Prevalência do uso de medicamentos que podem aumentar a pressão arterial e a associação com hipertensão

Pesquisadores apresentaram um estudo comparando a prevalência de HAS com o uso de medicamentos que elevariam a pressão arterial.

Em carta de pesquisa publicada no Journal of American Medical Association (JAMA) Internal Medicine, em janeiro de 2022, um grupo de pesquisadores apresentou um estudo transversal que comparava a prevalência de hipertensão arterial sistêmica (HAS) com o uso de medicamentos que elevariam a pressão arterial, com o objetivo de investigar a associação entre esses fenômenos.

Os autores observam que a população estadunidense não consegue atingir os níveis recomendados de pressão arterial há algumas décadas e suspeitam da polifarmácia e, consequentemente, iatrogenia como um dos componentes para descompensação da HAS nessa população.

Leia também: Whitebook: hipertensão

Prevalência do uso de medicamentos que podem aumentar a pressão arterial e a associação com hipertensão

Desenho do estudo

Trata-se de estudo transversal, com uso dos dados de cinco ciclos do National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES), um inquérito populacional aplicado à população dos EUA a cada dois anos (dados de 2009-2018 foram utilizados). Foram incluídos participantes com idade maior que 18 anos e não gestantes. Uma lista das medicações que podem elevar a pressão arterial foi retirada de diretrizes da American College of Cardiology e da American Heart Association, sendo realizadas entrevistas domiciliares para determinar quais destas medicações eram utilizadas pelos inqueridos. Foram utilizados modelos de regressão logística multivariável e regressão binominal variável para análise dos dados.

Resultados

O estudo incluiu 27.599 pacientes, com idade média de 46,9 anos, sendo: 50,9% do sexo feminino; 11,3% negros, 14,8% hispânicos, 65,3% brancos não hispânicos; 49,2% tinham HAS e 35,4% tinham HAS não controlada. No total, 14,9% (IC95%, 14,1-15,6%) dos adultos estadunidenses faziam uso de alguma das medicações que poderiam aumentar a pressão arterial, sendo que esse número sobe para 18,5% (IC95%, 17,5-19,5%) dos hipertensos.

As classes de medicações que elevam a pressão arterial mais utilizadas foram os antidepressivos (8,7%), anti-inflamatórios não esteroidais (6,5%), corticosteroides (1,9%) e estrogênios (1,7%).

O uso de medicamentos que podem aumentar a pressão arterial foi associado ao aumento da chance de HAS não controlada em adultos que não fazem uso de anti-hipertensivos (Odds ratio 1,24; IC95% 1,08-1,43), porém não houve associação desse risco com pacientes em tratamento medicamentoso para HAS. A quantidade de anti-hipertensivos em uso pode aumentar devido ao uso de medicações que elevam a pressão arterial, tanto para adultos com HAS controlada (taxa de incidência 1,27; IC95% 1,11-1,44) quanto para aqueles com HAS não controlada (taxa de incidência 1,13; IC95% 1,03-1,25).

Mensagem prática

Analise a prescrição do seu paciente. Pacientes ambulatoriais costumam ter diversos médicos responsáveis pelo cuidado das diversas áreas do seu corpo e, em muitas vezes, falta alguém que sistematize e concilie essas prescrições, pensando no paciente como um todo.

Nesse estudo, os autores tentaram mostrar a associação entre a polifarmácia e um tipo de dano específico ao paciente. Imagine quantas variáveis podem entrar nessa fórmula? É fundamental que o médico conheça as medicações que prescreve, seus efeitos colaterais, suas vantagens e desvantagens, além de cruzar essas informações com a toda a lista de medicamentos que aquele indivíduo faz uso, reduzindo a iatrogenia.

Referências bibliográficas:

  1. Vitarello JA, Fitzgerald CJ, Cluett JL, Juraschek SP, Anderson TS. Prevalence of Medications That May Raise Blood Pressure Among Adults With Hypertension in the United States. JAMA Intern Med. 2022;182(1):90-93. doi:10.1001/jamainternmed.2021.6819.
  2. Muntner P, Hardy ST, Fine LJ, et al. Trends in blood pressure control among US adults with hypertension, 1999-2000 to 2017-2018.JAMA. 2020;324(12): 1190-1200. doi:10.1001/jama.2020.14545.
  3. Whelton PK, Carey RM, Aronow WS, et al. 2017 ACC/AHA/AAPA/ABC/ACPM/AGS/ APhA/ASH/ASPC/NMA/PCNA guideline for the prevention, detection, evaluation, and management of high blood pressure in adults: a report of the American College of Cardiology/American Heart Association Task Force on Clinical Practice Guidelines. Hypertension. 2018;71(6):e13-e115. doi:10.1161/HYP.0000000000000065.
  4. Qato DM, Wilder J, Schumm LP, Gillet V, Alexander GC. Changes in prescription and over-the-counter medication and dietary supplement use among older adults in the United States, 2005 vs 2011.JAMA Intern Med. 2016;176(4):473-482. doi:10.1001/jamainternmed.2015.8581.
  5. US Centers for Disease Control and Prevention. National Health and Nutrition Examination Survey. Accessed June 19, 2021. Disponível em: https://www.cdc.gov/nchs/nhanes/index.htm.
  6. Shufelt C, LeVee A. Hormonal contraception in women with hypertension. JAMA. 2020;324(14):1451-1452. doi:10.1001/jama.2020.11935.
  7. Anderson TS, Steinman MA. Antihypertensive prescribing cascades as high-priority targets for deprescribing.JAMA Intern Med. 2020;180(5):651-652. doi:10.1001/jamainternmed.2019.7082.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo

Selecione o motivo:
Errado
Incompleto
Desatualizado
Confuso
Outros

Sucesso!

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo.

Você avaliou esse artigo

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Baixe o Whitebook Tenha o melhor suporte
na sua tomada de decisão.

Especialidades