A gota é a artropatia inflamatória mais frequente em nosso meio, acometendo principalmente homens de meia-idade. Com a progressão da doença, ocorre dano estrutural irreversível à articulação, podendo levar à disfunção física significativa e consequente queda na qualidade de vida e na produtividade no trabalho. Isso gera altos custos, tanto diretos e indiretos.
Safiri et al. publicaram um trabalho no qual avaliaram a prevalência e incidência anual de gota, bem como o número de anos vividos com disfunção. Além disso, o estudo também teve como objetivo identificar os fatores de risco associados a essas complicações, avaliados nos âmbitos global, regional e nacional (de 1990 a 2017).
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Métodos do estudo sobre gota
Trata-se da publicação de dados do Global Burden of Disease (GBD). Os dados foram extraídos do estudo GBD 2017.
Pesquisadores e experts de todo o mundo colaboraram com o GBD, permitindo a análise de dados capazes de estimar a prevalência global, incidência anual, anos vividos com disfunção e seus fatores de risco.
Resultados
Os autores encontraram uma prevalência pontual global ajustada para a idade de 510,6 (IC 95% 455,6-570,3) casos para cada 100.000 habitantes e uma incidência anual de 91,8 (81,3-104,1) casos para cada 100.000 habitantes, no ano de 2017. Isso representa um aumento de 7,2% e 5,5%, respectivamente, quando comparados com o ano de 1990.
Além disso, a taxa de anos vividas com disfunção ajustada para a idade foi de 15,9 (IC 95% 10,7-21,8) casos por 100.000 habitantes, representando um aumento de 7,2% em comparação com o ano de 1990.
Os autores identificaram que o impacto da gota é maior em países desenvolvidos, especialmente na Nova Zelândia e Austrália (região conhecida pela sua alta prevalência de gota) e nos Estados Unidos.
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Dentre os fatores de risco associados aos anos de vida vividos com disfunção, os principais foram obesidade (32,4% do burden total) e doença renal crônica (15%).
Comentários
Esse trabalho demonstrou um aumento na prevalência e incidência da gota ao longo dos anos. Isso provavelmente se deve ao aumento das populações urbanas vivendo em grandes centros, que gera mudanças comportamentais e alimentares que favorecem a obesidade e fatores de risco cardiovascular.
Um dado interessante que esse estudo traz é que, apesar da melhora no entendimento da doença e da existência de guidelines específicos para o manejo da gota, com alvos terapêuticos bem estabelecidos, o número de anos vividos com disfunção aumentou consideravelmente (7,2%). Isso reforça a importância de se conhecer sobre a doença, educar a população sobre as formas de prevenção/redução do dano causado e de se buscar sempre atingir os alvos terapêuticos propostos pelas recomendações vigentes.
Referências bibliográficas:
- Safiri S, Kolahi A-A, Cross M, eta l. Prevalence, incidence, and years lived with disability due to gout and its attributable risk factors for 195 countires and territories 1990-2017: a systematica analysis of the Global Burden Disease Study 2017. Arthritis Rheumatol. 2020. doi: 10.1002/art.41404.