Qual a relação da hipertensão arterial com o sono? [podcast]

No podcast de hoje, a cardiologista Érika Campana conversa mais uma vez com o cardiologista Danilo Maksud, dessa vez, sobre o sono e a hipertensão arterial.

No podcast de hoje, a cardiologista Érika Campana, Doutora e Mestre em Medicina pela UERJ e Especialista em Cardiologia pela SBC/AMB, conversa mais uma vez com o cardiologista Rafael Costa, também especialista pela SBC/AMB. Dessa vez, o papo é sobre a relação do sono com hipertensão arterial. Confira:

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médica aferindo pressão de paciente idosa com hipertensão arterial e problemas do sono

Confira abaixo a transcrição do podcast sobre HAS e sono

Érika Campana: Olá, pessoal. Eu sou a Érika Campana, doutora e mestre em medicina pela UERJ, cardiologista especialista pela SBC/AMB e presidente do DHA Socerj de 2020-2021. Este é mais um podcast de hipertensão e vamos conversar um pouco sobre a interface na qualidade do sono e a hipertensão arterial. Para conversar comigo, eu convidei meu amigo Rafael Costa, que também é cardiologista especialista pela SBC/AMB.

Rafael Costa: Olá, Erika. Muito obrigado pelo convite. É um prazer poder debater sobre assuntos relevantes dentro da cardiologia.

Érika Campana: Cada vez a importância da avaliação da pressão arterial fora do consultório tem sido reforçada como um parâmetro que é superior para a previsão de desfechos cardiovasculares. E a pressão arterial noturna, que pode ser obtida através da MAPA, tem sido reconhecida como um importante parâmetro para estratificação de risco cardiovascular. Você concorda com essa afirmativa, Rafael?

Rafael Costa: Sim, Érika. Concordo totalmente. Em uma revisão sistemática, de vinte e três mil quinhentos e oitenta e seis pacientes hipertensos e nove mil seiscentos e quarenta e um participantes asiáticos, europeus e sul-americanos, mostraram que a PA noturna prediz mortalidade e morbidade cardiovascular em ambos os pacientes, hipertensos e população em geral. Isso ocorreu mesmo quando os ajustes foram feitos para a PA durante o dia. E ainda não sabemos como administrar a PA noturna elevada, principalmente quando não há descenso em comparação à PA diurna, ou seja, non-dipping. Em 1988, O’Brein introduziu um novo conceito de non-dippers, ao descrever um subgrupo de pacientes hipertensos nos quais o declínio noturno da PA sistólica e PA diastólica foi inferior a dez e cinco milímetros de mercúrio, respectivamente, e o risco de derrame foi alto.

Érika Campana: Quais seriam então os possíveis determinantes para o aumento da pressão arterial noturna?

Rafael Costa: Foram identificados envelhecimento, obesidade, fatores comportamentais como alta ingestão de sal, disfunção autonômica subjacente do sistema nervoso e distúrbio do sono. A síndrome da apneia e hipopneia obstrutiva do sono tem um grande impacto na PA noturna por alterar condições fisiológicas devido às repetitivas obstruções das vias aéreas, aumento da PA e frequência cardíaca.

Érika Campana: De fato, a interface entre a síndrome de apneia e hipopneia obstrutiva do sono e a hipertensão é bastante conhecida, mas existem outros distúrbios do sono. Há também relação entre esses outros distúrbios do sono e a hipertensão?

Rafael Costa: Sim, parece haver também relação entre a hipertensão arterial e outros tipos de distúrbio de sono, como a insônia, por exemplo. Por ser o mais comum distúrbio do sono, mostrou-se estar relacionada ao desenvolvimento da hipertensão. Uma revisão sistemática recente confirmou que a insônia está relacionada à hipertensão e ao comportamento non-dipping da PA. No artigo em uma edição atual do Journal of Hypertension, os autores analisaram um subconjunto de trezentos e noventa e nove pacientes, Wisconsin Sleep Cohort. É um dos maiores estudos sobre os distúrbios do sono. Uma análise transversal mostrou as características da insônia, que é a dificuldade de adormecer, maior tempo acordado após o início do sono, que é o AZO, tempo curto de sono e sua qualidade. Após isso, verificou-se que todas essas alterações foram associadas ao não descenso da PA sistólica e PA diastólica. Esse estudo tem uma boa confiabilidade, pois os pacientes foram analisados de forma abrangente com a MAPA e polissonografia. E, também, a natureza longitudinal do estudo e o longo acompanhamento nos permitem entender o potencial valor preditivo pela análise da AZO, que é maior que sessenta minutos e a qualidade menor do sono menor que oitenta por cento, que não são avaliadas rotineiramente na nossa prática clínica.

Érika Campana: Muito interessante. O que mais sabemos dessa inter-relação entre a insônia e a hipertensão?

Rafael Costa: Considerando que a prevalência de insônia e hipertensão aumenta com o envelhecimento, seria particularmente importante confirmar os resultados do estudo também em pacientes idosos. Os dados do artigo são convincentes na questão de associação da insônia com o risco de desenvolver hipertensão, porém, não mostrou a reversibilidade dessa associação. Estudos intervencionistas são necessários para realmente mostrar o impacto do tratamento da insônia sobre a redução da PA e, possivelmente, redução da morbidade cardiovascular a longo prazo. Diante desses fatos, percebemos o quanto é importante investigarmos a qualidade do sono e sintomas sugestivos de distúrbio do sono em nossos pacientes hipertensos, mesmo naqueles sem sinais de síndrome da apneia e hipopneia obstrutiva do sono. Isso deve fazer parte da nossa rotina. E, Érika, eu queria agradecer mais uma vez pelo convite e espero estarmos juntos em outros bate-papos interessantes como este. Obrigado.

Leia também: Os números da hipertensão: novas drogas significam mais controle da doença?

Érika Campana: Eu gostaria de agradecer ao Rafael pela participação. Foi uma discussão bastante interessante que abre novos pontos de raciocínio da interface da hipertensão com outros cenários clínicos, reforçando esse papel multifatorial da hipertensão, tanto na sua fisiopatologia quanto em aspectos de tratamento da hipertensão. Obrigada, nos vemos em um próximo podcast.

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