Pseudoplaquetopenia induzida pelo anticoagulante presente nos tubos de hemograma (EDTA)

A pseudoplaquetopenia induzida pelo EDTA deve ser investigada em pacientes sem clínica e história que justifiquem os níveis baixos de plaquetas.

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A plaquetopenia, também chamada de trombocitopenia, é uma alteração comumente encontrada na prática médica. A diminuição da quantidade de plaquetas circulantes pode ser causada por uma ampla variedade de causas e mecanismos de destruição (imunomediados ou não). Reconhecer e distinguir plaquetopenias “verdadeiras” das pseudoplaquetopenias, em especial a EDTA-dependente, mostra-se essencial, já que evitam diagnósticos errados, investigações desnecessárias e tratamentos inadequados.

A pseudoplaquetopenia induzida pelo EDTA é uma das situações que devem ser investigadas em pacientes sem clínica e história que justifiquem os níveis baixos de plaquetas eventualmente encontrados. Ela tem uma ocorrência de, aproximadamente, 0,1% do total das contagens de plaquetas realizadas nos Laboratórios Clínicos. Levando-se em conta de que laboratórios de grande porte realizam em sua rotina milhares de hemogramas ao dia, podemos perceber que esses casos podem aparecer em quantidades não desprezíveis.   

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O ácido etilenodiamino tetra-acético – C10H16N2O8 (EDTA) é um agente com propriedades anticoagulantes e bacteriostáticas. Seu mecanismo de ação se dá pela capacidade de se ligar fortemente aos íons de cálcio plasmático, bloqueando assim a agregação plaquetária e a cascata de coagulação. O EDTA-K2, que é sua forma de sal dipotássica, é a apresentação recomendada tanto pelo CLSI (Clinical and Laboratory Standards Institute) quanto pelo ISCH (International Council for Standardization in Hematology) para a coleta do hemograma.

Ele é adicionado no interior tubos de coleta (tampa roxa) para a obtenção do sangue total para testes de hematologia, imuno-hematologia e moleculares, sendo capaz de manter a integridade e morfologia das células.

O mecanismo fisiopatológico da pseudoplaquetopenia pelo EDTA ainda não é muito bem definido. Porém, acredita-se que autoanticorpos (podendo ser por compostos por diferentes classes de imunoglobulinas) encontrados no plasma de alguns pacientes podem reconhecer, in vitro, epítopos expostos pelo EDTA, no complexo GpIIb/IIIa. Esse processo acarreta em uma agregação plaquetária levando a falsa diminuição da quantidade de plaquetas (pseudoplaquetopenia) e satelitismo plaquetário (rosetas de plaquetas ao redor de leucócitos), sendo considerado um artefato laboratorial. 

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Como confirmar essa condição?

Através da hematoscopia, a visualização da presença de agregados plaquetários isolados e/ou agrupados, além da possibilidade de se observar satelitismo plaquetário, corroboram o diagnóstico. Pode-se colocar o tubo primário em banho maria a 37°C, por 10 minutos, homogeniza-lo e refazer a plaquetometria e o esfregaço sanguíneo para tentar desagregar as plaquetas. 

Outra medida importante é a coleta de nova amostra em tubo utilizado para testes de coagulação, contendo citrato de sódio 3,2% (tampa azul clara). Deve-se então aquecê-lo em banho maria a 37°C por 10 minutos, proceder novo esfregaço sanguíneo para coloração e hematoscopia e, em seguida, realizar a plaquetometria no contador hematológico. Na hipótese de retificação dos níveis de plaquetas através de sua desagregação, é necessário a multiplicação do resultado por 1,2 (fator de correção da diluição para estimar o valor em EDTA).

Tendo em vista que a pseudoplaquetopenia induzida pelo EDTA é tempo-dependente, o ideal é que a amostra de sangue seja analisada imediatamente após a coleta, afim de mitigar a formação dos agregados plaquetários. 

Tão importante quanto detectar essa condição, é informar e explicar ao paciente sobre essa sua “particularidade”. Ele deve ser orientado a avisar previamente ao Laboratório Clínico sempre que for realizar algum exame de sangue, afim de que todas as medidas e cuidados pré-analíticos possam ser tomados.

 

Referências:

  • CLSI H3-A6, Procedures for the Collection of Diagnostic Blood Specimens by Venipuncture; Approved Standard, 6.ed.
  • Dusse Luci Maria Sant’Ana, Vieira Lauro Mello, Carvalho Maria das Graças. Pseudotrombocitopenia. J. Bras. Patol. Med. Lab.  [Internet]. 2004.
  • Henry JB. Diagnósticos Clínicos e Tratamento por Métodos Laboratoriais. 20ª ed. São Paulo: Editora Manole, 2008.
  • PAYNE, B.; PIERRE, R. Pseudothrombocytopenia: a laboratory artifact with potentially serious consequences. Mayo Clin Proc, v. 59: 123-5, 1984.
  • SBPC/ML. Recomendações da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML): coleta e preparo da amostra biológica. Barueri: Minha Editora; 2014.
  • SBPC/ML. Recomendações da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML): fatores pré-analíticos e interferentes em ensaios laboratoriais. 1.ed. Barueri: Manole, 2018. 

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