Prevenção quaternária no SUS: de saúde à economia

A medicina de família e comunidade faz forte promoção para a aplicação, principalmente no SUS, da prevenção quaternária, cujo objetivo é não lesar.

Decifrar os enigmas de saúde em prol do paciente sempre é um desafio a ser cumprido; é importante “conhecer o inimigo” para uma conduta mais acertiva. Mas decifrá-los todos não necessariamente resulta em benefício ao mesmo, podendo não valer a pena um problema ser resolvido a qualquer custo.

médico orientando paciente masculino durante prevenção quaternária

Até onde ir para resolver as doenças?

A medicina de família e comunidade faz forte promoção para a aplicação, principalmente no SUS, da prevenção quaternária, que têm como base o mandamento em latim primum non nocere (primeiro não lesar). Sendo este o objetivo, acatar-se à necessidade de evitar ao máximo os danos ao paciente e ao Estado (colateralmente ao próprio paciente em um efeito bumerangue), implica não só buscar o melhor diagnóstico, mas também fazê-lo com o uso mais consciente dos métodos investigativos analíticos e de melhores rotas de atendimentos.

Em avaliação, fazer anualmente o clássico check-up em um paciente previamente hígido, não reflete garantia comprovada de saúde. Além de ser desnecessário, resulta em gastos ao paciente e à máquina pública que poderiam ser utilizados na realização de exames e procedimentos em casos mais importantes, como demonstrativo o financiamento de tratamento oncológico.

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Exemplo disso é o rastreamento de patologias em pacientes saudáveis através de PSA e mamografia anuais, que além de não originar consenso entre os sanitaristas, apresenta dentre outros, despesas com materiais de campanha, combustível para locomoção de carros e carretas, contas laboratoriais, desgaste psicoemocional ao assistido, acúmulo de encaminhamentos e aumento do tempo de espera para consultas com especialistas.

Também, pode ser exemplo uma pessoa com histórico de hipertensão, diabetes, depressão, AVC, infarto de miocárdio, síndrome metabólico e tabagista inveterado, diagnosticado após meia idade com aneurisma aórtico abdominal, sendo o mesmo tratado com alarme pela equipe por ser uma bomba relógio de urgência cirúrgica; quiçá não sendo conveniente “mexer no fio vermelho da bomba” e provocar intensificação de estado hipotímico com gastos orgânicos e financeiros, já que há a hipótese de um possível desfecho fatal similar.

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O financeiro

Analisando então o teto de gastos para saúde pública congelados pelo governo, o envelhecimento populacional da nação, desassociações à planos de saúde e desemprego em ascenso, estima-se que dentro de apenas dez anos os gastos com demandas no SUS estejam alarmantemente superiores à capacidade de oferta, em valores sugeridos para 2030 de 37,9 bilhões de reais em orçamento disponíveis contra 63,4 bilhões em gastos estimados.

Por conseguinte, o caos visto em vários locais poderá ser ainda maior caso não sejam tomadas as providências para minimizar o flagelo. Consequentemente, cabe aos profissionais ponderarem em conjunto com seus pacientes e equipes, as reais necessidades de condutas sob a ótica da prevenção quaternária, equilibrando urgências sanitárias e financeiras em cada caso vivido, possibilitando assim um melhor fluxo de vida em comunidade evitando os excessos.

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