Quais as perspectivas para o futuro da insuficiência cardíaca?

A insuficiência cardíaca é via final de todas as doenças do coração e tem impacto importante na qualidade de vida e mortalidade.

A insuficiência cardíaca é via final de todas as doenças do coração e tem impacto importante na qualidade de vida e mortalidade, se trata de uma doença sem cura e progressiva.

Desde a evidência de benefício em sintomas e sobrevida por parte dos IECAs e BRAs, diversos medicamentos foram adicionados na cesta de tratamento da insuficiência cardíaca com grandes impactos em desfechos duros.

Recentemente observamos o benefício do sacubitril + valsartana e dos inibidores SGLT2 na mortalidade da doença.
Entretanto, a cura para doença só é possível através de transplante cardíaco, o que é raro e não é livre de outras complicações.

Atualmente a estratégia ideal se baseia na prevenção e controle de fatores de risco, bem como correção cirúrgica de doenças estruturais e tratamento de arritmias que possam levar a uma disfunção cardíaca. Mas quais as perspectivas para a doença?

eletrocardiograma impresso de paciente com insuficiência cardíaca

Perspectivas para a insuficiência cardíaca

A terapia com células tronco ou com mioblastos esqueléticos pretende induzir a regeneração do músculo cardíaco e assim melhorar sua função. Diversos tipos de células tronco estiveram envolvidos em pesquisa, entretanto o benefício da terapia celular permanece incerto. O benefício da terapia celular parece ser mais parácrino, produzindo diversas substâncias como fatores de crescimento e citocinas, melhorando perfusão cardíaca através de angiogênese, sendo esse um fator de melhora da função ventricular. Porém não houve diferenciação em cardiomiócitos ou mesmo contração muscular efetiva dessas células.

Os estudos tiveram evidência fraca em relação a desfechos duros, mas parecem não provar reduzir risco de internação ou mortalidade.

Leia também: Recomendações para avaliação de pacientes internados com insuficiência cardíaca

Quando o tecido cardíaco sobre uma lesão de qualquer natureza, tende a substituir o tecido danificado por fibrose. A fibrose tem o papel de manter a integridade da estrutura cardíaca substituindo a perda de miócitos. Entretanto o tecido fibrótico compromete a funcionalidade do órgão e tende a gerar focos arritmogênicos ou de bloqueios de condução elétrica.

Os fibroblastos e miofibroblastos quando ativados por alguma lesão cardíaca passam a produzir matriz extracelular em um processo que possui quatro fases. Sabe-se também, que a fibrose não é um tecido cicatricial estático e pode aumentar ou ser reabsorvido conforme determinados estímulos. Muito se discute em reduzir a carga fibrótica, porém poucos estudos abordam a redução da fribrogênese.

RAQ de linfócitos T

Um estudo recente usou um receptor de antígeno quimérico (RAQ) de linfócitos T. Esse receptor age de forma combinar anticorpos monoclonais ao poder citolítico das células T independentes do complexo principal de histocompatibilidade. Os pesquisadores utilizaram ratos com corações que possuíam miofibroblastos mutantes que produziam um antígeno não próprio. Sendo assim os linfócitos T destruíam os miofibroblastos levando a uma menor fibrogênese no coração.

Após essa etapa os pesquisadores encontraram uma proteína relacionada a fribrogênse em corações humanos, a proteína de ativação dos fibroblastos (PAF). Aproveitando os linfócitos T direcionados a PAF que foram testados previamente na doença neoplásica, os pesquisadores observaram uma redução da fibrose, aumento da massa ventricular e um certo aumento da contratilidade cardíaca em ratos com corações fibróticos. Como os fibroblastos que agem na região perivascular não expressam PAF a cicatrização de lesões agudas não seria afetada.

Veja também: Como manejar a insuficiência cardíaca no paciente com comorbidades?

Além disso os efeitos colaterais da terapia foram mínimos, apresentando apenas uma fraca inflamação.
Portanto diversas questões surgem dessa nova estratégia terapêutica baseada na medicina de precisão que visa atacar apenas o problema em questão.

Será que ela será realmente efetiva? Quais serão os efeitos colaterais em humanos? Haveria resposta semelhante em outros tecidos que não o cardíaco? Como seria em relação a questões éticas? O fato é que surge uma nova estratégia na terapia da insuficiência cardíaca que deve ser levada em consideração.

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