Qual é a relação entre o lúpus e insuficiência cardíaca?

O lúpus eritematoso sistêmico pode acometer diversos órgãos e em mais de 50% das vezes há envolvimento cardiovascular. Saiba mais.

O lúpus eritematoso sistêmico pode acometer diversos órgãos e em mais de 50% das vezes há envolvimento cardiovascular. Os estudos enfocam mais na ocorrência de pericardite, infarto agudo do miocárdio (IAM) e tromboembolismo venoso (TEV). Outras manifestações, como a insuficiência cardíaca (IC) e arritmias também acontecem, porém, estudos sobre esse assunto são poucos e com tempo de seguimento curto. 

Como a IC apresenta elevada morbidade e mortalidade é interessante ser avaliada no contexto do lúpus. Assim, foi feito um estudo recentemente publicado no JACC com o objetivo de avaliar o risco da incidência de IC nesta população, assim como o risco de outros desfechos cardiovasculares e mortalidade.

Relação do lúpus com insuficiência cardíaca

Características do estudo sobre lúpus

Foi um estudo de coorte prospectivo, nacional, com pacientes da Dinamarca, que tem registros com informações médicas de toda sua população. Os pacientes com diagnóstico de lúpus foram comparados a um grupo controle, com características semelhantes. 

De 1996 a 2018, foram identificados todos os pacientes que receberam diagnóstico de lúpus no país. Todos os que já tinha doença cardiovascular na ocasião foram excluídos. Para cada paciente foram selecionados quatro pacientes controle, com características semelhantes, sem lúpus e sem doença cardiovascular conhecida. Foram obtidos dados em relação a comorbidades e medicações de todos os pacientes incluídos. 

O desfecho primário era a ocorrência de IC e o secundário era a ocorrência de fibrilação atrial ou flutter, AVC isquêmico, IAM, TEV, um composto de implante de CDI, arritmias ventriculares e parada cardiorrespiratória, um composto de implante de marca-passo, bloqueio atrioventricular de segundo ou terceiro grau e disfunção do nó sinusal, endocardite e mortalidade por todas as causas. 

Os pacientes foram seguidos desde a data de inclusão até o desfecho de interesse, morte, emigração ou término do estudo. Houve necessidade de ajuste dos grupos pois a ocorrência de doença maligna e doença hepática foi estatisticamente maior nos pacientes lúpicos.

Resultados

No período do estudo, 4271 pacientes foram diagnosticados com a doença e, após aplicação dos critérios de exclusão, 3461 pacientes foram incluídos na análise. Após o diagnóstico, 36,3% passou a usar prednisolona, 34,4% hidroxicloroquina, 27,9% anti-inflamatórios não esteroidais, 11,5% azatioprina, 5,3% metotrexate e 3,1% outras drogas modificadoras de doença. Foram selecionados 13644 pacientes para o grupo controle. 

A idade média era 44,6 anos e 14,1% eram homens. O tempo médio de seguimento para o grupo com lúpus foi de 8,5 anos e para o grupo controle de 9,4 anos. O risco absoluto em 10 anos para o desenvolvimento de IC foi de 3,71% para o grupo com lúpus e 1,94% para o grupo controle, sendo que a ocorrência de IC foi significantemente maior no grupo com lúpus.

Nos primeiros 365 dias, a taxa de incidência por 1000 pessoas ano foi de 7,26 (IC 95%: 4,87 – 10,83) no grupo com lúpus e 1,33 (IC 95%: 0,84 – 2,12) no grupo controle e após 365 dias foi de 3,52 (IC 95%: 2,90 – 4,27) e 2,33 (IC 95%: 2,08 – 2,61) respectivamente. A incidência de IC foi maior nos pacientes mais jovens, quando comparado aos mais velhos. 

O tempo médio de seguimento dos pacientes que tiveram insuficiência cardíaca foi de 3,1 anos para os com lúpus e 4,4 anos para os do grupo controle. Pacientes com lúpus tinham menos doença cardíaca isquêmica e fibrilação atrial e mais hipertensão antes da ocorrência da IC comparado ao grupo controle. Além disso, eles receberam menos inibidores do sistema renina angiotensina aldosterona e beta bloqueadores. Não havia relato se a IC era com fração de ejeção reduzida ou preservada, o que pode justificar a diferença no uso de medicações específicas para IC.

Em relação a mortalidade, nos pacientes com IC e lúpus, a mortalidade por todas as causas foi maior que no grupo com IC sem lúpus (HR 1,5; IC 95%: 1,08-2,08) e, em relação aos desfechos secundários, pacientes com lúpus tiveram maior ocorrência de todos os desfechos, sendo que as taxas de ocorrência foram maiores nos primeiros 365 dias após o diagnóstico, independente da idade. 

Leia também: Como identificar e abordar o lúpus eritematoso neonatal?

Neste estudo observacional, pacientes com lúpus tiveram maior risco de desenvolver IC, principalmente no primeiro ano após o diagnóstico da doença, e entre os pacientes com IC, houve maior mortalidade nos que tinham diagnóstico de lúpus. Além disso, pacientes lúpicos também tiveram maior chance de ocorrência dos demais eventos cardiovasculares, sendo o mais comum o tromboembolismo venoso, o que está de acordo com estudos prévios. 

Essas informações são bastante interessantes e nos mostram que esses pacientes merecem uma maior atenção em relação a avaliação cardiovascular. Porém mais estudos são necessários para confirmar esses achados e avaliar se tratamento mais intensivo nesta população levaria a diminuição da mortalidade encontrada.  

Referência bibliográfica: 

J Am. Coll Cardiol. Cardiovascular Outcomes in Systemic
Lupus Erythematosus. 202. 1;77:1717
27. doi: 10.1016/j.jacc.2021.02.054

 

 

 

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