A oxigenação por membrana extracorpórea (ECMO) tem sido utilizada em diversos casos de insuficiência respiratória, sobretudo durante a pandemia de covid-19. A mortalidade de pacientes em ECMO tem sido alta, sobretudo pela complexidade dos casos, com taxas de mortalidade geral em torno de 37%. Alguns estudos sugerem benefícios do tratamento, porém o paciente ideal ainda permanece incerto. Diante desse cenário, países como o Reino Unido criaram uma rede de encaminhamento para referenciar pacientes com indicação de ECMO.
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Métodos
O estudo de coorte retrospectivo foi realizado em dois centros do Reino Unido de 2020 a 2021 que receberam pacientes com indicação de ECMO, sendo as principais indicações, insuficiência respiratória, hipoxêmica reversível, escore de Murray > 3, descompensação da hipercapnia, na ausência de outras disfunções orgânicas. Todos os pacientes com covid-19 poderiam ser incluídos após discussão de caso, sendo aqueles com diagnóstico de outra doença não covid eram excluídos. Muitos pacientes eram colocados em ECMO em seu hospital de origem e, após, transferidos aos centros de referência. O desfecho primário foi a mortalidade intra-hospitalar.
Resultados
Foram incluídos 1.363 pacientes, dos quais 243 foram colocados em ECMO nos centros de referência. A maioria dos pacientes eram homens, acima de 50 anos. A mortalidade para encaminhamentos tratados convencionalmente (sem ECMO) aumentou na segunda onda de covid-19 (51,9% vs 62,4%, p = 0,001), mas permaneceu estável em pacientes tratados com ECMO (22,9% vs 26,1%, p = 0,672). Após comparação entre pacientes tratados convencionalmente (controles) e com ECMO, o grupo que recebeu ECMO parece apresentar menor mortalidade. Após o pareamento, o odds ratio (OR) para mortalidade foi de 0,44 (IC 95% 0,29–0,68, p < 0,001) e a redução absoluta de mortalidade de 18,2% (44% vs 25,8%, p < 0,001) para tratamento com ECMO em um centro especializado.
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No presente estudo, pacientes que receberam tratamento para a insuficiência respiratória com ECMO apresentaram melhor sobrevida quando comparados aqueles com tratamento convencional. Porém esses resultados só foram possíveis graças a uma série de correspondências e análises realizadas pelos autores. Em comparação a outros trabalhos, o estudo EOLIA apresentou resultados semelhantes, porém às custas de muito crossover entre os braços e de forma tardia.
Os resultados da utilização de ECMO em pacientes com covid-19 ainda permanece incerto. A mortalidade possui grande variabilidade entre os estudos, podendo chegar a 70% dos casos. O presente trabalho chama a atenção para a seleção dos pacientes, evitando aqueles com disfunções orgânicas acumuladas, ou seja, evitando-se pacientes muito graves e com prognóstico reservado. Foram selecionados pacientes mais jovens, com menos disfunção renal e menor tempo de ventilação mecânica e menor SOFA. Além disso, os centros possuíam grande experiência em ECMO, o que pode contribuir para aumento da sobrevida.
Mensagens práticas:
- O suporte em ECMO deve ser realizado em centros com expertise na área, e pode aumentar a sobrevida de pacientes bem selecionados.
- Pacientes mais jovens, com quadros mais agudos e poucos dias de ventilação mecânica parecem ter o maior benefício da terapia;
- No Brasil assim como no mundo, a utilização de ECMO aumentou expressivamente durante a pandemia, possibilitando maior entendimento sobre qual o paciente ideal e o manejo dos casos na terapia intensiva;
Referências bibliográficas:
- Whebell S, Zhang J, Lewis R, Berry M, Ledot S, Retter A, Camporota L. Survival benefit of extracorporeal membrane oxygenation in severe COVID-19: a multi-centre-matched cohort study. Intensive Care Med. 2022 Mar 3. doi: 10.1007/s00134-022-06645-w.
1 abr. 2024 
4 min. 
