Prescrição de opioides ou corticoides para pneumonia e sinusite em crianças

Estudo mostra que, apesar das diretrizes para pneumonia e sinusite em pediatria, uma parcela significativa de crianças recebeu opioides e corticoides.

De acordo com o estudo Opioids or Steroids for Pneumonia or Sinusitis publicado no jornal Pediatrics, apesar das diretrizes recentes para pneumonia e sinusite em pediatria, uma porcentagem clinicamente significativa de crianças saudáveis recebeu opioides e corticoides sistêmicos. E esses medicamentos foram prescritos e dispensados em frequências mais altas após visitas a um pronto-socorro (PS) do que após uma visita ambulatorial.

Prescrição de opioides ou corticoides para pneumonia e sinusite em crianças não segue as diretrizes estabelecidas

Estudo sobre prescrições de opioides e corticoides para crianças

Para a realização desse estudo, Karina Phang e equipe avaliaram os dados de 2016 do Medicaid do estado americano de Carolina do Sul de crianças de 5 a 18 anos de idade com pneumonia ou sinusite. As visitas foram associadas a 1 de 3 locais: PS, atendimento de urgência ou ambiente ambulatorial. O Medicaid é um programa de saúde americano projetado para fornecer cobertura de saúde para pessoas de baixa renda.

Um total de 31.838 crianças foram incluídas no estudo. As visitas hospitalares por pneumonia foram mais frequentemente vinculadas a uma prescrição de opioides no PS [34 de 542 (6,3%)] do que em ambulatórios [24 de 1.590 (1,5%); P ≤ 0,0001]. Além disso, foram mais frequentemente associadas a uma prescrição de corticoides no PS [106 de 542 (19,6%)] do que em ambientes ambulatoriais (196 de 1.590 [12,3%]; P ≤ 0,0001].

As visitas hospitalares por sinusite foram mais frequentemente associadas a uma prescrição de opioides no PS [202 de 2.705 (7,5%)] do que em ambulatórios [568 de 26.866 (2,1%); P ≤ 0,0001] e foram mais frequentemente associadas a uma prescrição de corticoides no PS [510 de 2.705 (18,9%)] do que em ambulatórios [1.922 de 26.866 (7,2%); P ≤ 0,0001]. Na regressão logística para crianças com pneumonia, o cenário do PS foi associado ao aumento das chances de receber um opioide [odds ratio ajustada (aOR) 4,69] ou corticoide (aOR 1,67). Da mesma forma, pacientes com sinusite tiveram maior probabilidade de receberem prescrição de opioides (aOR 4,02) ou corticoides (aOR 3,05) no PS do que nos ambulatórios.

Limitações

O estudo apresenta algumas limitações. O uso de dados do Medicaid de um único ano em um único Estado limita a generalização. No entanto, os pesquisadores destacam que avaliaram dados recentes de 01 de janeiro a 31 de dezembro de 2016 bem após a publicação de diretrizes e após preocupações com a prescrição generalizada de opioides. Como o estudo é limitado a crianças com Medicaid, não se pode descrever padrões de prescrição para crianças da Carolina do Sul com seguro privado. Contudo, as crianças seguradas pelo Medicaid compõem pelo menos 50% das crianças na Carolina do Sul. Dados de adultos revelam uma variação considerável na prescrição de opioides entre os Estados americanos e relacionados ao status do seguro, mas não está claro se há variação semelhante nas crianças.

Os pesquisadores concluíram que crianças de 5 a 18 anos com pneumonia ou sinusite receberam mais opioides e corticosteroides sistêmicos no PS do que no ambulatório. Esses achados sugerem que os profissionais não seguem as diretrizes ao prescrever esses medicamentos para o tratamento de pneumonia ou sinusite. Dessa forma, intervenções colaborativas para melhora da qualidade com prestadores de cuidados agudos podem reduzir a prescrição de medicamentos desnecessários para pneumonia e sinusite em pediatria.

Conclusão

O estudo destaca que faltam evidências que apoiem o uso de opioides e corticoides sistêmicos no controle de sintomas de infecções pediátricas do trato respiratório no paciente ambulatorial. Não há benefício dos opioides sobre placebo no tratamento da tosse aguda. Erros de medicação envolvendo opioides são comuns e podem levar a eventos adversos significativos e danos ao paciente. Opioides podem causar sedação, depressão e insuficiência respiratória e podem contribuir para transtorno por uso dessa substância e dependência.

Da mesma forma, estudos que apoiam o tratamento adjuvante com corticoide na pneumonia em crianças limitam-se ao ambiente hospitalar e para pacientes com asma. Não há ensaios sobre quais corticoides sistêmicos devam ser usados no tratamento da sinusite bacteriana em crianças. Apesar de a maioria dos efeitos adversos dos corticoides estar associada ao uso crônico, a administração em curto prazo pode causar efeitos comportamentais, insônia, hipertensão e hiperglicemia em crianças. Portanto, opioides e corticoides sistêmicos não são indicados para pneumonia bacteriana ou sinusite em crianças com base nas últimas pesquisas e recomendações da literatura científica.

Referências bibliográficas:

  • Phang KG, Roberts JR, Ebeling M, Garner SS, Basco WT Jr. Opioids or Steroids for Pneumonia or Sinusitis [published online ahead of print, 2020 Jul 2]. 2020;e20193690. doi:10.1542/peds.2019-3690
  • Medicaid website. 2020. Disponível em: https://www.medicaid.gov/about-us/program-history/index.html Acesso em 12/07/2020

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