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Infelizmente a utilização de antibiótico é em diversas situações realizada de forma automática e sem muitos questionamentos sobre o seu real benefício. Isto é notoriamente comum nos casos das profilaxias cirúrgicas, cuja rotina e conceitos antigos perduram, mesmo após a evolução do conhecimento sobre este tema.
A profilaxia antibiótica, possui suas indicações de uso, e em diversas cirurgias consideradas limpas nem se faz necessária. Além disto a profilaxia termina ao fim do procedimento, não sendo necessária continuar a mesma após o término do procedimento.
A Comissão de Controle de Infecção Intra-Hospitalar (CCIH), que vai muito além dos médicos, é fundamental no desempenho positivo de qualquer hospital, visto que o uso indiscriminado de antibióticos, pode literalmente arruinar qualquer procedimento mesmo que bem feito. É importante lembrar que o potencial de evolução dos microrganismos à resistência antibiótica é muito superior à capacidade humana de desenvolver novos fármacos.
Um trabalho publicado no Journal of American College of Surgeon, nos ajuda a relembrar que nem sempre o que foi aprendido na época de formação médica se mantém como verdade nos dias atuais.
Análise retrospectiva dos procedimentos cólon-retal e seus diferentes esquemas antibióticos recomendado em 70 diferentes centros nos EUA entre 2013 e 2018. O desenho do estudo analisou o tipo de antibiótico utilizado e dividiu-se em duas classes: betalactâmico x não betalactâmico. O desfecho a ser observado foi a presença ou não de infecção de sítio cirúrgico.
Das 20.942 colectomias incluídas no estudos foram excluídos da análise: emergências, fora do esquema recomendado, duração de antibiótico maior que a recomendada e as perdas de acompanhamento; permanecendo ao final da análise 9.949 pacientes para a análise. Do total de pacientes analisados 9.411 (94,6%) utilizaram betalactâmico e 538 (5,4%) não betalactâmico. O índice global de infecção de sítio cirúrgico foi 6,3%. Como a infecção de sítio cirúrgico é multifatorial, foi realizado uma regressão logística para evidenciar estatisticamente quais fatores poderiam estar mais relacionados com infecção de sítio cirúrgico sendo que o uso de não betalactâmicos possuíam um risco relativo de 1,65 de desenvolver infecção quando utilizado o uso de betalactâmicos quando compara. Obesidade, uso de esteroides e grau de contaminação da ferida foram fatores que também estavam relacionados à infecção cirúrgica.
O resultado deste estudo demonstrou que os pacientes recebendo o esquema recomendado para profilaxia de cirurgia colorretal com betalactâmico apresentaram uma menor taxa de infecção se o esquema não contivesse betalactâmico . Os resultados na literatura são discrepantes quanto a este tema, com resultados semelhantes e díspares.
O uso de betalactâmico possui outras vantagens como custo e menor tempo necessário para a administração, concedendo uma melhor praticidade, além de melhores custos.
Ficar atendo para as recomendações da CCIH, visto que as recomendações variam entre hospitais. No entanto, dentro das opções sugeridas o cirurgião deve definir para o seu paciente qual a melhor opção e sempre que possível utilizar betalactâmico.
Um dilema seria o relato de alergia à penicilina, no entanto sabemos que a reação cruzada é rara, e na maioria das vezes a alergia relatada não é real. Uma busca ativa na história destes pacientes é comum já terem utilizado cefalosporina e/ou betalactâmicos orais para tratamento de infecções passadas.
Betalactâmico (n=9411, 94,6%) | Não Betalactâmico (n=538, 5,4%) |
Ampicilina + Sulbactam (690, 7,33%) | Clindamicina + Aztreonam ou Ciprofloxacino ou Gentamicina ou Levofloxacino (440, 81,78%) |
Cefazolina + Metronidazol (3528, 37,49%) | Metronidazol Ciprofloxacino ou Gentamicina ou Levofloxacino (98, 18,22%) |
Cefotetan (586, 6,22%) | |
Cefoxitina (2234, 23,74%) | |
Ceftriaxona (256, 2,72%) | |
Ertapenem (2117, 22,50%) |
Referências bibliográficas:
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