional, and national age-sex specific all-cause and cause-specific mortality for 240 causes of death, 1990–2013: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2013. Lancet. 2015;385(9963):117–171.
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  • Morrell MJ. Reproductive and metabolic disorders in women with epilepsy. Epilepsia. 2003;44(suppl 4):11–20.
  • Evers S, Afra J, Frese A, et al. European Federation of Neurological Societies. EFNS guideline on the drug treatment of migraine—revised report of an EFNS task force. Eur J Neurol. 2009;16(9):968–981.

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