A epidemia de miopia é um fenômeno global nas últimas décadas. É estimada uma prevalência global de miopia e alta miopia para 2050 de 49.8% e 9.8% respectivamente. Crianças muito novas com início mais precoce da miopia tem maior risco de progredir rapidamente para alta miopia. As complicações relacionadas a alta miopia como o descolamento de retina e a maculopatia miópica podem levar a perda visual substancial.
Em Taiwan, a prevalência de miopia em crianças de sete anos já é de quase 20% e até em pré-escolares de cinco a seis anos. A Academia Americana de Oftalmologia já reportou uma prevalência de 10.7%. Desta forma, o tempo ótimo para iniciar estratégias para prevenir o início da miopia deve preceder essa idade, especialmente nas regiões com as maiores prevalências. No ponto de vista das políticas de saúde, é valioso identificar as crianças que são particularmente vulneráveis para desenvolver miopia. O conceito de pré-miopia tem sido bastante falado e alguns estudos mostram que o status baseline do erro refrativo é um forte preditor do início da miopia entre crianças ainda não míopes.
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A pré-miopia
O International Myopia Institute (IMI) propôs como definição de pré-miopia um status refrativo do olho de > -0.50 D <= +0.75 D em crianças em risco de desenvolver miopia.
Para entender melhor a pré-miopia em crianças pré-escolares, um estudo publicado na Ophthalmology esse ano estimou a prevalência de pré-miopia e investigou os fatores de risco usando informações de sete ondas consecutivas (de 2014 a 2020) de pesquisas populacionais no Yilan Myopia Prevention and Vision Improvement Program (YMVIP), realizada no Taiwan. As estratégias de prevenção de miopia utilizadas foram melhorar a iluminação das salas e das mesas, proibir atividades de perto prolongadas e encorajar atividades outdoor por 120 minutos diariamente.
De agosto de 2014 a dezembro de 2020, 21.761 crianças dos 12 distritos tiveram os critérios para participar do estudo. O exame oftalmológico foi realizado com cicloplegia. Os fatores de risco para miopia foram avaliados de acordo com questionário. A duração da exposição a estratégias de prevenção da miopia antes do exame foi dividida em três níveis:
- Sem exposição;
- Mais de um ano de exposição;
- Mais de dois anos de exposição.
Resultados
A média do erro refrativo foi de 0.57 +- 1.09 D. A prevalência de miopia foi de 10.7%, com 0.3% de alta miopia (6D ou mais). 52% das crianças foram classificadas como pré-míopes. A média do erro refrativo no grupo de pré-miopia foi de 0.35 +- 0.33 D. Quando comparados com os hipermétropes, os míopes e pré-miopes tinham maior chance de serem meninos, de ter um cuidador com ensino médio ou menor nível educacional, de ter um cuidador míope, de ter menos tempo de sono e mais tempo em atividades de tela nos dias de semana e fins de semana e de ter menos tempo outdoor nos fins de semana.
Os fatores de risco significativos para pré-miopia foram: sexo masculino (OR 1.25), cuidador míope (OR 1.46) e gasto > 1h de uso de tela por dia (OR 1.10). Os fatores protetores da pré-miopia foram duração mais longa (mais de dois anos) das estratégias protetoras (OR 0.59) e maior nível de educação dos cuidadores (OR 0.91). Passar mais tempo nas atividades outdoor nos fins de semana pareceu ser associado a menor risco de pré-miopia mas esse fator não alcançou o nível de significância. Quando foram comparados aqueles com pré-miopia na coorte pré-pandêmica em 2019 com as crianças da coorte de 2020, essas últimas eram mais propensos a passar mais de 30 minutos fazendo deveres de casa durante os dias da semana, mais de uma hora por dia em telas nos dias semana e mais de duas horas por dia em telas nos finais de semana. Esses achados porém não atingiram significância estatística.
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Entre crianças com idade de seis anos, ser menos hipermétrope que +0.75 foi sugerido em outro estudo como um ponto de corte de predição de desenvolvimento da miopia. Pensando nessas questões, os esforços para prevenção da miopia devem atingir as crianças pré-escolares com pré-miopia.