Qual o desfecho de pacientes com Trauma Torácico Grave admitidos em UTI?

O trauma constitui uma das principais causas de morte, hospitalização em UTI e incapacidade em pacientes adultos.

O trauma constitui uma das principais causas de morte, hospitalização e incapacidade em pacientes adultos. Normalmente pacientes vítimas de trauma grave evoluem com necessidade de cuidados intensivos por longos períodos. Dentre as áreas anatômicas mais acometidas em politraumas graves, destaca-se a região torácica, já bem estabelecida como uma das principais responsáveis pela mortalidade no atendimento pré-hospitalar e hospitalar precoce. Todavia, não está igualmente claro o impacto que o trauma torácico exerce na mortalidade de pacientes politraumatizados admitidos em UTI, bem como os fatores de risco associados ao aumento da morbimortalidade nesse perfil de pacientes.

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Análise recente

Objetivando-se determinar os resultados de pacientes vítimas de trauma torácico grave (TTG) admitidos em UTI, assim como possíveis fatores de risco associados à mortalidade desses pacientes, estudo espanhol multicêntrico, prospectivo, observacional foi realizado através de dados de 52 UTIs. Todos os pacientes com AIS (Abbreviated Injury Scale) ≥ 3 em tórax foram considerados portadores de TTG, sendo incluídos no estudo.

Do total de 9.790 pacientes admitidos em UTI vítimas de trauma, 3.821 (39%) apresentaram-se com AIS ≥ 3 em região torácica (grupo TTG), tendo o restante sido incluído no grupo controle (N controle = 5.969). A idade média foi 49,88 anos e 77,6% eram do sexo masculino.

Cirurgias cardiotorácicas e abdominais de urgência (< 24 horas) foram mais frequentes no grupo TTG (4,34% e 8,35% vs 0,37% e 4,72% do grupo controle, respectivamente). Já as neurocirurgias de urgência foram mais frequentes no grupo controle (16,32% vs 5,78%). Em relação à transfusão de hemocomponentes, 30,46% e 22,86% do grupo TTG receberam concentrados de hemácias e plasma fresco congelado nas primeiras 24 horas, respectivamente. No grupo controle as porcentagens foram menos expressivas (19,62% e 14,48%, respectivamente).

Angioembolizações e traqueostomias também foram mais realizadas no grupo TTG (7,4% e 13,17%, respectivamente), tendo esse grupo apresentado porcentagem maior de complicações. As mais comuns foram falência respiratória (39,94%), infecção nosocomial (23,34%), injúria renal aguda (22,53%), rabdomiólise (22,46%), coagulopatia associada ao trauma (20,14%). Hipertensão intracraniana foi a única complicação mais comum no grupo controle (20,37% vs 11,44%), já que este também apresentou AIS-cabeça mais elevado.

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Quanto à duração do tratamento, o grupo TTG apresentou maior permanência em ventilação mecânica (10,58 dias, em média) e em UTI (9,97 dias, em média), mas, em contrapartida, este grupo teve menor mortalidade intra-hospitalar (N=11,81%) e em UTI (N=10,43%), quando comparado ao controle (15% e 12,95%, respectivamente). Observou-se também associação entre mortalidade e presença de trauma craniano grave concomitante no grupo TTG, visto que a mortalidade intra-hospitalar foi de 5,63% para 25,71% no grupo TTG sem e com trauma craniano grave concomitante, respectivamente.

Os fatores de risco associados à mortalidade no grupo TTG foram: idade, gravidade do trauma avaliado pelo NISS (New Injury Severity Score) e AIS-cabeça, instabilidade hemodinâmica, intubação orotraqueal pré-hospitalar, injúria renal aguda e falência múltipla de órgãos.

Em resumo, o presente estudo mostrou que trauma torácico grave foi associado à baixa mortalidade em pacientes admitidos em UTI. Esse resultado pode está relacionado a medidas como drenagem torácica, ventilação mecânica protetora, extubação precoce, uso de ECMO (oxigenação por membrana extracorpórea), fixação de costelas e analgesia local e sistêmica.

O que levar para casa

O manejo de pacientes politraumatizados ainda constitui um desafio para equipes hospitalares pela sua complexidade e necessidade de intervenção precoce e efetiva. O trauma de tórax grave, embora influencie de forma importante na mortalidade pré-hospitalar, se bem manejado, após estabilização e transferência para UTI, parece não impactar significativamente na mortalidade tardia desse perfil de pacientes. Daí a importância de um manejo eficaz no atendimento inicial para viabilizar a estabilização do paciente.

Referências bibliográficas:

  • Barea-Mendoza J, Chico-Fernández M, Quintana-Díaz M, Pérez-Bárcena J, Serviá-Goixart L, Molina-Díaz I, et al. Risk Factors Associated with Mortality in Severe Chest Trauma Patients Admitted to the ICU. Journal of Clinical Medicine. 2022;11(1):266. doi10.3390/jcm11010266

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