Probiótico na diarreia infantil: estudo mostra potencial benefício de uso relacionado a antibióticos

Estudo concluiu que o probiótico reduziu o risco geral de diarreia em crianças durante e por sete dias após a antibioticoterapia.

Em um recente estudo randomizado publicado no periódico JAMA Pediatrics, pesquisadores da Polônia e da Holanda concluíram que o probiótico multiespécies Ecologic AAD 612 não reduziu o risco de diarreia associada a antibióticos (DAA) em crianças, quando analisado de acordo com a definição mais rigorosa (três ou mais fezes amolecidas/líquidas por dia causadas por Clostridioides difficile [C. difficile] ou outra fonte inexplicável). No entanto, reduziu o risco geral de diarreia durante e por sete dias após a antibioticoterapia. Esse estudo também mostrou que a definição de DAA tem um efeito significativo sobre os desfechos de ensaios clínicos e sua interpretação.

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Probiótico na diarreia infantil: estudo mostra potencial benefício de uso relacionado a antibióticos

Metodologia

É sabido que a eficácia de formulações probióticas multiespécies na prevenção da DAA permanece incerta. Diante dessa imprecisão, o objetivo dos pesquisadores foi avaliar o efeito de um probiótico multiespécies sobre o risco de DAA em crianças. Foi conduzido então um estudo randomizado, quádruplo-cego e controlado por placebo, no período de fevereiro de 2018 a maio de 2021, em um ambiente multicêntrico e misto, com pacientes internados e também ambulatoriais.

Os pacientes foram acompanhados durante todo o período de intervenção. Foram incluídos pacientes pediátricos de três meses a 18 anos de idade, cujo recrutamento foi efetuado dentro de 24 horas após o início de antibióticos sistêmicos de amplo espectro. No total, 646 pacientes elegíveis foram abordados e 350 pacientes participaram da pesquisa. Os critérios de exclusão foram: uso de antibióticos nas quatro últimas semanas; uso de probióticos, inibidores da bomba de prótons, laxantes ou antidiarreicos nas duas últimas semanas; infecção grave ou doença com risco de vida ao recrutamento; diarreia preexistente nas quatro semanas anteriores com base no relato do paciente ou do cuidador; doença crônica grave; imunodeficiência primária ou secundária diagnosticada; necessidade de alimentação por sonda; aleitamento materno exclusivo; e alergia ou hipersensibilidade conhecida a qualquer componente do produto do estudo.

O probiótico multiespécies utilizado (Ecologic AAD 612;Winclove Probiotics B.V.) continha oito cepas bacterianas:  Bifidobacterium bifidum W23, Bifidobacterium lactis W51, Lactobacillus acidophilus W37, L. acidophilus W55, Lactocaseibacillus paracasei W20 (anteriormente conhecido como Lactobacillus paracasei W20), Lactoplantibacillus plantarum W62 (anteriormente conhecido como Lactobacillus plantarum W62), Lactocaseibacillus rhamnosus W71 (anteriormente conhecido como Lactobacillus W20) e Ligilactobacillus salivarius W24 (anteriormente conhecido como Lactobacillus salivarius W24), para uma dose total de 5 bilhões de unidades formadoras de colônia (UFC) por sachê (10 bilhões de UFC diariamente).

O desfecho primário foi DAA, definida como três ou mais fezes moles ou aquosas por dia em um período de 24 horas, causadas por Clostridioides difficile ou de outra etiologia inexplicada, após testes para patógenos diarreicos comuns. Os desfechos secundários incluíram diarreia independentemente da etiologia, duração e complicações predefinidas.

Resultados

Trezentas e cinquenta crianças (sendo 192 meninos e 158 meninas com média de idade de 50 meses) foram randomizados e 313 foram incluídos na análise de intenção de tratar. Comparado com placebo (n=155), o probiótico (n=158) não teve efeito sobre o risco de DAA (risco relativo [RR], 0,81; intervalo de confiança de 95% [IC 95%], 0,49-1,33). No entanto, as crianças do grupo probiótico apresentaram menor risco de diarreia, independentemente da etiologia (RR, 0,65; IC 95%, 0,44-0,94) – 20,9% dos pacientes que fizeram uso do probiótico apresentaram diarreia versus 32,3% com placebo, com um número necessário para tratar para um resultado benéfico adicional (number needed to treat for an additional beneficial outcome – NNTB) de 9. Ademais, não foram observadas diferenças entre os grupos para a maioria dos desfechos secundários, incluindo eventos adversos (menos pacientes no grupo probiótico necessitaram do uso de reidratação por causa da diarreia também — nenhuma versus 3,2%, respectivamente).

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Portanto, nesse ensaio clínico randomizado controlado por placebo de 350 crianças, o probiótico multiespécies utilizado não teve efeito significativo sobre o risco de DAA causada por Clostridioides difficile ou de etiologia desconhecida, mas reduziu o risco geral de diarreia independentemente da etiologia de 32% a 20%, com uma diferença estatisticamente significativa.

Conclusões

Esse estudo concluiu que o probiótico multiespécies usado não reduziu o risco de DAA quando analisado de acordo com a definição mais rigorosa. No entanto, os pesquisadores observaram um efeito benéfico da formulação no risco geral de diarreia após a antibioticoterapia (NNTB = 9) durante sete dias. O último resultado corresponde bem com a abordagem padrão para DAA na prática clínica. Embora o estudo utilizando probiótico multiespécies não tenha tido efeito significativo sobre o risco de diarreia associada a antibióticos causada por Clostridioides difficile ou de etiologia desconhecida, ainda assim, os pesquisadores relataram que a combinação de probióticos pode ser útil para a prevenção da diarreia durante a antibioticoterapia. Por fim, os pesquisadores enfatizaram que a definição do resultado da DAA tem um efeito significativo sobre os desfechos dos ensaios clínicos e sua interpretação.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Lukasik J, Dierikx T, Besseling-van der Vaart I, de Meij T, Szajewska H; Multispecies Probiotic in AAD Study Group. Multispecies Probiotic for the Prevention of Antibiotic-Associated Diarrhea in Children: A Randomized Clinical Trial [published online ahead of print, 2022 Jun 21]. JAMA Pediatr. 2022;10.1001/jamapediatrics.2022.1973. DOI:10.1001/jamapediatrics.2022.1973