Qual é o tempo ideal da consulta na atenção primária?

Em função da alta demanda, é mister determinar o tempo médio para cada consulta: de quanto em quanto tempo vão marcar seus pacientes? Quantos pacientes você tem para atender?

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A atenção primária é um dos pilares da medicina moderna e visa, entre outros, garantir ao paciente atenção integral à saúde, preventiva e curativa, próximo à sua casa, com envolvimento de sua família e dos fatores locais no processo saúde e doença. Está presente em várias partes do mundo, em diferentes políticas de saúde e com nomenclatura diversa, incluindo “médico de família”, “general practitioner” (GP) e “primary care physician”.

Um dos maiores desafios para o médico que escolhe atuar na atenção primária é a necessidade do conhecimento de diferentes áreas do saber, como clínica geral, pediatria e obstetrícia. Além disso, a demanda por atendimento é grande e a complexidade dos pacientes pode, literalmente, ir de 8 a 80! Num mesmo dia você pode fazer uma puericultura em uma criança hígida de 2 anos e o atendimento a um pé diabético, em um senhor obeso, demenciado e coronariopata.

Em função da alta demanda, é mister determinar o tempo médio para cada consulta: de quanto em quanto tempo vão marcar seus pacientes? Quantos pacientes você tem para atender? Porém, com complexidade tão variável, fica difícil estimar. Recentemente, um grupo de pesquisadores europeus realizou uma meta-análise com o objetivo de avaliar o tempo médio de consulta na atenção primária em diferentes partes do mundo e tentar conhecer os fatores relacionados. Há um tempo ideal? Mais tempo significa melhor atendimento? Países mais ricos têm consulta mais longa? Prepare-se: no Brasil, não estamos tão mal quanto pensamos!!

O estudo avaliou seis idiomas em 67 países, incluindo o Brasil. O tempo médio de consulta variou de 48 segundos (isso mesmo, não foi erro de digitação) em Bangladesh a 22,5 min na Suécia (os três países da escandinávia estão entre os cinco primeiros no tempo de consulta… por que será?). No Brasil, esteve entre 7 e 8 minutos, sendo avaliados cinco estudos, nas cidades de Ribeirão Preto, Fortaleza, Campo Grande, Ponta Grossa e o Estado da Paraíba.

No caso brasileiro, os estudos foram na maioria inquéritos farmacêuticos para avaliar qualidade e quantidade da prescrição e, entre outros indicadores, foram avaliados o tempo médio de consulta. Uma observação importante é que em 18 países, cuja população representa 50% da população mundial, o tempo de consulta foi de meros 5 minutos. Na China, por exemplo, acredita-se que um dos fatores é que na atenção primária de lá não há agendamento. É livre demanda, como nas nossas emergências, o que leva muitos médicos a atenderem até 90 pessoas em 12 horas de trabalho!

Mais do autor: ‘Como cuidar dos pacientes que vivem na emergência sem necessidade?’

Um maior tempo de consulta esteve relacionado com maior satisfação médica e menor risco de burnout. Houve, ainda, associação com menor risco de internação por diabetes, mas não por asma ou DPOC. O tempo de consulta não esteve associado com maior nem menor taxa de solicitação de exames complementares e, pasmem, não houve associação com a satisfação dos pacientes! Por outro lado, muitos estudos incluídos na meta-análise mostraram que uma consulta muito curta está associada com polifarmácia, uso excessivo de antibióticos e comunicação inadequada/insuficiente com o paciente, que não entende o que tem, nem o que deve fazer.

Exceto a Escandinávia, outros países ricos tiveram tempo de consulta entre 10 e 20 minutos: Inglaterra (10 min), Japão (12 min), Austrália (15 min) e EUA (20 min). Mas qual será o tempo ideal? O equilíbrio entre o ideal e o possível é difícil de atingir em muitas áreas de nossas vidas.

No caso do sistema de saúde, certamente uma consulta de 1 hora representaria o ideal: há tempo de ouvir o paciente, examiná-lo com calma e orientar o tratamento. É por isso que este é o tempo na maior parte dos consultório privados de clínica médica sem planos de saúde. Mas conseguimos pagar por isso? Porque neste modelo, o número de médicos necessários para cobrir a população seria bem maior. Nosso PIB dá conta?

Por outro lado, certamente 15 min para um paciente com mais de uma comorbidade é claramente insuficiente. Se houvesse um modelo de atenção multiprofissional funcionando plenamente, com consulta de nutrição, enfermagem e fisioterapia, o tempo poderia ser reduzido. Mas sabemos que esta não é a realidade. Pensar entre 20 e 30 minutos talvez seja o caminho inicial. Para termos certeza, é preciso implementar um projeto piloto e medir se este tempo “equilibrado” se reverte em maior satisfação para paciente, menor burnout para médico e maior taxa de sucesso no controle das doenças, o que envolve medir complicações, solicitação de exames e adesão ao tratamento.

E para você, qual o tempo ideal da consulta médica? Deixe sua opinião nos comentários!

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Referências:

  • Irving G, Neves AL, Dambha-Miller H, et al International variations in primary care physician consultation time: a systematic review of 67 countries BMJ Open 2017;7:e017902. doi: 10.1136/bmjopen-2017-017902

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