O emprego da ressonância magnética (RM) das sacroilíacas (SI) na avaliação de pacientes com suspeita de espondiloartrites proporcionou uma revolução na detecção precoce dessa doença. Devido à sua alta sensibilidade, pacientes estão recebendo diagnósticos ainda na fase não radiográfica, o que parece melhorar os desfechos relacionados a essas condições.
Apesar disso, a alta sensibilidade do exame também traz algumas consequências indesejadas. Em um texto previamente publicado no Portal PEBMED, comentei sobre um estudo que encontrou alterações nas SI de pessoas saudáveis durante a gestação e o puerpério. Essas alterações também podem ser encontradas em pacientes que praticam esportes com impacto no solo.
Recentemente, Renson et al. publicaram um novo estudo que avaliou o impacto da idade na ocorrência de alterações compatíveis com sacroiliíte na RM de SI de pacientes saudáveis.
Métodos
Trata-se de um estudo transversal que incluiu 95 pacientes saudáveis com idades entre 20 a 49 anos, que realizaram RM de SI e de coluna.
As imagens obtidas foram analisadas com relação à presença de edema da medula óssea (EMO) e lesões estruturais atribuíveis à sacroiliíte/espondiloartrite. Para a avaliação das lesões inflamatórias (EMO) e estruturais da SI, foi utilizado o escore SPARCC. Já para a avaliação das lesões da coluna, foram utilizados os escores SPARCC (índice de inflamação da coluna) e o CANDEN, respectivamente.
Além disso, após a análise das imagens pelos especialistas, os pacientes foram classificados com base no preenchimento da definição do ASAS (importante grupo de estudo das espondiloartrites) para sacroiliíte e espondilite.
Os dados obtidos foram comparados com os dados da coorte Be-GIANT, uma coorte belga de espondiloartrite inicial.
Resultados
Diversos pacientes saudáveis preencheram os critérios ASAS para uma RM positiva para espondiloartrite. Essa frequência foi maior nos pacientes com idade ≥30 anos (17,2%), sendo raramente observada em estratos mais baixos de idade (20 a 30 anos).
Dentre os quadrantes que mais frequentemente apresentaram EMO, destacam-se o anterossuperior (3,5% – predominantemente no sacro) e o posterossuperior (4,4% – também mais frequente na porção sacral).
Um outro dado interessante foi que erosões e metaplasia gordurosa na SI estavam presentes em todos os estratos de idade dos indivíduos saudáveis, acometendo 20% e 13,7% do total dos pacientes, respectivamente. Erosões, EMO e metaplasia gordurosa da coluna foram mais frequentes nos ≥40 anos, acometendo 39,3%, 35,7% e 28,6% dos pacientes, respectivamente. Nenhum paciente saudável apresentou três ou mais cantos brilhantes na coluna.
Os escores SPARCC e de lesões estruturais totais aumentaram progressivamente com a idade, se assemelhando ao dos pacientes da coorte Be-GIANT no estrato entre 40 e 49 anos.
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Comentários
Esse estudo nos mostra que precisamos ter muito cuidado na avaliação da RM no contexto das espondiloartrites. Para que possamos fazer uma interpretação adequada, devemos considerar a probabilidade pré-teste para a doença antes de solicitar o exame, uma vez que ele é frequentemente alterado em pacientes normais.
Mesmo lesões tidas como específicas para esse grupo de doenças, como erosões e metaplasia gordurosa, podem estar presentes em indivíduos saudáveis com uma frequência significativa. Isso se torna mais crítico com o passar da idade, especialmente no pacientes ≥40 anos.
Esse cuidado na interpretação do caso pode evitar que diagnósticos errados sejam feitos e, consequentemente, impedir que pacientes sem doença recebam tratamentos inadequados.