Psiquiatria: atenção, sensibilidade e capacidade de compreender o diferente

Todo dia traremos para você a visão de um especialista sobre sua respectiva área! Hoje vamos falar sobre Psiquiatria com a Dr. Marcos Fidry.

PEBMED preparou uma série de artigos sobre cada especialidade médica para ajudar você a escolher a residência que está mais alinhada com seus objetivos e suas qualidades. Todo dia traremos a visão de um especialista sobre sua respectiva área, as oportunidades disponíveis, principais desafios e muito mais! Hoje é dia de falar sobre Psiquiatria com o Dr. Marcos Fidry.

1) O que é?

A Psiquiatria é uma das primeiras especialidades médicas a surgir. Deriva do termo grego Psychē, que significa alma, mente. Trata das patologias que alteram o comportamento humano, que causam sofrimento ou prejuízo funcional. É prática complementar da Saúde Mental, área multidisciplinar que engloba Psicologia, Assistência Social, Terapia Ocupacional, Enfermagem, Fonoaudiologia, dentre outras.

As patologias mais frequentemente acompanhadas são os transtornos de humor (depressão maior, transtorno de humor bipolar), transtornos de ansiedade, os transtornos alimentares, os transtornos de personalidade, os transtornos de abuso e dependência de substâncias.

Para se especializar em Psiquiatria, o médico tem três opções atualmente. A primeira é a Residência Médica em Psiquiatria, com duração de 3 anos, com a possibilidade de um ano complementar em subespecialidade (Psiquiatria Infantil, Psiquiatria Geriátrica, Psicoterapia, Psiquiatria Forense, Álcool e Drogas). As outras opções são o curso de especialização e experiência profissional de 6 anos, com presença de psiquiatra no serviço, em conjunto com a prova de Título de Especialista de Psiquiatria aplicada pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).

O profissional que deseja se formar psiquiatra deve ser paciente, com habilidade em prover escuta ao paciente. Deve ser acostumado a lidar com doenças crônicas, com baixas taxas de sucesso em remissão de sintomas. Deve ter vasto conhecimento em Psicofarmacologia e Clínica Médica, para conseguir realizar diagnósticos diferenciais. É importante que tenha capacidade de compreender o diferente, para trabalhar com o psicossocial do paciente. É mister conseguir trabalhar em grupo, com profissionais de formações diversas a sua. Por fim, deve estar sempre atento à atualidade e ao mundo que o cerca.

2) Como é o dia a dia?

A atuação do psiquiatra é basicamente ambulatorial. Por vezes pode também ser em escala de plantão (emergências e enfermarias psiquiátricas), em interconsultas hospitalares (sobreaviso) ou em atividade pericial.

As consultas psiquiatras tendem a ser mais demoradas que consultas de outras especialidades clínicas. Não é raro que uma primeira consulta psiquiátrica ultrapasse os 90 minutos. São muito poucos procedimentos médicos realizados pelo psiquiatra (eletroconvulsoterapia, estimulação magnética transcraniana, por exemplo). Isto faz com que o principal meio de trabalho do profissional seja o consultório médico particular, geralmente sem aderir a planos de saúde.

O psiquiatra em início de carreira acaba trabalhando mais em plantões, enquanto que assim que consegue se estabelecer, trabalha em horário comercial, sendo poucos aqueles que ficam dependentes de vínculos em emergências ou enfermarias, geralmente por opção própria.

3) Oportunidades de trabalho:

Principalmente são o consultório particular ou clínicas particulares, ambulatórios do SUS, CAPS (centros de atenção psicossocial), emergências psiquiátricas, enfermarias, hospitais clínicos (interconsulta), clínicas de saúde da família (matriciamento), além da área pericial e a acadêmica.

4) Número de especialistas:

No momento, temos aproximadamente 9 mil psiquiatras registrados pela Associação Brasileira de Psiquiatria.

5) Curiosidade(s):

– São muitas as peculiaridades da Psiquiatria. Por ser uma especialidade de troca muito íntima com o paciente, é comum vínculos intensos serem criados, tanto de maneira positiva quanto negativa. É comum em um mesmo dia receber elogios rasgados de um e ser ameaçado por outro.
– Leigos têm uma imaginação muito fértil quanto aos métodos utilizados pelo psiquiatra. Muitas vezes têm medo de contar o que vêm passando por medo de ser internados ou de serem taxados de “loucos”. Muito desse medo é resultado das más práticas principalmente nos anos 60 e 70, antes da reforma psiquiátrica, quando a internação era utilizada como prisão política e com pouco critério, sem uma estrutura terapêutica adequada.
– Todas as especialidades médicas acabam utilizando de terapias consideradas off-label. A Psiquiatria é uma especialidade cheia dessas condutas, muitas vezes o que é baseado em evidências é quase que ignorado por alguns profissionais. O residente em psiquiatria deve ser muito atento ao que ele é ensinado tem base na literatura.

6) Especialidades correlacionadas:

  • Neurologia
  • Neurocirurgia
  • Endocrinologia
  • Clínica médica
  • Clínica da Dor
  • Medicina do Sono
  • Reumatologia

7) Área de atuação:

  • Ambulatório: principal área de atuação, onde o psiquiatra irá lidar com um grande número de pacientes, em consultas mensais ou bimensais, formulando hipóteses diagnósticas, avaliando psicofarmacologia, agindo com equipe multidisciplinar para elaborar um plano terapêutico singular. Seja ambulatório do SUS ou consultório particular, todo psiquiatra acaba atuando um período da vida nessa área.
  • Enfermarias: atuação acompanhando internação de pacientes, com evolução e prescrição diária, avaliando quadro clínico e critérios de alta. Interação com equipe multidisciplinar, visando melhores estratégias terapêuticas.
  • Emergências: geralmente em esquemas de plantão, as emergências são públicas ou privadas, onde serão feitas as internações, acolhimentos emergenciais e o ambulatório de crise (consultas breves, em lata frequência, às vezes até diárias, com o objetivo de socorrer o paciente sem o uso da internação). Normalmente têm fluxo muito intenso, porém menor que às clínicas e cirúrgicas.
  • Interconsultas hospitalares: em esquema de sobreaviso, o psiquiatra é convidado para avaliar pacientes internados em hospitais clínicos, com comorbidades psiquiátricas prévias ou apresentando alterações comportamentais agudas.
  • Matriciamento: exclusivo da saúde da família, o psiquiatra capacita e auxilia equipes de várias unidades com cuidados de saúde mental. Trabalha em conjunto com os médicos e enfermeiros de família, visitando os pacientes em seus domicílios ou na própria unidade.
  • Perícias: convidado por um juiz, ou atuando para órgão de securidade social, o psiquiatra (geralmente, mas não exclusivamente forense) avalia um paciente, seu diagnóstico, se faz tratamento de acordo com seu problema e sua capacidade de exercer vida civil, atividade laborativa ou mesmo se pode ser considerado inimputável em processos criminais.

8) Mensagem para quem quer seguir essa especialidade:

A Psiquiatria é uma especialidade complexa, por vezes muito distante da prática obtida na graduação e internatos. Muitas vezes para conhecer melhor o dia a dia, é necessário estagiar em ambulatórios ou hospitais fora da própria faculdade. O convívio com o paciente é muito mais próximo que em outras áreas da medicina, sendo comum residentes não se adaptarem inicialmente. Conhecimento clínico é essencial, muitas vezes somos os únicos médicos desses pacientes.

O principal recurso médico do psiquiatra é sua habilidade de conduzir uma anamnese, sua capacidade de escuta e habilidade de comunicação com o paciente. Estar atento a pequenos detalhes, ter sensibilidade de entender o que não é explícito, entender visões de mundo diferente das nossas são essenciais. É bom se enriquecer o máximo possível com cultura geral, para conseguir entender anseios por vezes muito diferentes dos próprios.

*Os artigos sobre as especialidades médicas foram produzidos em parceria com a Associação Nacional de Médicos Residentes

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