Procalcitonina (PCT): o que você precisa saber para sua prática clínica

A procalcitonina (PCT), peptídeo precursor da calcitonina, apresenta níveis séricos extremamente reduzidos em indivíduos normais.

A procalcitonina (PCT), peptídeo precursor da calcitonina, hormônio envolvido na homeostase do cálcio, apresenta níveis séricos extremamente reduzidos em indivíduos normais. Na prática clínica atual, tem se tornado biomarcador promissor para detecção precoce de infecção bacteriana sistêmica.

Em 1993, Assicot et al demonstraram correlação positiva entre níveis elevados de PCT e pacientes com achados positivos para infecção bacteriana e sepse (hemoculturas positivas). Posteriormente, demonstraram que a procalcitonina não se eleva em infecções virais e seus níveis reduzem quando o tratamento antibiótico apropriado é empregado.

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Procalcitonina (PCT) o que você precisa saber para sua prática clínica

Como interpretar?

Em condições fisiológicas normais os níveis da procalcitonina são muito reduzidos (menor que 0,05 ng/ml)

  • Diante de infecções bacterianas ocorre elevação dos níveis de procalcitonina pela ação de endotoxinas e citocinas pró-inflamatórias (ex: IL-6);
  • Seus níveis aumentam 6 a 12 horas após o início de infecções bacterianas. Além disso, aumentam progressivamente a cada 2 a 4 horas do início de um quadro séptico;
  • A meia-vida da procalcitonina é de 20 a 24 horas;
  • Após início da terapia antimicrobiana adequada, os níveis da procalcitonina reduzem em cerca de 50% em 24 horas;
  • Diante de infecções virais, citocinas específicas como o IFN-gamma levam ao down-regulation da PCT. Portanto, em infecções virais a procalcitonina estará normal ou, até mesmo, suprimida.

Fatores de confusão

A disfunção renal (em variados graus) pode afetar o metabolismo da procalcitonina. Seus valores estão falsamente elevados em indivíduos com disfunção renal, aumentando o valor basal da PCT. Seus níveis também podem estar elevados em pacientes com outras condições não infecciosas, como: trauma, queimaduras, terapias imunomodulatórias que aumentam citocinas pró-inflamatórias, choque cardiogênico e na cirrose (Child-Pugh Classe C).

Aplicando na prática clínica

Na prática clínica atual, dispomos de algumas referências de valores para início ou descontinuação da antibioticoterapia, a depender da condição clínica estudada. De forma geral, a literatura atual evidencia que a procalcitonina passa a ter relevância clínica quando seus níveis aumentam a partir do corte de 0,1 a 0,5 ng/mL. Além disso, níveis de procalcitonina abaixo de 0,1 ng/mL têm sido associados com alto valor preditivo negativo (96,3%) na exclusão de infecções bacterianas.

Veja a aplicação da procalcitonina em algumas condições:

 Exacerbação do DPOC:

  • Valor de corte: PCT 0,1 a 0,5 ng/mL (quando acima do valor de corte, considerar início de antibióticos mediante correlação clínica);
  • Ajuda a reduzir a exposição de antibióticos a essa população de pacientes que frequentemente necessita de internação hospitalar.

Febre no cenário pós-operatório: 

  • Valor de corte: PCT 0,1 a 0,5 ng/mL (ajuda a diferenciar a febre de causa infecciosa de febre por razões inflamatórias do pós-operatório);

 Sepse e Choque Séptico:

  • Valor de corte: PCT 0,25 a 0,5 ng/mL
  • Muito importante no cenário do paciente séptico devido seu valor prognóstico. Em geral, quanto maior a gravidade do quadro séptico, maior o valor da procalcitonina. Assim como, quanto maior a procalcitonina, maior a chance de progressão para choque séptico.

Qual deve ser o intervalo de medida?

Como já vimos, a cinética da procalcitonina é bem conhecida. Após início da terapia antibiótica, recomenda-se que nova dosagem de procalcitonina seja feita a cada 24 a 48 horas. Alguns protocolos inclusive recomendam que seja considerada a descontinuação de antibióticos assim que os níveis de procalcitonina caiam abaixo de 0,1 ng/mL ou 80 a 90% do valor inicial. Veja abaixo mais sobre o assunto.

PCT e descontinuação de antibióticos

No cenário de UTI, um estudo propôs um algoritmo para descontinuação de antibióticos no paciente séptico utilizando a PCT. O mesmo esteve ligado à menor uso de antibióticos, otimizando o antibiotic stewardship.

  • A terapia antibiótica deveria ser descontinuada se o nível de PCT estivesse abaixo de 0,5 ng/mL ou se houvesse queda de cerca de 80% a partir do valor de pico;
  • Se níveis persistentemente elevados acima de 0,5 ng/mL, era recomendado manter a terapia antimicrobiana ou até mesmo considerar mudança do tratamento.

Importância da procalcitonina

  • O diagnóstico precoce de infecções bacterianas está ligado a menor morbimortalidade;
  • O diagnóstico eficaz de infecções bacterianas permite o início de terapia antibiótica no melhor momento, evitando o uso inadequado de antibióticos;
  • Com o aumento progressivo da resistência bacteriana, a presença de um biomarcador que possibilita o início oportuno do antibiótico, assim como sua descontinuação, ajuda a otimizar o uso racional de antimicrobianos, impactando diretamente na redução do fenômeno da resistência;
  • Questões relacionadas ao seu custo ainda são levantadas. No cenário brasileiro, algumas operadoras de saúde não oferecem cobertura para o exame. O médico precisa levar em conta este fato na solicitação do exame, visando assegurar condutas custo-efetivas.

Procalcitonina e Covid-19

Com a pandemia pela Covid-19, vimos uma verdadeira corrida por um tratamento medicamentoso. Com os antibióticos não foi diferente. Um grande número de pacientes utilizaram antibióticos diante da infecção viral sem qualquer evidência de coinfecção bacteriana.

Leia também: Superinfecção bacteriana em pacientes com pneumonia grave por Covid-19

No contexto da Covid-19, a PCT é poderosa aliada para determinar o momento ideal para introdução de antibióticos. Febre alta, assim como PCR elevada, são esperadas no início da doença viral pelo pico inflamatório produzido. Isso não quer dizer que o paciente demanda antibioticoterapia. A procalcitonina pode ser utilizada para determinar o momento da coinfecção bacteriana quando seus níveis se elevam (valores acima do corte de 0,1 – 0,5 ng/mL), uma vez que infecções virais não aumentam a procalcitonina.

Mensagens Práticas

Pensou em procalcitonina, pensou em infecção bacteriana. Ela te ajudará a diferenciar se aquela elevação da proteína C-reativa esteve ou não associada à infecção bacteriana, por exemplo;

  • Valores abaixo de 0,1 ng/mL estão ligados a alto valor preditivo negativo (96,3%) na exclusão de infecções bacterianas;
  • Na sepse e choque séptico, seus valores guardam relação com prognóstico e gravidade do quadro;
  • Não esqueça: a PCT não aumenta em infecções virais;
  • Os níveis basais da PCT aumentam na disfunção renal (aguda ou crônica).

Referências bibliográficas: 

  • Cleland DA, Eranki AP. Procalcitonin. [Updated 2021 Aug 11]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2021 Jan-. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK539794/
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  • Kip MMA, van Oers JA, Shajiei A, Beishuizen A, Berghuis AMS, Girbes AR, de Jong E, de Lange DW, Nijsten MWN, IJzerman MJ, Koffijberg H, Kusters R. Cost-effectiveness of procalcitonin testing to guide antibiotic treatment duration in critically ill patients: results from a randomised controlled multicentre trial in the Netherlands. Crit Care. 2018 Nov 13;22(1):293. doi10.1186/s13054-018-2234-3
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