Quais são as novidades das diretrizes de triagem auditiva neonatal?

A detecção precoce de déficits auditivos logo nos primeiros meses de vida, por meio da triagem auditiva neonatal, permite que intervenções sejam realizadas.

A detecção precoce de déficits auditivos logo nos primeiros meses de vida, por meio da triagem auditiva neonatal, permite que intervenções sejam realizadas, levando a maior estimulação da linguagem, integração dessa criança a sua família e sociedade, e melhor desempenho acadêmico.

pés de bebê recém-nascido que vai realizar triagem auditiva neonatal

Triagem auditiva neonatal

Antes da triagem, as crianças que eram surdas ou tinham déficit auditivo grave não eram identificadas até os dois ou três anos de idade, já as crianças que tinham limiar auditivo entre 25dBe 40dB só tinham déficit auditivo detectado na fase escolar conforme mostrado por Yoshinaga-Itano et al em 1998). Em 2010, a realização de triagem auditiva neonatal tornou-se obrigatória em maternidades e hospitais com a promulgação da Lei nº 12.303 no Brasil.

Em 2019, o Comitê Misto de Audição Infantil (Joint Committee On Infant Hearing) publicou as novas diretrizes de triagem auditiva precoce e programas de intervenção para atualizar as diretrizes publicadas em 2007. Neste artigo, destacaremos as novidades dessas diretrizes em tópicos.

Sobre a metas dos Programas Detecção Precoce de Déficits Auditivos e Intervenção

Nos Programas de Detecção Precoce de Déficits Auditivos e Intervenção, deve-se preconizar a meta de 1-3-6 meses (triagem auditiva neonatal finalizada por volta de 1 mês de idade, diagnóstico audiológico por volta de 3 meses de idade e intervenção precoce com 6 meses de idade). Os programas que já tiverem atingido esse alvo, devem tentar buscar o novo alvo respectivo de 1-2-3 meses.

Visar a realização de triagem auditiva neonatal universal antes da alta hospitalar e no máximo antes de completar 1 mês de idade.

Todos os lactentes que tiverem alteração na triagem auditiva neonatal inicial ou em qualquer teste de seguimento devem ter avaliação audiológica apropriada confirmando sua acuidade auditiva até 3 meses de idade com encaminhamento para serviços de intervenção imediatamente. É muito importante esclarecer as famílias sobre os resultados dos exames, acolher as famílias e informar sobre os passos da investigação e tratamento.

Os serviços de intervenção precoce devem oferecer tratamento individualizado para cada criança, avaliar a possibilidade do uso próteses auditivas e implante coclear. Deve-se fornecer suporte familiar e avaliar as preferências de tratamento de cada família.

Mesmo as crianças que tiveram a triagem auditiva neonatal normal devem ser monitoradas pelos pais e profissionais de saúde periodicamente para avaliar se seu desenvolvimento auditivo e de comunicação estão adequados para a idade.

Tipos de exames e suas indicações

Para triagem auditiva neonatal, podemos usar o exame de emissões otoacústicas (EOA), que avalia a audição periférica avaliando a integridade das células ciliares, ou o exame de avaliação de potencial evocado auditivo de tronco encefálico (PEATE ou BERA), que avalia tanto a audição periférica com status da cóclea quanto a função neural auditiva que se estende da cóclea até o encéfalo.

Recomendações das novas diretrizes para neonatos que:

  • Estão bem nas enfermarias: triagem com EOA ou PEATE antes da alta hospitalar. Caso falhe no EOA, repetir EOA ou fazer o PEATE ainda no hospital. Caso falhe no PEATE em aparelho automático, repetir PEATE em aparelho automático ainda no hospital;
  • Estão internados na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal: fazer o PEATE em aparelho automático, porque os neonatos da UTI têm maior risco de déficit auditivo e de neuropatia auditiva por hiperbilirrubinemia e/ou por uso de aminoglicosídeos. Caso falhe no PEATE em aparelho automático, encaminhar diretamente para audiologista e, se indicado, para fazer PEATE em aparelho diagnóstico.

Os pacientes precisam ser avaliados por otorrinolaringologista para ver se tem alguma efusão na orelha média ou líquido amniótico retido. Diante de lactentes e pré-escolares com efusão de orelha média, pode ser feita audiometria comportamental. A audiometria comportamental afere que se uma criança que se assusta com confiança em sons altos é improvável que tenha perda auditiva bilateral profunda. Entretanto, se a criança não se assustar com o som alto, não se pode presumir que apresente uma perda auditiva periférica.

Anamnese pediátrica

Na anamnese pediátrica, é importante questionar sobre:

  • Tipo de exame de triagem auditiva neonatal ao qual o paciente foi submetido (emissões otoacústicas, popularmente chamado de exame da orelhinha, ou PEATE ou BERA);
  • Idade e nº de vezes que foi submetido ao teste de triagem auditiva;
  • História gestacional (com destaque para infecções na gestação como por citomegalovírus, zika e uso de medicações);
  • História do parto (tipo de parto, tempo de bolsa rota e se houve dificuldade de extração);
  • História neonatal (internação em UTI neonatal por mais de cinco dias, asfixia, encefalopatia hipóxico-isquêmica, microcefalia, icterícia neonatal com necessidade de transfusão);
  • História prévia (uso de aminoglicosídeos > 5 dias, ter ficado em circulação extracorpórea, quimioterapia, trauma cranioencefálico e outros);
  • Avaliar história familiar especialmente presença de casos de familiares com déficit auditivo;
  • Perguntar para os responsáveis sobre como é a comunicação com a criança e o que lhes preocupa, por exemplo a quais estímulos a criança não responde, dificuldade de ouvir, atraso ou regressão no desenvolvimento.

Acompanhamento multidisciplinar

Toda criança com déficit auditivo suspeito ou confirmado deve ser acompanhado por pediatra, audiologista, otorrinolaringologista, geneticista, fonoaudiólogo e, se necessário, por psicólogo. Crianças com déficit auditivo têm risco aumentado de ter síndromes genéticas, déficit visual, autismo, déficit de aprendizado e outras condições.

Mais da autora: O que você precisa saber sobre as novas diretrizes de TDAH?

Sobre vacinação

As crianças que recebem implante coclear têm maior chance que a população geral de desenvolver meningite bacteriana. Por esse motive, os pacientes devem ser referenciados para os Centros de Referência de Imunobiológicos Especiais (CRIE) no Brasil no SUS para ter as vacinas antipneumocócicas (incluindo a pneumocócica 23 valente para > 2 anos de idade), antimeningocócica tipo C e contra Haemophilus tipo b em dia. Também devem tomar vacina contra Influenza para prevenir otite média aguda.

Conclusão

A triagem auditiva neonatal permite a detecção precoce de deficiência auditiva em neonatos, encaminhamento para adequado diagnóstico e intervenções. É importante ver o paciente e sua família como um todo, oferecer tratamento com equipe multidisciplinar para permitir adequada integração desses cidadãos na sociedade.

Referências bibliográficas:

  • JOINT COMMITTEE ON INFANT HEARING. Year 2019 Position Statement: Principles and Guidelines for Early Hearing Detection and Intervention Programs. The Journal of Early Hearing Detection and Intervention, v.4, n.2, p. 13–44, 2019.
  • Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. Manual dos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. – 4. ed. – Brasília : Ministério da Saúde, 2014. 160 p. : il.
  • Rodrigues GRI, Loiola-Barreiro CM, Pereira T, Pomilio MCA. A triagem auditiva neonatal antecipa o diagnóstico e a intervenção em crianças com perda auditiva?. Audiol., Commun. Res. [Internet]. 2015 Sep [cited 2020 Mar 01] ; 20( 3 ): 246-254. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2317-64312015000300246&lng=en. https://doi.org/10.1590/S2317-64312015000200001453.
  • Legislação Informatizada – LEI Nº 12.303, DE 2 DE AGOSTO DE 2010 – Publicação Original. Disponível em https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/2010/lei-12303-2-agosto-2010-607594-publicacaooriginal-128606-pl.html acessado em 1º de março de 2020 às 14h13min.
  • Yoshinaga-Itano, C., Sedey, A. L., Coulter, D. K., & Mehl, A. L. (1998). Language of Early- and Later-identified Children With Hearing Loss. Pediatrics, 102(5), 1161–1171. doi:10.1542/peds.102.5.1161

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