Probióticos para alergia à proteína do leite de vaca: revisão sistemática de ensaios clínicos randomizados

A alergia à proteína do leite de vaca é a alergia alimentar mais comum da infância. Estudo buscou fazer revisão sistemática de ensaios clínicos randomizados.

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A alergia à proteína do leite de vaca (APLV) é a alergia alimentar mais comum da infância. A APLV é definida como uma reação adversa a uma ou mais proteínas do leite de vaca (PLV) (geralmente caseínas ou β-lactoglobulina do soro de leite), mediada por um ou mais mecanismos imunológicos

A incidência de APLV é estimada em aproximadamente 5% durante o primeiro ano de vida. Na Austrália e na Nova Zelândia, por exemplo, cerca de 2% (1/50) dos bebês são alérgicos ao leite de vaca e a outros produtos lácteos. A APLV está associada a um impacto significativo nas famílias e a encargos financeiros nos serviços de saúde em todo o mundo.

No Brasil, os dados epidemiológicos são escassos. Em estudo realizado em 9478 pacientes avaliados por 30 gastroenterologistas pediátricos nas cinco regiões brasileiras em um período de 40 dias, Vieira e colaboradores (2010) observaram uma prevalência de APLV suspeita em 5,4% da população estudada (513/9,478). A incidência encontrada foi de 2,2% (211/9,478).

A APLV pode ser mediada ou não por imunoglobulina E (IgE). As reações mediadas por IgE ocorrem, tipicamente, logo após a ingestão, enquanto as não mediadas por IgE levam até 48 horas para se desenvolver. As reações mediadas por IgE podem ser graves e se apresentar como anafilaxia com risco de vida. Além disso, as reações mediadas por IgE podem se manifestar também com sinais e sintomas cutâneos, respiratórios, cardíacos e gastrointestinais, enquanto as reações não mediadas por IgE podem se apresentar como proctocolite e enteropatia.

Estudos recentes mostraram que a microbiota intestinal desempenha um papel importante no desenvolvimento da resposta imune. A microbiota intestinal alterada no início da vida está associada à alergia alimentar e pode prever persistência da doença ou aquisição de tolerância. A disbiose intestinal está ligada ao aumento do risco de distúrbios alérgicos, incluindo a APLV na infância. Alguns estudos atuais indicaram um papel benéfico dos probióticos no manejo de crianças com APLV.  No entanto, não havia revisões sistemáticas sobre o tema.

Dessa forma, Qamer, Deshmukh e Patole (2019) realizaram uma revisão sistemática de ensaios clínicos randomizados com o objetivo de avaliar sistematicamente a eficácia e a segurança da suplementação de probióticos no manejo da APLV em crianças. O Artigo, intitulado Probiotics for cow’s milk protein allergy: a systematic review of randomized controlled trial, foi publicado em agosto pelo European Journal of Pediatrics1

Resultados

Em agosto de 2018, Qamer, Deshmukh e Patole (2019) pesquisaram ensaios clínicos randomizados (ECR) sobre suplementação de probióticos como tratamento auxiliar de bebês com suspeita ou confirmação de APLV, através dos bancos de dados PubMed, EMBASE, CINAHL, Cochrane Central Library e Google scholar.  Os desfechos primários foram a resolução de hematoquezia e a aquisição de tolerância à PLV aos 6, 12, 24 e 36 meses. Os desfechos secundários incluíram efeito sobre sintomas alérgicos (índice SCORAD), crescimento, microbiota intestinal e efeitos adversos.

Um total de 10 ensaios clínicos randomizados (n = 845; probióticos, 422; controle, 423) com risco baixo a claro de viés foram incluídos. A metanálise mostrou que a suplementação com probióticos não estava associada à resolução anterior da hematoquezia [n = 87; risco relativo (RR): 1,45, intervalo de confiança (IC) 95%: 0,96-2,18], p = 0,08; nível de evidência muito baixo, em APLV suspeita. Na APLV confirmada, os probióticos foram associados a uma maior taxa de aquisição de tolerância à PLV ao final de 3 anos em comparação com o placebo (N = 493; RR, 1,47; IC95% 1,17-1,84; p = 0,0009; nível de evidência muito baixo. A meta-análise não foi possível para outros resultados e não houve efeitos adversos relacionados aos probióticos.

Conclusão

Na revisão sistemática de Qamer, Deshmukh e Patole (2019), as evidências atuais sobre os efeitos dos probióticos no manejo da APLV são limitadas e de baixa qualidade. Os autores sugerem que ECR com acompanhamento em longo prazo são necessários para avaliar o potencial dos probióticos como uma intervenção para crianças com APLV

No último Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar (2018), a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e a Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI) descrevem que os probióticos carecem de evidências como produtos para prevenção ou tratamento de alergia alimentar.

 

Referências:

  • Qamer S, Deshmukh M, Patole S. Probiotics for cow’s milk protein allergy: a systematic review of randomized controlled trials. European Journal of Pediatrics 2019; 178: 1139-1149.
  • Vieira MC, et al. A survey on clinical presentation and nutritional status of infants with suspected cow’ milk allergy. BMC Pediatrics 2010; 10(5).
  • Solé D, et al. Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar: 2018 – Parte 1 – Etiopatogenia, clínica e diagnóstico. Documento conjunto elaborado pela Sociedade Brasileira de Pediatria
  • Associação Brasileira de Alergia e Imunologia. Arquivos de Asma, Alergia e Imunologia 2018; 2 (1): 7-38.

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